CPI, Marcola e holofotes
Representantes do governo e da oposição se ombreiam no circo parlamentar montado pela CPI do Tráfico de Armas. O Estadão condena hoje, como mera demagogia com objetivos midiáticos, a idéia de ouvir em sessão pública o traficante Marcola.
O fundo vem à tona
Aos poucos os principais jornais retomam a trilha dos grandes debates nacionais. Talvez porque a lógica do ano eleitoral se imponha, talvez porque os acontecimentos recentes em São Paulo tenham aguçado um certo sentido de urgência.
Nos últimos dias, temas recorrentes, como desigualdades sociais e regionais, educação, saúde, infra-estrutura, rumos da economia, vêm sendo trabalhados com mais profundidade.
É bom que a imprensa o faça, mas isso não resolve a perda de credibilidade programática dos partidos.
Em prol do entendimento
Alberto Dines se manifesta a favor de um entendimento imediato entre os dois partidos que dirigem o país e os maiores estados da Federação.
Dines:
– Se reeleito, o presidente Lula quer fazer um acordo entre o PT e PSDB, foi o que disse ontem, domingo, na Folha o repórter político Kennedy Alencar. Muito bem, presidente, vá em frente. Mas não espere até outubro. Tente um acordo já. Imediatamente. Mas, presidente Lula, esqueça a idéia de coalizão política, isso agora pode soar como trambique eleitoral. Pense apenas na violenta agressão sofrida pelo Estado brasileiro há exatos 15 dias nas ruas de São Paulo. Pegue o celular, presidente Lula, ligue para o seu antecessor, o presidente FHC, e combine com ele um encontro urgente no palácio do Planalto para discutir um Pacto Nacional contra o Crime Organizado. Esta é uma emergência, o país está sendo atacado internamente por um inimigo solerte e poderoso. E quando os países estão em guerra, os partidos políticos não incluem a guerra nas disputas eleitorais. Foi assim na Inglaterra e foi assim nos Estados Unidos no segundo conflito mundial. E assim terá que ser no Brasil se de fato desejamos enfrentar o problema da violência em vez de deixá-lo como herança aos nossos filhos e netos. Sabemos que os políticos preferem engalfinhar-se com os adversários, sabemos que os repórteres e comentaristas políticos adoram fazer a cobertura de combates políticos, cobrir uma trégua é muito chato. Chato porém vital, imperioso cobrir uma trégua. Uma coisa é certa: se adiarmos o acordo PT-PSDB para depois das eleições podemos ter eleições complicadas pelo inimigo comum. Ele está atrás das grades mas não perdeu a iniciativa.
Justiça com mão pesada
O Globo se queixa hoje, com toda razão, de ter sido obrigado a publicar um direito de resposta concedido ao governo do estado do Rio de Janeiro muito maior do que o material que o motivou.
No inicio do mês, o jornal publicou denúncias sobre ONGs que receberam verbas oficiais e apoiaram a pré-campanha do ex-governador Anthony Garotinho. A reportagem vinha acompanhada de um quadro com seis perguntas sobre o assunto. O jornal recebeu documento do advogado de Garotinho com respostas e decidiu publicar na íntegra as perguntas e as respostas. O material ocupou uma página inteira no dia 4 de maio.
Um ministro do Tribunal Superior de Justiça mandou o jornal republicar o material. Sai hoje em meia página. O Globo afirma na abertura que pela primeira vez uma decisão judicial obriga um veículo a publicar uma resposta muito maior (cerca de dez vezes) do que a suposta ofensa.
Tanure avança
A Folha de S. Paulo dá nesta segunda-feira, 29 de maio, na coluna de Mônica Bergamo, em tom neutro, uma notícia preocupante para quem reivindica bom jornalismo. Abre aspas: “Passo a Passo. O empresário Nelson Tanure, do grupo Docas, quer aumentar sua participação no mundo da comunicação. Já assinou pré-acordo para se associar à família Martinez no canal de TV CNT, do Paraná. Tanure comanda o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil”, fecha aspas.
Para se ter uma idéia do estado desses jornais, a Gazeta Mercantil desta segunda-feira não diz que Álvaro Uribe venceu a eleição na Colômbia, diz que ele é “favorito”.
Valor descartável
O jornal Valor consegue hoje a proeza de publicar uma folha aleijada. Ligou as páginas 13 e 14 do primeiro caderno a uma aba publicitária que envolve a primeira página. Se o leitor distraído descartar a folha, joga fora, junto, as cartas dos leitores, dois artigos e uma reportagem com três matérias de apoio.
Realidade e ilusões urbanas
Enquanto a Folha sustenta a batalha contra suposta violência assassina de policiais, o Estadão, que deu no sábado importante entrevista de Nagashi Furukawa, tenta voltar a uma normalidade urbana que só existe nas páginas do jornal.
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Leitor, participe. Escreva para noradio@ig.com.br.