Fim do luto, começa a pancadaria
A ex-ministra e ex-senadora Marina Silva ainda não havia se manifestado oficialmente em sua nova condição, de candidata à Presidência da República pelo PSB, e já apanhava feito gente grande nas redes sociais.
Nesta sexta-feira (22/8), passados menos de dez dias da morte do ex-governador Eduardo Campos, o luto só permanece em algumas peças da propaganda eleitoral.
Retiradas as coroas de flores, começa o vale-tudo.
A nova candidata entra na disputa beneficiada pelo capital obtido na eleição de 2010, quando chegou perto dos 20% dos votos válidos.
Levantamentos patrocinados pelos comitês de campanha mostram que ela vai aparecer nas próximas pesquisas com pouco mais do que esses 20%, já em segundo lugar, desbancando o candidato do PSDB, Aécio Neves.
Os números em poder dos coordenadores dos partidos apontam para uma subida da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, para perto dos 40%, enquanto Aécio Neves se aproxima dos 15%.
A se confirmar esse quadro, volta à cena a possibilidade de uma definição da disputa já no primeiro turno, mas os analistas esperam algumas variações nas preferências do eleitorado nas próximas semanas.
Embora se saiba que a maior parte das intenções de voto ainda indefinidas vai ser influenciada principalmente pela propaganda eleitoral, o protagonismo de Marina Silva deverá fazer uma grande diferença, especialmente pela maneira como a imprensa irá tratar suas manifestações.
Não exatamente pelo suposto poder de convencimento da mídia tradicional, mas pela forma como o noticiário vai repercutir nas redes sociais.
As primeiras defecções na cúpula do PSB, com a saída ruidosa de dois importantes membros da comissão executiva do partido, ganham destaque nos jornais desta sexta-feira e prenunciam certa disposição da imprensa a escancarar os conflitos que inevitavelmente haveriam de surgir com a morte de Eduardo Campos e sua substituição pela ex-ministra do Meio Ambiente.
Massa de pão
Marina Silva vai pagar pelo que disser e pelo que não disser, mas é a única entre os candidatos que se beneficia no papel de vítima.
Os dois grupos que até aqui monopolizam o debate ideológico evitam agredi-la diretamente, porque seus estrategistas sabem que sua aparente vulnerabilidade pode se transformar em uma tremenda força eleitoral.
Sua voz trêmula e sua figura frágil podem contribuir para arregimentar os eleitores necessários para levá-la ao segundo turno, principalmente entre as mulheres e os mais jovens.
O franco protagonismo do ex-presidente Lula da Silva desde o início da propaganda eleitoral do PT não ocorre por acaso: os coordenadores da candidatura de Dilma Rousseff sabem que, se a presidente se consolidar nas duas próximas semanas, pode resolver a parada já no dia 5 de outubro.
Nesse período, o noticiário pessimista sobre a economia terá se esvaziado com os indicadores de queda da inflação, a manutenção do poder de compra do salário e a estabilidade no índice de desemprego.
Há uma clara divergência entre o conteúdo dos jornais e o material que vem sendo distribuído a investidores pelas consultorias dos bancos, que consideram que o pior já passou.
Segundo os jornais, tanto o PT quanto o PSDB evitam tomar a iniciativa de atacar diretamente a candidatura de Marina Silva, mas, claramente, coube ao PSDB o primeiro movimento, pois os dois dirigentes do PSB que acabam de abandonar o barco da ex-ministra são declaradamente favoráveis a uma aliança com Aécio Neves.
No entanto, percebe-se que nas redes sociais os ativistas do PT são mais agressivos do que os tucanos, na tentativa de destacar incongruências eventuais no discurso da candidata do PSB.
Há um bocado de verdade na alegação de que falta clareza ao projeto da candidata que substitui Eduardo Campos, principalmente no que se refere a questões econômicas.
Ao arrancar de Marina a promessa de uma lei que conceda oficialmente autonomia ao Banco Central, a direção do PSB mostra a disposição de reduzir tais ambiguidades, mas essa medida ainda é insuficiente.
A candidata do PSB não quer – e certamente não terá – qualquer simpatia do agronegócio, e tem pouco tempo para ganhar o apoio de outros setores poderosos da economia.
Quanto mais ela se destacar, mais vai apanhar. Como a massa de pão, quanto mais apanha, mais ela cresce.