Grandes cidades, imensos problemas
Os jornais de fim de semana vêm cada vez mais cheios de cadernos especializados em serviços, uma forma dissimulada de apresentar os calhamaços de anúncios que fazem a alegria dos gerentes comerciais.
Apesar de o noticiário econômico trazer invariavelmente informações alarmantes sobre risco de inflação, crise mundial e impasse nas negociações sobre o comércio global, a verdade que o leitor observa é a de uma economia aquecida e em crescimento acelerado.
Esse e outros sinais indicam que o Brasil cresce, mas não demonstram necessariamente que estamos nos desenvolvendo.
Observe-se também a revista Grandes Reportagens do Estado de S. Paulo, distribuída neste domingo junto com o jornal.
São 120 páginas de excelentes relatos sobre as megametrópoles do mundo, com destaque para a gigantesca cidade que se formou com a aproximação entre São Paulo e Campinas.
Trata-se de um trabalho para ler e guardar, mas também é um excelente ponto de partida para uma reflexão sobre o país que estamos construindo.
A megametrópole nascida com a expansão da capital paulista também se estende em direção ao Rio de Janeiro, e deve acabar criando uma imensa mancha urbana cujos problemas apenas podemos adivinhar.
O surgimento de grandes concentrações urbanas, incapazes de oferecer qualidade de vida à maioria de seus habitantes, é um fenômeno previsto há cinquenta anos.
Seu retrato está à vista na publicação do Estadão.
Nenhuma das autoridades que se sucederam no governo nas últimas décadas foi capaz de produzir um projeto de sustentabilidade para assegurar um mínimo de organização a esse crescimento.
A megametrópole confusa, insegura e poluída é resultado dessa imprevidência.
Estamos em plena campanha eleitoral.
Os desafios colocados na revista especial do Estado de S.Paulo deveriam compor a pauta a ser levada diariamente aos candidatos em todas as grandes cidades brasileiras, porque o fenômeno que acontece na capital paulista se repete por todo o País, uma vez que nosso modelo econômico induz ao adensamento das populações urbanas.
Com todos os problemas ambientais e sociais que se pode observar.
O agravamento dos problemas urbanos foi relatado diariamente pelos nossos jornais nos últimos anos, mas nada impediu que acabasse acontecendo o que se vê: muitas de nossas cidades estão à beira do colapso.
A imprensa deve servir também para fazer pensar no futuro, e não apenas para fotografar o que já aconteceu.
Um desafio olímpico
A cobertura das olimpíadas na China representa uma difícil missão para a imprensa.
Alberto Dines:
– O grande desafio da imprensa para cobrir as Olimpíadas de Pequim não será a diferença de 11 horas, quase meio dia. Problema maior será acompanhar um monumental evento esportivo sem perder de vista os seus desdobramentos políticos. Desde 1936 nas Olimpíadas de Berlim, montadas para glorificar o regime nazista, não se via um empenho tão grande em exibir as conquistas de um sistema político. Na realidade, serão duas olimpíadas acopladas, uma desportiva e outra política.
Como sempre o número de medalhas de ouro vai comandar o espetáculo, porém a medalha mais difícil de conquistar será no campo das liberdades, no direito à informação. Os chineses não pouparam dinheiro nem esforços para montar um esplendoroso circo na qual certamente brilharão em matéria esportiva, mas sabem de antemão que terão dificuldades em vender a imagem de um país livre, sem constrangimentos em matéria de comunicação e movimentação.
O formidável sucesso econômico da China é indiscutível e, tal como as medalhas, é mensurável. Complicada será a aferição do grau de liberdade de um sistema político regido por parâmetros tão diferentes dos nossos. Mesmo que o leitor vá buscar as informações nos cadernos esportivos, é imperioso que ao lado das façanhas olímpicas sejam oferecidas ao mesmo leitor avaliações isentas e qualificadas sobre os avanços e retrocessos políticos da China. Em 1936, as vitórias do negro norte-americano Jesse Owens sobre o ariano Lutz Long obrigaram Hitler a retirar-se do estádio antes da premiação. Foi um feito esportivo e político. O leitor de hoje, ainda mais informado, quer os dois lados desta cobertura.