Mais prisões
As manchetes do Globo e da Folha se encaixam hoje. Diz o Globo: “Governo quer construir 187 presídios especiais. Menores e jovens até 24 anos teriam unidades diferenciadas”. Diz a Folha: “A cada hora, 7 jovens são presos no país”. Onde o leitor diria que estará o foco do governo? Bom tema para o debate da Campanha da Fraternidade da CNBB em 2009, que será sobre segurança. A escolha do tema foi feita após os ataques do PCC em São Paulo, no ano passado, segundo o Estadão.
Discurso oficial e jornalismo
Durante o fim de semana, a batalha saiu das vielas do Alemão para as páginas de jornais e revistas. Na Veja, Sérgio Cabral Filho deu entrevista na linha do combate intimorato à criminalidade. A Veja lhe fez o favor de, ao recapitular os governadores das duas últimas décadas, omitir Moreira Franco e Marcello Alencar, como se esses não tivessem feito uma política de segurança pública calamitosa.
No Estadão de ontem, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, constrói uma narrativa que reinventa os fatos ocorridos desde o início do ano. É a mesma narrativa sustentada pelo governador e engolida prazerosamente por parte da mídia. Mas a principal sinalização de choque com chefões do crime foi tomada no dia 5 de janeiro, quando integrantes do governo anterior tiveram papel decisivo na transferência de 12 condenados do Rio para o presídio federal de Catanduvas.
O ombudsman da Folha, Mário Magalhães, não se enganou, ontem, quando escreveu: “É falso o dilema entre Estado omisso e Estado sem limite. Ambos são fora-da-lei. No Estado de Direito, a lei impõe e limita. O jornalismo fiscaliza”. Hoje, na Folha, a antropóloga Alba Zaluar põe o dedo na ferida das matanças indiscriminadas e da corrupção policial, fatores que afastam a confiança da população.
Remoto mundo islâmico
Alberto Dines fala do pequeno destaque, corrigido parcialmente hoje, dado no fim de semana a assuntos do mundo islâmico.
Dines:
– O noticiário internacional dos próximos dias deve girar em torno de dois episódios, ambos ocorridos no mundo islâmico e nenhum deles estava na primeira página dos nossos jornais de ontem, domingo. No sábado um caminhão-bomba explodiu no norte do Iraque, matou 150 pessoas e feriu outras 250, a maioria xiita. O New York Times avalia que foi a ação terrorista mais sangrenta desde a invasão do país em 2003. O assunto mereceu uma notinha nas páginas internacionais da Folha, ganhou algum destaque nas páginas internas do Estadão e do Globo mas não conseguiu derrubar o mito de que no domingo o leitor brasileiro quer capas de jornais leves para não se chatear. Na terça-feira passada um clérigo radical invadiu a Mesquita Vermelha em Islamabad, Paquistão, onde mantém centenas de reféns e agora ameaça resistir até o fim com seus mil militantes. Prevê-se um banho de sangue já que os rebeldes não aceitaram o ultimato do presidente Musharraf. Neste caso, a desatenção da nossa imprensa é ainda maior: Estadão e Globo deram pequenas notícias e a Folha nem isso. Nenhum dos dois fatos afeta o Brasil diretamente, é verdade, mas o agravamento da situação no Oriente mexe com o mundo inteiro. Supõe-se que quem lê jornal quer saber das coisas, a não ser que o país inteiro já tenha aderido à fórmula do “relaxe e goze”. Neste caso, melhor assistir às telenovelas.
Chávez agora pressiona Globovisión
A bola da vez na Venezuela, informa hoje o Estadão, é o canal de notícias Globovisión. O presidente da emissora, Guillermo Zuluaga, distribuiu aos jornais documento em que denuncia perseguições por parte do governo de Hugo Chávez. Ao mesmo tempo, a cassada RCTV anuncia que se prepara para transmitir por um canal de uma operadora de televisão por assinatura.
A famosa convergência
As redes de TV aberta que se cuidem. O Estadão noticia hoje que o Brasil ultrapassou a barreira de 150 milhões de usuários de serviços de telecomunicações. Há 102 milhões de clientes da telefonia celular e previsão de que o acesso a banda larga dobre até 2010. O discurso sobre a convergência começa a adquirir feições mais nítidas.
Cultura do desperdício
Não faltam avisos a respeito da possibilidade de racionamento de energia elétrica. Só muda a data da previsão, que oscila entre 2009 e 2011. Embora a Sabesp prefira silenciar, o Painel da Folha informou na semana passada que o nível dos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo, afetados pela estiagem, começa a preocupar.
Existe uma discussão recorrente sobre a capacidade de gerar e distribuir energia, e de captar, tratar e distribuir água, mas a discussão é zero a respeito da mudança dos padrões de consumo.