Crise de altos e baixos
O presidente Lula começou às oito horas uma entrevista para emissoras de rádio. Daqui a pouco será feita, provavelmente, a contabilidade das menções do presidente ao ministro Antonio Palocci e à ministra Dilma Roussef.
Tenta-se decifrar para que lado pretende marchar o presidente em meio a uma discussão que envolve tanto os altos rumos da política econômica como acusações de baixo uso de administrações públicas.
Entre fatos e especulações
O Alberto Dines constata que a mídia parece não captar direito a evolução dos acontecimentos políticos. Fala, Dines.
Dines:
– Mauro, será que a mídia está conseguindo refletir exatamente o que está acontecendo nos bastidores do “Caso Palocci”? Parece que não. Ontem o mercado reagiu muito bem à fala do ministro. É bom explicar por que: entre outras coisas porque o ministro contestou abertamente as doutrinas da ministra Dilma Roussef e disse com todas as letras que quem manda na economia é ele. Mas ontem mesmo alguns comentaristas começaram a especular a partir dos afagos que o presidente Lula deu na ministra Dilma numa solenidade palaciana. Logo surgiu a teoria de que o presidente aumentava a fritura de Palocci. Ora, desta vez os assessores do presidente estão adotando uma receita equilibrada: não desautorizam o ministro da Fazenda, mas também não desgastam a ministra chefe da Casa Civil. O governo está pensando em todas as eventualidades, quer apenas garantir-se. Já os comentaristas querem garantir uma temperatura quente. E na falta de fatos concretos, servem-se muito bem das especulações.
Lula se torna enigmático
Dines: Clovis Rossi escreve na Folha de S. Paulo nesta sexta-feira, 18 de outubro, que o país vive sua primeira crise on-line, e que informação on-line exige emoções fortes diárias. Eu diria que qualquer meio de comunicação procura responder aos acontecimentos com a maior rapidez que sua base tecnológica lhe permite. Uns fazem isso com mais objetividade, outros com mais sensacionalismo.
Mas convém voltar ao que você disse no início: parece que a mídia não consegue refletir exatamente o que está acontecendo nos bastidores do caso Palocci. Não consegue devido a suas limitações e porque é mesmo difícil.
Hoje, Miriam Leitão cita no Globo dois economistas céticos em relação às motivações do presidente. Para eles, Lula tem demonstrado não acreditar na política econômica mantida pelo Ministério da Fazenda. Acham que ele fez as opções que fez, no início do governo, por medo de uma crise, mas não por convicção.
Para inglês ver
Palocci ganhou apoio explícito da revista The Economist que circula hoje. Mas isso não resolve sua vida.
A crise de Chauí
A professora Marilena Chauí voltou a dizer que a crise, literalmente, “é um produto da mídia”, a serviço da classe dominante. Isso cabe na construção intelectual que a professora utiliza, mas não na realidade dos fatos.
Anti-racismo e mídia
O senador Paulo Paim, do PT gaúcho, é o autor da proposta de Estatuto da Igualdade Racial que o Senado aprovou e o presidente Lula pretende sancionar no domingo, Dia da Consciência Negra. Paim acha que a imprensa tem um papel decisivo na luta contra a discriminação e o racismo. Ilustra com um episódio recente a limitação da cobertura jornalística sobre a questão.
Paim:
– Na Rádio Bandeirante de Porto Alegre, eu falava do Estatuto, e uma senhora ligou para lá e contou a seguinte história. “Eu, quando jovem, namorei um homem negro. Fiquei grávida dele”. Ela contou no ar, isso. “Fiquei grávida dele e meus pais, meu pai e minha mãe, moro no Passo da Areia”, deu o nome completo dela, “meu pai e minha mãe me espancaram, me espancaram até ter segurança de que eu tinha abortado a criança, e de fato abortei. Hoje meu filho teria 30 anos”. Quer dizer, um fato como esse, era de ter uma repercussão até internacional, mas acaba não sendo dada a devida divulgação. O que eu recebo de denúncia, aqui no gabinete, mas não tem espaço para você debater isso. Não tem espaço para você mostrar, uma cobertura que mostre que é um problema, existe.
Mauro:
– Esse foi o senador Paulo Paim. Ontem foram divulgados resultados de uma pesquisa que mostra a mulher negra brasileira em situação de extrema desvantagem no mercado de trabalho.
Até a próxima irrupção
O noticiário sobre a crise na França entra em hibernação, enquanto os problemas socioeconômicos que a motivaram não tiram férias.