Ano novo, velho jornalismo
Na primeira página dos três principais jornais de circulação nacional, o destaque nesta quarta-feira (02/01), primeiro dia útil de 2013, vai para as cerimônias de posse de novos prefeitos e os painéis com a situação financeira das prefeituras de algumas capitais importantes, como São Paulo, Rio, Curitiba e Salvador.
O Globo deu espaço para um número maior de cidades, oferecendo a seus leitores uma visão mais ampla da situação.
Os planos de renegociação de dívidas municipais são o tema comum, com as mesmas declarações sobre dificuldades para a realização das promessas de campanha dos prefeitos empossados no dia 1o.
Todos observam que, com uma dívida que representa 200% da capacidade de arrecadação, a capital paulista, por exemplo, perdeu poder de investimento.
Nenhum dos três jornais se detém muito na análise das causas dessa dependência dos municípios em relação à União e todos deixam sem mais comentários o fato de que, para superar esse impasse, seria preciso alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Por outro lado, ao oferecer números e porcentagens, sem maiores explicações sobre o sistema federativo e as proporções da distribuição do bolo tributário, os textos não ajudam a entender a gravidade da situação.
Uma eventual redução de R$ 1 bilhão na dívida, por exemplo, não resolveria o problema de São Paulo, mas poderia significar a salvação da lavoura em Maceió.
Sem uma reportagem sobre o histórico desses débitos, por outro lado, o leitor fica limitado a suas próprias conjecturas e tem dificuldade para entender o contexto desse noticiário.
Mais para o futuro, na hora de avaliar o desempenho dos novos prefeitos, os jornais vão fabricar manchetes sobre aumentos ou quedas de popularidades, já no cenário próximo das futuras eleições, sem base para análises mais apuradas.
No jornalismo econômico, os diários se dedicam a completar as retrospectivas de 2012, listando os melhores investimentos do ano que passou, fazem suas apostas quanto ao desempenho da economia brasileira no ano que se inicia e analisam as chances de os Estados Unidos resolverem o impasse do abismo fiscal e as perspectivas da crise na Europa.
Cadernos de papel
A seção internacional destaca a surpreendente declaração do líder da Coreia do Norte, que herdou o cargo do pai em 2011, em favor de negociações de paz com a outra metade do país, ao sul.
O Estadão, que sempre tem mais espaço para o mundo, perdeu para o Globo nesse assunto.
O jornal carioca dedica uma página inteira à mudança de atitude do governo norte-coreano, que pode indicar uma política de aproximação com a Coreia do Sul nos próximos meses.
Os diários também acompanham com atenção o estado de saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, e registram a continuidade da guerra civil na Síria, além de uma tragédia com 61 mortos, ocorrida na Costa do Marfim.
No jornalismo online, uma curiosidade: a seção de Política do Estado de S. Paulo foi “sequestrada” no Twitter por um jornal espanhol, o Diário de Notícias de Navarra, que tem apenas 14 mil seguidores, cuja página remete os tuiteiros para dois colunistas da Folha.
Aliás, uma olhada nas edições eletrônicas de portais não ligados aos grandes jornais mostra também que o jornalismo feito originalmente para a internet oferece mais diversidade do que o jornalismo que tem base no papel, mesmo consideradas as extensões digitais da imprensa tradicional.
Além disso, os sites puramente digitais são configurados para facilitar a localização dos assuntos e estimulam o leitor a permanecer mais tempo em suas páginas.
Em períodos como este, em que a redução das equipes de plantão limita a capacidade de cobertura das redações, a divisão dos profissionais em cadernos especializados, típica dos jornais de papel, se transforma claramente em desvantagem para a imprensa tradicional.
Compare-se, por exemplo, uma edição do portal Terra com qualquer um dos grandes jornais em versão online: com exceção do UOL, que supera em muito a capacidade isolada da Folha de S. Paulo de produzir jornalismo, os demais títulos ainda passam a impressão de serem meras reproduções digitais das edições de papel.
Mesmo o Globo, com sua imensa estrutura de captação de informações montada sobre o portal G1, parece construir sua edição virtual sobre a lógica do suporte físico.
Não seria hora de repensar a antiga distribuição dos temas baseados em cadernos de papel?