Do caseiro ao Planalto
O relato da Folha de S. Paulo sobre a crise da quebra do sigilo do caseiro passa pelo Palácio do Planalto. O título é: “Lula se reuniu com Palocci e Bastos após acerto de defesa”.
É uma situação complicada para o presidente da República. De um lado, é difícil supor que ele não sabia. De outro lado, se não sabia, seus auxiliares não cumpriram corretamente o dever de informá-lo. E ele é o legítimo detentor do mandato popular.
Advogados e ética
É curioso que se publique sem reparos a hilariante declaração do presidente da OAB, Roberto Busatto, segundo a qual “advocacia sem ética não é advocacia”. Ele se referia aos advogados de Suzane von Richthofen. O Estadão publicou ontem declaração de um ex-presidente do Tribunal de Ética da OAB paulista, Raul Haidar, segundo a qual é forçar a barra pedir a punição dos advogados de Suzane.
Mais curioso é que os veículos de mídia não tenham feito ainda nenhum paralelo entre a atividade desses advogados e a do advogado Márcio Thomaz Bastos em episódios rumorosos da crise de corrupção.
A exploração da história de Suzane é um caso de polícia, em matéria de sensacionalismo de todos os veículos, mas talvez haja algo sério por trás disso. A impotência diante das grandes farsas montadas nos píncaros do Executivo, do Legislativo e do Judiciário produz mais raiva para ser extravasada. Surge então uma criminosa confessa, aparentemente cínica e interesseira. Mas, cuidado: nada substitui o julgamento num tribunal.
Há também, entretanto, algo de positivo: como no caso da mansão da República de Ribeirão Preto, a indignação é provocada pela mentira. Isso talvez seja novidade para os padrões brasileiros. Com a palavra, os antropólogos.
Reação popular
O Globo publica nesta terça-feira, 11 de abril, uma reportagem importante sobre relaxamento de padrões éticos e confusão entre o público e o privado. O advogado Dalmo de Abreu Dallari critica a inércia do povo. O professor Fábio Konder Comparato pede que os meios de comunicação contribuam para conscientizar a população.
De aviões e foguetes
Alberto Dines anuncia que o programa de televisão do Observatório da Imprensa, hoje à noite, mostrará aspectos da missão espacial do astronauta Marcos Pontes ainda não abordados pela grande imprensa.
Dines:
– O governo parece felicíssimo com a façanha do coronel Marcos Pontes no espaço sideral mas um pouco mais embaixo, na atmosfera, onde circulam os aviões de carreira, a coisa não está nada boa. Pior é a situação aqui no nível do mar, nos aeroportos, onde descem e sobem estes aviões. O problema não está apenas na situação falimentar da Varig mas no mercado de aviação civil que não está sendo devidamente acompanhado pela mídia. Não é apenas a Varig que cancela vôos, os concorrentes sadios também o fazem e com uma incrível desfaçatez. Presos nas redações, os repórteres não sabem o que está se passando nos balcões de check-in, apenas reproduzem notas oficiais das empresas e da agência reguladora da aviação civil. Para elas, está tudo ótimo. Como no vôo promocional do sorridente coronel Pontes. A propósito: para conhecer o que a mídia não falou sobre o nosso programa espacial vale a pena assistir ao “Observatório da Imprensa” nesta noite. Às onze na Rede Cultura e às dez e meia na Rede da TV-Educativa.
Tatcher e Delfim
O deputado Antonio Delfim Netto critica hoje, com elegância e clareza, no Valor, ilusões brasileiras numa política econômica keynesiana que o próprio John Maynard Keynes, segundo Delfim, desdenharia como rudimentar. Ele a chama, entre aspas, de “keynesianismo liofilizado e matematizado”.
É um debate salutar, principalmente no momento em que os cofres governamentais sofrem perigosos assédios.
Seria interessante examinar também qual era a política econômica adotada por Delfim há 25 anos, no governo Figueiredo, quando, segundo o ex-ministro, Margareth Tatcher conduziu uma estratégia financeira que tirou a Inglaterra do buraco.
Rumos do Itamaraty
O ex-embaixador Rubens Barbosa faz hoje no Estadão uma vigorosa crítica dos rumos tomados pelo Itamaraty e pela política externa brasileira no governo Lula. Em meio a um agravamento acelerado do quadro internacional, a mídia brasileira foi incapaz, até agora, de produzir um panorama dessa área, que, para o Brasil, é cada vez mais decisiva.
Mais mortos na periferia
Quatro mortos e um ferido na Marginal do Pinheiros, em São Paulo, na madrugada de ontem, não conseguiram chegar à capa do Estadão e da Folha. A Folha, que dedicou o espaço disponível de três páginas ao caso Suzane von Richthofen, matou o assunto em coluna de dez centímetros. A perseguição de bandidos por policiais começou no Terminal Rodoviário de Osasco. Na periferia.
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