Entidade fantasma
Está em todos os grandes jornais nesta terça-feira a notícia da cassação de treze vereadores da Câmara Municipal de São Paulo.
O motivo: eles receberam doações da Associação Imobiliária Brasileira, uma entidade quase fantasma criada pelo Secovi, Sindicado da Habitação, para defender os interesses do setor junto ao poder público.
Os treze vereadores também se tornaram inelegíveis por três anos, mas não perderão seus mandatos se entrarem com recurso no Tribunal Regional Eleitoral.
Esse é um dos efeitos da nova legislação aprovada no mês passado: político punido em primeira instância tem apenas que apelar da sentença e consegue automaticamente permanecer no cargo e preservar seus direitos até o julgamento conclusivo pelo TRE.
No caso que envolve a Associação Imobiliária Brasileira e outras entidades igualmente proibidas de contribuir para campanhas eleitorais, existem ainda vinte outras representações por suspeita de doações ilegais, algumas das quais têm como alvos o prefeito Gilberto Kassab, a ex-prefeita Marta Suplicy e o ex-governador Geraldo Alckmin.
Segundo os jornais, a entidade criada pelas empresas de construção civil distribuiu no ano passado R$ 10,6 milhões de reais a candidatos e partidos.
A Justiça Eleitoral considerou inaceitáveis apenas os casos em que a contribuição da entidade superou 20% do total gasto pelos candidatos.
O juiz autor da decisão considerou que essa porcentagem representa uma contaminação do processo eleitoral, por significar abuso de poder econômico.
A Associação Imobiliária Brasileira não poderia ter feito as doações porque é uma entidade mantida por uma organização sindical.
Não tem funcionários e sua sede fica oficialmente localizada num prédio fechado.
Trata-se, claramente de uma organização de fachada sobre a qual cabem ainda novas investigações, que extrapolam as atribuições da Justiça Eleitoral.
Mas não se espere que a imprensa paulista corra atrás dessa pauta para desvendar a fantasmagoria do Secovi.
Afinal, estamos falando da maior fonte de anúncios em jornais e qualquer arroubo de independência pode custar caro.
Futuro sem papel?
O lançamento do “Kindle”, aparelho de publicação digital desenhado para oferecer bibliotecas inteiras ao leitor, renovou os debates sobre o futuro do papel, envolvendo ainda o destino da imprensa e das editoras de livros.
Ainda não foram divulgados estudos consistentes sobre o comportamento dos usuários do aparelho, embora já existam protótipos e modelos menos sofisticados em circulação há mais de dois anos em alguns países.
Por enquanto, os efeitos da novidade tecnológica são apenas especulações.
Mas a concretização de mais uma promessa, na avalancha de mudanças detonadas pela Tecnologia da Informação, torna ainda mais complexo o grande desafio da indústria da comunicação: como assegurar a fidelidade dos leitores?
O Observatório da Imprensa na TV mais uma vez abre espaço para o debate.
Alberto Dines:
Os cientistas têm compromissos com as suas certezas, os jornalistas estão comprometidos com a dúvida. O jornalismo contemporâneo, principalmente o que se pratica na grande imprensa brasileira, tornou-se o jornalismo do oba-oba. Exemplo disso foi o entusiasmo que envolveu o lançamento nos Estados Unidos e na Alemanha do Kindle, o leitor digital capaz de ler livros, jornais e revistas num aparelho tão leve quanto um celular, servido por uma tecnologia de transmissão não muito diferente. Chegou-se aqui a profetizar que o livro de papel estaria extinto em 2018. Este futurismo da imprensa ajuda o leitor? Tire as suas dúvidas hoje no “Observatório da Imprensa”. Às onze da noite na TV-Brasil ao vivo em rede nacional. Em S.Paulo pelo canal 4 da NET e 181 da TVA.