As mesmas velhas conversas
A última rodada de palestras no 8o. Seminário de Circulação da Associação Nacional de Jornais (ANJ), realizada nesta terça-feira em São Paulo, dá sinais de que a chamada grande imprensa ainda não conseguiu fazer um diagnóstico do dilema em que se encontra: o crescimento das vendas de jornais, verificado muito recentemente, não representa garantia de boa saúde para as empresas no futuro próximo, em função do avanço das plataformas digitais – que não produzem receita suficiente para sustentar o negócio.
A falta de perspectivas pode ser avaliada pela abertura da reportagem com que o Estado de S.Paulo registrou o evento: “A indústria de jornais no Brasil precisa achar novos formatos para vender conteúdo em canais fora do tradicional meio impresso”, diz o texto. Qual a novidade?
Daí, prossegue com platitudes como “o mundo ganhou mobilidade e a circulação de informações está nos celulares, tabletse outros equipamentos que o consumidor carrega consigo” – e blá, blá, blá, e por aí vai.
O descuido com o texto reproduz a falta de idéias sobre como convencer esse público a pagar por informações jornalísticas fora do suporte tradicional do papel.
Houve até quem defendesse a cobrança de mensagens curtas, contendo resumos de reportagens, enviadas para telefones celulares – faltou explicar como o leitor será convencido a pagar por isso.
Enquanto não encontram um modelo de negócio que consiga inserir e sustentar a mídia tradicional nos novos meios, a solução mais aceita pelos executivos dos jornais parece ser a de restringir a oferta de conteúdo jornalístico nas plataformas digitais.
Isso quer dizer que, em vez de investir na formação de leitores que usam esses equipamentos, as empresas preferem “esconder” o produto jornalístico.
A circunstância deveria estar levando os estrategistas da imprensa a um debate mais profundo sobre o que é a notícia – se ela ainda depende de uma empresa nos formatos tradicionais para acontecer, ou se necessita do referendo de um jornal para ser levada a sério.
Outra questão que a mídia se nega a discutir: qual o valor real do jornalismo que está sendo oferecido aos leitores no dia a dia, mesmo no papel?
De volta à estaca zero
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa.
Depois de idas e vindas do Palácio do Planalto, vacilações das lideranças do governo, e manifesta má vontade do presidente do Senado José Sarney, o texto, que estava prestes a ir a votação em plenário, empacou no Senado e agora ganhou um parecer que breca todos os avanços democráticos que pretende estabelecer.
Por exemplo: embora o projeto encaminhado pelo governo, e aprovado na Câmara dos Deputados, defendesse o sigilo de documentos ultrassecretos pelo prazo máximo de 50 anos, o parecer do senador Collor, no fundo, decreta o sigilo eterno. “O tempo dos Estados não é o tempo dos homens”, disse o ex-presidente, ainda perito na produção de frases de efeito, mesmo que vazias.
Na prática, o parecer do senador, além de aumentar os níveis de sigilo, sugere abolir a obrigação do Estado de tornar pública a lista de documentos classificados, e nega a abertura automática de documentos após o fim do período de sigilo.
O argumento do representante alagoano é o de que as mudanças propostas por ele concorreriam para salvaguardar a segurança do Estado e da sociedade. Pura balela – típica da mentalidade autoritária de quem a produziu.
O senador se recusa a reconhecer que o acesso às informações públicas, com base em critérios democraticamente discutidos e legitimados, é um direito da cidadania. E é dever do Estado facilitar esse acesso – em nome da transparência dos negócios públicos e das boas práticas da governança política.
A lei aprovada na Câmara constitui um avanço para a democracia brasileira. O parecer de Collor, se aprovado, fará a discussão voltar à estaca zero. Uma lástima – mas compreensível, por ter vindo de quem veio.