Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Efeito bumerangue
>>PCC à vontade

O peso da inércia


Manifestações como a da Associação dos Magistrados Brasileiros contra o foro privilegiado e comentários na imprensa sobre a situação aberrante dos suplentes no Senado indicam caminhos possíveis para melhoria da democracia no país. Mas a vontade da imprensa e mesmo a indignação da população não foram suficientes nem para reduzir a crise dos aeroportos em nove meses desde a tragédia com o avião da Gol.


Efeito bumerangue


Alberto Dines diz que o senador Renan Calheiros deveria calcular melhor o que pode resultar de seus novos ataques à imprensa.


Dines:


– Agora está claro que a perfídia de Renan Calheiros contra a imprensa é obra do desespero. O senador alagoano percebeu que o governo começa a preparar o maranhense José Sarney para eventualmente substituí-lo na presidência do Senado e não perdeu tempo. Para garantir o apoio do presidente Lula relembrou as acusações ao golpismo da mídia vocalizadas pelos grupos mais radicais do PT no final da campanha de 2006. A manobra mostra como os setores mais reacionários da política brasileira são capazes de virar a casaca e adotar o discurso revolucionário da esquerda delirante. Pior: mostra o grau de satanização da imprensa convertida em saco de pancadas daqueles que são desmascarados publicamente. Antes de renunciar, o senador Joaquim Roriz também atacou a imprensa, porém Renan Calheiros, mais sofisticado e mais perverso, foi adiante e tentou reavivar as feridas de um dos piores confrontos entre o governo e a imprensa desde o fim da ditadura. Jogada irresponsável, “aloprada” e suicida: Renan esqueceu que o bumerangue retorna sempre às mãos de quem o lançou.


PCC à vontade


A jornalista Fátima Souza, que vai lançar o livro PCC, a facção, diz que a criminalidade em São Paulo se alastra.


Fátima:


– A manobra que o PCC faz continua a mesma. A forma como o PCC atua nas favelas, favorecendo as pessoas mais pobres e daí tendo como retorno isso, a não delação, por exemplo, dos integrantes para a polícia. Você tem os mesmos problemas acontecendo nas cadeias. Há alguns dias descobriu-se, aspas, porque eu acho muito estranho você “descobrir” alguma coisa dentro de uma cadeia, que um tal de Mineiro, um traficante ligado ao PCC fez o escritório dele numa cadeia de Presidente Venceslau e de lá comandava todo o tráfico de drogas com um monte de celulares.


Nem do lado da Secretaria de Segurança Pública, no combate ao PCC, crime organizado, e nem na Secretaria de Administração Penitenciária a situação mudou. Já faz um ano que eu terminei meu livro, que está para ser lançado, onde todos esses problemas estão descritos – como funciona, a inoperância da polícia, a corrupção da polícia. Mudou o governador, mudou o secretário, mas os problemas continuam exatamente os mesmos.


Assaltos a condomínios, um problema crescente. Eu diria que 80% das quadrilhas que fazem assaltos a condomínios, a edifícios, são quadrilhas ligadas ao PCC, que vê nesse tipo de assalto um lucro maior do que fazer assaltos a bancos. Os bancos hoje evitam ter muito dinheiro no seu dia-a-dia, então virou mais compensador você entrar num prédio no Morumbi e sair de lá, de um apartamento, com 15 mil dólares, porque esse pessoal também trambica, do que você entrar cinco, dez mil reais, fora que é muito mais “perigoso” para o bandido no banco.


O PCC hoje é responsável por 90% do tráfico de drogas na cidade de São Paulo. Hoje eles estão num requinte, para você ter uma idéia, de que cada região de São Paulo recebe a cocaína com papel de cor diferente. Para São Bernardo do Campo o PCC faz a cocaína embrulhada num papelzinho azul. Para Mogi, eles fazem num papelzinho vermelho, para São Paulo, papelzinho azul, para identificar quem é o dono daquilo. Eles estão cada vez mais sofisticados, mais folgados e mais à vontade.


Métodos policiais


O Globo informa que foram absolvidos dois acusados pelo seqüestro do repórter da TV Globo Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado, em 2006. Eles disseram ao juiz que foram torturados para confessar participação no crime. Portanova foi libertado em troca da exibição, pela Globo, de um vídeo do PCC. Com a qualidade do trabalho policial existente, não há Justiça que dê jeito.


Chame o ladrão


Duas notícias no Estadão de hoje dão uma medida da crise de segurança pública no país: uma em cada três chacinas em São Paulo tem participação de PMs. E dos 182 denunciados em operações da Polícia Federal no Rio de Janeiro desde 2003, 55 são funcionários da própria PF, entre eles 16 delegados.