Debate paralelo e parcial
A Folha de S.Paulo postou no seu site, na terça-feira, um conjunto de justificativas para a publicação de fotografias chocantes ou de gosto duvidoso.
A iniciativa claramente é uma resposta às críticas que o jornal recebeu por haver exibido, no sábado, uma imagem do assassino que massacrou crianças no Rio de Janeiro, em pose de pistoleiro, com a arma apontada para a câmera.
Com um texto curto e um vídeo, o jornal coloca seu editor de fotografia e dois repórteres fotográficos para comentar a entrega do prêmio Pulitzer a fotógrafos do Washington Post, que retrataram o ultimo terremoto no Haiti, com imagens de cadáveres e feridos.
Algumas das opiniões expostas merecem pelo menos um pouco mais de contextualização.
“É normal que haja um grande investimento em tragédias”, diz um deles. “Causa ressonância no público”.
Pode causar também repugnância, mas isso deve ser apenas efeito colateral.
Outra pérola; “O que tange essas decisões é a informação. Ocultar as mortes de haitianos é como querer ocultar a própria tragédia.”
Ou: “chocar o leitor, para que ele faça uma reflexão sobre a tragédia”.
Faltou lembrar que alguns jornais americanos publicaram, sim, imagens fortes do terremoto no Haiti, mas havia um contexto no qual todas as imagens eram de destruição. Não há, nas fotos premiadas, a aparente intenção de chocar.
Também é conveniente lembrar que a imprensa não expôs cadáveres ou pedaços de corpos das vítimas do atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York.
Talvez, então, devêssemos colocar em debate as distinções que os jornalistas fazem entre vítimas e vítimas.
Uma tragédia no Haiti não tem o mesmo valor humanitário de uma tragédia em Nova York ou Londres?
Além disso, que tem tudo isso a ver com a irresponsável escolha da foto do assassino do Realengo para enfeitar a primeira página do jornal?
(Colaborou Tatiane Klein)
Um passo adiante
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– No bojo das discussões sobre um marco regulatório para as comunicações, e em meio ao crescente debate acerca dos mecanismos de disseminação da banda larga no país, foi lançada ontem, na Câmara dos Deputados, em Brasília, a Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular.
Articulada por iniciativa da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), a frente nasce com uma longa lista de objetivos. Entre eles se destacam a luta contra a censura prévia, seja governamental ou judicial; a regulamentação dos artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que há 23 anos esperam por uma legislação que lhes dê efetividade; o apoio ao debate sobre a criação de conselhos de comunicação nos estados; e a defesa da universalização do serviço de banda larga.
Uma frente parlamentar é uma associação suprapartidária destinada a aprimorar a legislação referente a um tema específico, conforme definição disponível no site da Câmara dos Deputados. Na primeira coordenação da nova frente, no entanto, só aparecem parlamentares da base governista – exceção feita a um representante do PSOL. De todo modo, os integrantes do movimento reivindicam um caráter plural para os meios de comunicação em operação no país e defendem que estes devem refletir a diversidade da sociedade como condição para o pleno exercício da democracia.
Este é o ponto: não haverá democracia que se preze sem que estejam garantidas as liberdades de opinião e de expressão e, sobretudo, o direito da cidadania a uma comunicação veraz e equânime.
Isso se aplica, em especial, aos canais de radiodifusão que operam sob regime de concessão pública. Nesse aspecto, a Constituição brasileira é clara. Regulamentar os seus dispositivos concernentes à comunicação é o primeiro passo. O que, a esta altura, já será um grande avanço.