Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Golpe contra o corporativismo
>>Promiscuidade com polícia e bandidos

Indignação e frustração?


Mais uma vez, como em alguns momentos desde o início do escândalo do mensalão, em meados de 2005, há uma convergência de denúncias no país. Paulo Maluf e José Genoíno, deputados federais eleitos, estão entre os denunciados pelo Ministério Público. Multiplicam-se manifestações contra o aumento dos salários dos parlamentares. Resta ver como essa energia será canalizada. A mídia cumpre seu papel de dar visibilidade aos assuntos, mas não pode garantir que as investigações levem a punições, ou que os abusos sejam contidos.



Golpe contra o corporativismo


Alberto Dines saúda a rapidez com que a TV Globo afastou um jornalista acusado de ter relações promíscuas com bandidos.


Dines:


– Num país onde impera a impunidade, os cinco minutos do Jornal Nacional de ontem com a denúncia contra o seu repórter que trabalhava para a máfia dos caça níqueis no Rio constituem um marco histórico, divisor de águas. A imprensa deu o exemplo e mostrou que não se pode mais compactuar com a bandalheira nem com o crime. Bandido amigo é bandido, não merece complacência. A mídia tem tratado com brandura os ilícitos cometidos pela mídia. Veja-se o caso de IstoÉ, pivô do Dossiê Vedoin, que recentemente homenageou o presidente da República e ninguém se espantou. A TV Globo ofereceu ao repórter José Mess576ias Xavier o direito de defesa, aceitou o seu licenciamento, mas as gravações telefônicas do Ministério Público Federal eram irrefutáveis. Não colou a desculpa de que o repórter tentava filtrar-se junto à máfia para denunciá-la. Num caso destes, o superior imediato deve ser avisado previamente, coisa que não aconteceu. A demissão do repórter Messias Xavier e a extensa cobertura que mereceu da rede para a qual trabalhava representam um golpe de morte no compadrio e no corporativismo. Impossível desconhecer suas implicações. Doravante, deputados ficarão obrigados a punir colegas que cometeram infrações, militantes não poderão inocentar seus companheiros, nem autoridades podem esquecer que uma sociedade decente exige decência de todos, Sem exceção. É doloroso assistir ao fim da carreira de um profissional. Pior para todos, inclusive para o próprio, seria permitir que prosseguisse impune.


Mauro:


– Alberto Dines apresenta hoje à noite o programa de televisão do Observatório da Imprensa, que entrevistará o porta-voz da presidência da República, André Singer, para fazer um balanço dos conflitos entre mídia e governo. Às 23h40 pela TV Cultura e às 22h30, ao vivo, pela TV-E.



Promiscuidade com polícia e bandidos


O jornalista José Messias Xavier não pode ser condenado sem julgamento. O que a TV Globo diz é que determinado tipo de comportamento é profissionalmente inaceitável. A Folha informa hoje que vai investigar as 52 reportagens que Messias produziu para o jornal entre junho e outubro de 2005.


O fenômeno que gerou o caso de Messias é a relação de dependência entre jornalistas e Polícia, e jornalistas e Ministério Público. Muitos jornalistas mantêm uma relação tortuosa com autoridades. Onde o policial está associado ao criminoso, o jornalista passa a integrar objetivamente, quando não subjetivamente, o circuito do crime. Ao mesmo tempo, cresceu muito desde o assassinato do repórter Tim Lopes, da TV Glob, o fosso que separa jornalistas de comunidades vítimas de bandidos e policiais cúmplices deles. O mais grave é que o móvel principal dessa promiscuidade de alguns jornalistas não são preocupações cívicas, mas a busca de melhores índices de audiência.


Cadeia de comando


Na cadeia de comando do Rio de Janeiro, o deputado federal eleito Marcelo Itagiba era o chefe do deputado estadual eleito Álvaro Lins, acusado de envolvimento com máfias de caça-níqueis, e a governadora Rosinha Matheus era chefe de Marcelo Itagiba. Itagiba substituiu na Secretaria de Segurança o ex-governador Anthony Garotinho.


Contra a impunidade


Míriam Leitão protesta hoje no Globo contra a impunidade do jornalista Antônio Pimenta Neves, ex-diretor de redação do Estado de S. Paulo, assassino confesso da jornalista Sandra Gomide.


Mexicanos contra os cartéis


Jornalismo corajoso foi encarnado pelo mexicano Jesus Blancornelas, que morreu de doença no fim de novembro. Ele denunciou o cartel de drogas de Tijuana. Foi alvo de vários atentados. Fundou a revista Zeta, em 1980, com Hector Felix Miranda. Miranda foi assassinado em 1988 e desde então a revista publica em cada edição uma página em que denuncia o crime e pede a punição dos culpados. Clique aqui para ver o anúncio.