Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Faltou gás à imprensa
>>Tropa de cheque

Faltou gás à imprensa

Os jornais de hoje dizem que o presidente Lula disse que o Brasil será em breve auto-suficiente na produção de gás.

Embora a declaração tenha sido feita ontem de manhã, no programa de rádio Café com o Presidente, nenhum dos principais diários se deu o trabalho de pesquisar se realmente estamos perto desse objetivo ou se se trata apenas de mais uma frase de efeito do presidente.

Depois do café da manhã, o presidente da República e a maioria dos brasileiros almoçaram, muitos também jantaram e os telejornais do último horário noturno ainda repetiam a frase do presidente: ‘Estamos trabalhando com a certeza de que logo, logo, o Brasil também será independente na produção de gás’.


Não faltou tempo. Faltou interesse.

Ou faltou gás para destacar um repórter que fizesse a lição de casa.

O leitor curioso certamente gostaria de saber quanto gás o Brasil produz, quanto é reinjetado de volta nos poços durante a extração do petróleo. Quanto gás é necessário para tocar as usinas termoelétricas e evitar um novo apagão energético? Qual é a necessidade da frota nacional de carros movidos a gás? Estas são as perguntas básicas a que nenhum jornal respondeu.

Se não fosse por mera curiosidade, a imprensa tinha a obrigação de exigir muito mais do que a frase festiva do presidente, que aliás continua em estado de graça depois do anúncio das grandes reservas na Bacia de Santos.

Há pouco mais de um mês, quando faltou gás nos postos do Rio de Janeiro, os jornais passaram à população o temor de que estivéssemos ingressando em uma nova crise de combustíveis e à beira do caos.

O abastecimento se regularizou, a Petrobrás voltou a negociar o aumento do fornecimento de gás da Bolívia, e nada mais se disse sobre o assunto.


Agora, a imprensa agasalha mais uma tirada otimista do presidente e lhe transfere uma credibilidade que, na verdade, precisa estar sempre sendo verificada.

Porque é dever da imprensa conferir sempre a validade das afirmações das autoridades.

Vamos supor que milhões de brasileiros, entusiasmados com as palavras de Lula, decidam que seus carros serão movidos a gás.

Não se pode garantir que haverá gás para todos.

O que se pode dizer, por enquanto, é que a imprensa está sem gás, até para fazer o jornalismo básico.

Tropa de cheque

O Globo informa que um relatório da Polícia Federal acusa soldados da Força Nacional de Segurança de envolvimento com os criminosos que deveriam estar combatendo no Rio de Janeiro.

Diz o relatório que agentes teriam recebido propina para facilitar o transporte de armas que seriam usadas por traficantes para invadir o território de uma quadrilha concorrente.

O relato do jornal carioca afirma que, além de integrantes da nova tropa de choque federal, ex-militares e militares da ativa nas Forças Armadas estariam dando treinamento aos criminosos e cuidando da manutenção de suas armas.

A Força Nacional de Segurança foi criada recentemente e deslocada para o Rio no começo do ano, encarregada de garantir o bom andamento dos Jogos Panamericanos.

Se a notícia tem fundamento, mais uma vez a vida supera a ficção na terra em que o realismo fantástico virou estilo jornalístico.


Enquanto isso, no terreno do entretenimento, o filme Tropa de Elite, que trata exatamente da violência nas favelas cariocas, acaba de bater o recorde no quesito pirataria.

A pirataria e o futuro dos direitos autorais compõem o tema de hoje do programa Observatório da Imprensa.

Ouça o comentário de Alberto Dines.


Dines:

– O número de copias pirateadas do filme Tropa de Elite deve entrar para o livro dos recordes. Fala-se em 10 milhões de espectadores clandestinos e não apenas no Brasil. O episódio junta-se ao crescente debate que acompanha os espetaculares avanços da Internet, do Google e do YouTube e que pode ser resumido nas seguintes perguntas: acabou a propriedade intelectual? Acabou o direito do autor? Acabou o direito de imagem? Agora vale tudo? Respostas no ‘Observatório da Imprensa’ de hoje à noite. Às vinte e duas e quarenta, ao vivo, pela rede Cultura e pela rede da TV-E.