Entre candidaturas e maracutaias
O recesso remunerado do Congresso cria um vácuo que é preenchido por especulações ligadas à campanha eleitoral. Hoje no Globo as duas colunas de política tratam de possíveis candidaturas. Em todos os jornais, os conflitos no PSDB tomam corpo. Mas a reportagem da Veja sobre nova conta de Duda Mendonça no exterior, e apurações em torno do papel da estatal Furnas no financiamento de campanhas, mantêm vivo o processo de exame da corrupção.
Nos Estados Unidos, a derrocada de um picaretão da política, Jack Abramoff, ligado ao Partido Republicano, provocou o fechamento de uma grande empresa de lobby em Washington.
STF politizado
O presidente Lula cria mais um foco de polêmica com a indicação de Tarso Genro para o Supremo Tribunal Federal. Sem entrar no mérito dos conhecimentos jurídicos do ex-prefeito de Porto Alegre, o fato de que ele assumiu a presidência do PT e é mencionado como potencial candidato à presidência pelo partido, em caso de desistência de Lula, politiza a indicação. Quem leu no Estadão de domingo a reportagem de Paulo Moreira Leite sobre o labirinto decisório em que se inscrevem os atos do presidente Lula entende melhor como são complicadas essas escolhas do presidente.
Poderes presidenciais
Nos Estados Unidos, o mais recente indicado pelo presidente George W. Bush para a Suprema Corte, Samuel Alito, começou a ser sabatinado ontem no Senado. O assunto está na capa de todos os jornais americanos. O que está em foco não é a personalidade do indicado. São os limites do poder presidencial.
Sem militância
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral de proibir o uso de dinheiro vivo nas campanhas eleitorais deste ano cria, entre outros, um problema grave com o exército de pessoas contratadas para distribuir material ou agitar bandeiras nas ruas. Essas pessoas são em geral muito pobres. Não têm conta em banco. Como vão receber? O PT, nesse caso, paga um preço alto por ter substituído a militância por gente contratada para fazer campanha.
Vale a pena ver de novo
O Observatório da Imprensa na TV reprisa hoje um dos programas relacionados com a crise política feitos em 2005. Às 10 e meia da noite na TV Educativa e às 11 na TV Cultura. O programa volta ao vivo no dia 7 de fevereiro.
Cultura de afagos
O Alberto Dines mostra como gestos de cordialidade amortecem uma discussão séria sobre a política cultural do país.
Dines:
– O medo na Praça dos Três Poderes é que tudo acabe em pizza. Mas no Rio de Janeiro a briga sobre a atuação do ministro da Cultura, Gilberto Gil, acabou numa bitoca – um beijinho na boca trocado entre Sua Excia. o ministro Gil e o velho amigo Caetano Veloso, que entrou na discussão iniciada pelo poeta Ferreira Gullar. Quando, pela primeira vez desde a posse, a atuação de Gilberto Gil começou a ser efetivamente questionada, a discussão foi abruptamente encerrada. O ministro declarou que tudo já havia sido dito e que o resto era exploração jornalística. Ponto final.
Ao contrário do resto da América Latina, no Brasil abominam-se as discussões e os debates. Nossos homens públicos detestam o público. Preferem as sombras, as conversas ao pé do ouvido, nos gabinetes, corredores. O beijinho trocado pelos novos baianos impediu que o resto dos brasileiros soubesse que nossa cultura vive de eventos e shows. Produção cultural é outro departamento. A Petrobrás, por exemplo, gasta mais com cultura do que o próprio Ministério da Cultura.
O sobrevivente Sassá
No Estadão de hoje, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, lamenta que a Justiça tenha posto na rua 15 de 71 traficantes presos desde que assumiu o cargo, há quase três anos. No pé da reportagem, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio, Octávio Gomes, chama a atenção para possíveis causas das libertações: falha na instrução dos processos, feita pela polícia, falta de provas ou demora da Justiça para julgar.
Na reportagem não há uma palavra sobre a eficácia da política de segurança pública.
Uma das prisões comemoradas pelo secretário Itagiba, que pretende se candidatar a deputado federal, foi a do traficante Sassá, da favela da Maré. A história real da prisão não foi contada. Sassá ia ser morto, dentro do complicado regime de conflitos e convivência entre grupos criminosos e a polícia do Rio de Janeiro. Como foram mortos oito dos bandidos da lista de Itagiba, entre eles Bem-Te-Vi, da Rocinha. Mas o traficante da Maré percebeu o que ia acontecer e convocou uma manifestação de moradores. Na presença de muitas testemunhas, entregou-se. E já tentou fugir.