Em jogo o futuro das florestas
O noticiário desta terça-feira sobre a polêmica do novo Código Florestal oferece ao leitor um verdadeiro picadinho de letras.
O Globo destaca que o governo estaria disposto a abrir mão de reflorestar 23 milhões de hectares em troca de um acordo que permita manter dois princípios: não anistiar desmatadores e não permitir novos desmatamentos.
O Estado de S.Paulo, em reportagem mais ampla, destaca a disposição do governo de abrir mão de parte significativa da dívida agrícola dos produtores que se dispuserem a recuperar Áreas de Preservação Permanente em margens de rios e encostas.
Já a Folha de S.Paulo, em texto abaixo da dobra da página, faz a contabilidade das perdas florestais no caso de aprovação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
A reportagem da Folha consegue uma síntese melhor do confronto, ao repetir os pontos da polêmica entre ambientalistas e ruralistas e apresentar o cálculo feito pelo Ministério do Meio Ambiente para as perdas representadas pela proposta de Rebelo.
Segundo o jornal paulista, o Brasil perderia 15 milhões de hectares de florestas, o equivalente ao terrritório do Acre, em áreas que não precisarão ser reflorestadas caso seja aprovado o projeto como se encontra.
No relato da Folha, os últimos movimentos mostram o governo ainda na defensiva, manobrando para adiar a votação enquanto tenta desarmar a bomba preparada por Aldo Rebelo.
Para o Globo, a suposta disposição do governo de aceitar uma extensão menor de áreas para recuperação florestal implicaria em perdas de cobertura vegetal equivalentes a cinco vezes o território do Estado do Rio ou a todo o Estado de Rondônia.
Mesmo assim, de acordo com o jornal carioca, o representante dos ruralistas não se contentaria. Aldo Rebelo quer ampliar ainda mais as concessões, desobrigando todas a propriedades com até quatro módulos fiscais – de 20 a 400 hectares – da obrigação de repor as florestas derrubadas.
No Estadão, o foco principal é a dívida agrícola, um dos pontos mais críticos entre as propostas dos ruralistas.
A dívida dos produtores rurais, calculada em R$ 80 bilhões, seria reduzida em até 70%, em troca de iniciativas que comprovadamente promovam a redução das emissões de gases de efeito estufa.
A cada tonelada de carbono retida com o replantio de árvores, o proprietário ganharia o equivalente a R$ 17 em perdão de dívidas.
Com isso seria possível, segundo os cálculos do governo, recuperar cerca de 430 mil quilômetros quadrados de florestas.
Para entender parte do “imbroglio”, o leitor teria que ler todas as reportagens do dia, e ainda consultar os antecedentes já publicados.
De qualquer forma, o fato de os três principais jornais de circulação nacional terem voltado a acompanhar o debate já é um avanço no sentido de chamar a atenção dos leitores urbanos para esse desafio que pode afetar duramente o futuro do País.
Observatório da Imprensa na TV
A execução sumária de Osama Bin Laden em operação militar dos Estados Unidos, ocorrida há dois domingos, continua a gerar discussões. O foco especial é para o Direito Internacional e a argumentação que o governo americano tem usado para se manter à parte de quaisquer julgamentos.
Mas de que forma os jornais estão acompanhando essa polêmica e repercutindo o caso? Têm se filiado às declarações oficiais dos EUA sobre a operação ou estão propondo questionamentos?
O próprio fato de que a maioria dos jornais fala da ‘morte’ de Bin Laden e não de ‘assassinato’, mostra que tipo de cobertura e reflexão estão sendo produzidas.
O Observatório da Imprensa na TV de hoje reflete sobre o caso.
Alberto Dines:
– Em 11 de Setembro de 2001 ficou evidente que os terroristas usam a mídia para ampliar o terror. Agora a mídia mostra a sua força ao tornar-se um fórum global para discutir a execução sumária do responsável pelo massacre no World Trade Center. Este espetáculo, exclusivo dos países democráticos, vai estender-se por muito tempo e envolve política, religião e o próprio exercício do jornalismo. Participe dele através do “Observatório da Imprensa”, ao vivo, em rede nacional, hoje às 22 horas pela TV Brasil. Em S. Paulo pelo canal 4 da NET e 181 da TVA.