Em defesa da Ficha Limpa
Os ativistas que deram origem à Lei da Ficha Limpa estão varrendo as redes sociais da internet com um movimento para reanimar a campanha.
Eles detectaram uma nova estratégia dos candidatos cuja inscrição foi negada pela Justiça Eleitoral: os ficha-suja agora estão apelando ao Supremo Tribunal Federal, de forma organizada, para tentar obter uma declaração de inconstitucionalidade da lei.
Com isso, todos eles estariam aptos a serem eleitos, e teriam mais quatro anos para anular a restrição.
Segundo os relatos distribuidos diretamente pela rede, mais de 242 candidatos já foram barrados, o que, se for confirmado, pode representar uma boa faxina prévia na política.
Mas as manifestações de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, contrários à aplicação imediata da lei e aos seus efeitos retroativos, começam a estimular a banda podre.
Um novo abaixo-assinado circula na internet e deverá ser encaminhado diretamente ao presidente do STF, sob a forma de uma petição para que a vigência da lei seja mantida. (O endereço para quem quiser aderir é: http://www.avaaz.org/po/ficha_limpa_supremo/?vl)
Segundo os organizadores, a decisão sobre as candidaturas deve ficar a cargo da Justiça Eleitoral, que vem dando demonstrações de firmeza na aplicação da nova norma restritiva.
Os jornais desta quinta-feira trazem a informação de que um dos mais notórios candidatos com problemas na Justiça, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, segue desafiando a lei e intensificou sua campanha, mesmo depois de ter o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Ele conta com uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal, mas já sofre os efeitos da cassação: depois de liderar as pesquisas eleitorais durante quase todo o período de campanha, ele agora aparece em segundo lugar.
Nenhum dos grandes jornais ainda noticiou, mas na Paraíba a Assembléia Legislativa aprovou uma lei estadual da Ficha Limpa, pela qual o mesmo critério será aplicado para todos os cargos de confiança na administração estadual.
Se houver o apoio da imprensa, essa medida pode se espalhar por todo o País, cortando na origem a carreira criminosa de assessores e consultores que acabam virando parlamentares, secretários, ministros e governantes.
Um caso grotesco
Os organizadores do movimento Ficha Limpa entendem que as instituições públicas, entre elas o Supremo Tribunal Federal, precisam emitir um sinal inequívoco de que a sociedade não vai aceitar que a carreira política continue sendo usada como meio de ganhar dinheiro rapidamente ou como saída para evitar condenações criminais.
Os mais de 200 candidatos já barrados pela Justiça Eleitoral com base na nova lei são apenas uma amostra do risco que correm as Assembléias Legislativas, o Congresso Nacional e outras instâncias do poder com o assédio de criminosos.
Os jornais desta quinta-feira relatam o caso grotesto do candidato a deputado federal Claudiney Alves dos Santos, inscrito pelo PSC, Partido Social Cristão, que na verdade, segundo a polícia, representa outra agremiação, o PCC, sigla que identifica o grupo criminoso conhecido como Primeiro Comando da Capital.
Santos, que cumpriu pena por roubo entre 2003 e 2006, acumulou desde então um patrimônio avaliado em R$ 50 milhões e é investigado também por tráfico de drogas e associação com a organização criminosa.
As imagens do patrimônio do candidato, mostradas fartamente em telejornais de quarta-feira, impressionam: Ney Santos, como ele gosta de ser chamado, é dono de duas casas num bairro nobre de São Paulo, de 15 postos de combustíveis, escritórios, apartamentos e carros de luxo, entre os quais uma Ferrari avaliada em R$ 1,4 milhões.
A polícia paulista suspeita de que seus negócios são usados para lavar dinheiro do crime organizado.
Santos tem negócios com outros condenados e com pelo menos dois outros políticos também investigados por ligações com o PCC.
Ney Santos pertence ao mesmo partido do ex-governador Joaquim Roriz, que participa da coligação liderada pelo Partido dos Trabalhadores.
Segundo a Folha de S.Paulo, seu site na internet exibe um carimbo onde se lê: “ficha limpa”, porque sua candidatura não foi barrada pela Justiça Eleitoral.
Conforme os jornais têm noticiado, entre os candidatos alcançados pela nova lei há inscritos por todos os partidos, tanto governistas como da oposição, o que mostra a falta de cuidados básicos na seleção das chapas.
Está mais do que na hora de a imprensa responsabilizar as lideranças partidárias pela escolha de seus representantes.