Crise com ingrediente macabro
A crise política junta a cisão entre o presidente Lula e o deputado José Dirceu, principal construtor da estrutura menos militante adquirida pelo PT e principal dirigente da campanha eleitoral de 2002, com outras articulações. Essa primeira já bastaria para tornar a situação muito complexa e tensa. Mas a acareação entre os irmãos do prefeito Celso Daniel e Gilberto Carvalho, assessor de dileto de Lula, pôs novamente em evidência outro ingrediente politicamente explosivo. Que abriga uma vertente criminal macabra, com oito mortes.
Os dois grandes jornais paulistas mostram-se nesta quinta-feira, 27 de outubro, inclinados a acreditar mais nos irmãos do prefeito assassinado do que no assessor de Lula. A Folha de S. Paulo e o Estado dão destaque ao pedido de ação de improbidade feito por um procurador federal de Brasília contra José Dirceu.
Segue o combate
Hoje haverá na Câmara mais um round do combate entre o deputado Dirceu e uma maioria de parlamentares, jornalistas e outros ditos formadores de opinião que insistem em considerá-lo responsável pelas irregularidades de que é acusado.
PSDB ainda poupado
O PSDB joga lenha na fogueira para tentar compensar o erro de não ter agido com lucidez logo que surgiram denúncias de irregularidade na campanha derrotada do senador Eduardo Azeredo a governador de Minas Gerais, em 1998. Mas a imprensa ainda hesita em dar a essa parte das operações de Marcos Valério o mesmo peso dado a suas travessuras mais recentes.
Moralismo
Hoje o deputado Roberto Brant relembra na coluna de Teresa Cruvinel, no Globo, que os surtos de moralismo na política costumam ter conseqüências desastrosas. Menciona os ataques a Juscelino Kubitschek por Jânio Quadros, a renúncia deste e em seguida o golpe de 64. Esses acontecimentos poderiam ter tido outro desfecho, é claro, mas a advertência faz sentido.
Vexame
O Alberto Dines pergunta qual seria o nome do furacão político iniciado ontem na CPI dos Bingos com a acareação entre o assessor do presidente e os irmãos do ex-prefeito Celso Daniel. Dines constata que outro escândalo ficou fora das manchetes. Fala, Dines.
Dines:
– Mauro, ontem tomou posse o substituto do Senador João Capiberibe, PSB do Amapá, afastado por decisão do Supremo que comprovou que ele e a mulher, deputada pelo PSB, compraram dois votos no valor de 29 reais cada. Não são 29 milhões, nem 29 mil. São 29 reais. Tudo bem, infração é infração, independe do valor. Mas na quarta-feira deu-se algo inusitado no plenário do Senado: senadores de todos os partidos, oposição e governo, pediram ao presidente da Casa que não consumasse o afastamento a fim de dar mais tempo ao acusado para preparar a sua defesa. Renan Calheiros, o homem do sim, bateu pé e disse não. Ora, Renan Calheiros é do PMDB; o senador que ocupará o lugar de Capiberibe também é do PMDB. Mauro, agora advinha qual foi o senador que orquestrou a derrubada de Capiberibe? José Sarney, inimigo do ex-senador, também do PMDB, vice-rei do Amapá. A imprensa está atarefada demais para fazer deste episódio um furacão político. Pena. Não fosse assim, ele poderia ser batizado com o nome de Vexame.
O homem da mala
Anteontem, terça-feira (25/10), o Projor, entidade mantenedora dos Observatórios da Imprensa, entregou ao vice-procurador geral da República Roberto Monteiro Gurgel Santos uma pesquisa que mostra a posse indevida, por parlamentares, de emissoras de rádio e televisão, que são concessões públicas.
Uma pesquisa mostrou deputados que eram ao mesmo tempo, em 2003 e 2004, donos ou sócios de concessões e integrantes da comissão da Câmara que vota as concessões. Entre os que aparecem no estudo, coordenado pelo jornalista Venício de Lima, está o deputado João Batista Ramos da Silva, expulso do PFL de São Paulo após ser preso em julho, no aeroporto de Brasília, com mais de 10 milhões de reais em sete malas de viagem. O deputado é importante na estrutura da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo. João Batista é titular da concessão de cinco emissoras de rádio e duas estações de televisão em quatro estados brasileiros.
Não é um desconhecido da Procuradoria Geral da República, onde estão em curso várias investigações sobre suas atividades.
Feridas argentinas
Só o Globo noticia que a Justiça argentina mandou prender ontem 12 militares da reserva acusados de participar do assassinato do jornalista Rodolfo Walsh, em 1977. Na Argentina houve reabertura de processos que tinham sido brecados pelas anistias dadas após 1985. Walsh foi um jornalista corajoso, que pagou com a vida por ter denunciado torturas e assassinatos.