Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Mais do mesmo

Executivos e editores das principais empresas jornalísticas do Brasil se preparam para a 68a. Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa, conhecida pela sigla SIP, que deve se realizar entre os dias 12 e 16 de outubro em São Paulo.

Segundo lembra o Globo nesta sexta-feira, dia 21, o tema central continuará sendo, como sempre foi desde 1995, “o futuro do jornalismo diante das novas tecnologias”, sobre o tradicional fundo de debates a respeito da liberdade de imprensa e outros temas institucionais.

Deverão estar presentes os dirigentes de todos os principais veículos de comunicação e boa parte dos consultores que nos últimos vinte anos vêm conduzindo os negócios do jornalismo em direção ao passado.

Entre os principais convidados do exterior estão sento anunciados Arthur Sulzberger, editor doNew York Times, Juan Luís Cebrián, diretor-executivo do grupo Prisa, que edita o jornal espanhol El País, e o ex-presidente do Peru Alan García.

García enfrenta no Peru uma comissão parlamentar de inquérito sob a acusação de superfaturamento em obras de restauração de colégios tradicionais.

New York Times aparece como um possível modelo de negócio na transição entre o papel e as mídias digitais, que vem sendo observado pelas empresas brasileiras, e o desempenho do grupo Prisa vem sendo observado com cautela pelos analistas depois que Cebrián negociou uma dívida avaliada em bilhões de euros com os Bancos HSBC, Santander e Caixa Econômica e de Pensões de Barcelona, que passaram a ser sócios da empresa jornalística.

Sob uma pauta extensa, que inclui, segundo o jornal carioca, questões como ética, legitimidade, ações políticas, denúncias, pressões judiciais e novas tecnologias, o único tema importante é este último.

Dezessete anos depois do surgimento do primeiro navegador, que transformou a internet em um meio progressivamente mais adequado para a veiculação de informações, os jornais ainda discutem o que fazer para enfrentar o “desafio do futuro”.

São quase duas décadas e as empresas da mídia tradicional não conseguiram desenvolver um modelo de negócio alternativo que permita salvaguardar as qualidades do produto jornalístico e prover a receita necessária para sua sobrevivência.

São muitos os desafios, mas o maior deles parece ser a própria cultura conservadora das empresas de comunicação.

Quem viu um, viu todos

A grande expectativa gira em torno do seminário intitulado “Jornalismo: qual será o modelo sustentável do futuro?”.

Afora a apropriação da palavra “sustentável”, a rigor nada mudou nas propostas de reflexão sobre o futuro da imprensa desde o primeiro debate setorial sobre o advento da internet, realizado em 1995.

O principal entrave para a busca de um modelo sustentável de negócio parece estar no próprio sistema de organização das empresas, cuja direção é excessivamente centralizada e verticalizada.

Além disso, os jornais têm como principal parceria o setor de publicidade, que também resiste às mudanças impostas pelas novas tecnologias porque não encontra substituto para o modelo altamente rentável da intermediação.

Na verdade, o que está em crise não é o jornalismo, mas a concentração do poder de decisão.

No mundo digital, os grandes empreendimentos têm como pressuposto a participação do cliente nas grandes escolhas. O processo comunicacional não se faz mais no sentido único de um emissor para os receptores, como na comunicação de massas tradicional.

O que as empresas bem sucedidas oferecem, em geral, é a plataforma de tecnologia e estímulos para determinados comportamentos, o que direciona o relacionamento para decisões de compra de produtos e serviços.

Mas essa relação é conquistada pelas qualidades dos serviços, entre as quais predomina a qualidade de não impor escolhas ao cliente.

Nas empresas jornalísticas, mesmo naquelas que vêm adotando a edição em multiplataformas, predomina o modelo da imposição de conteúdos, oferecendo-se ao cliente apenas a possibilidade de “gostar”, “recomendar”, “reproduzir”, com  a prática disseminada de estimular a agregação de públicos homogêneos.

O Brasil, com 204 milhões de habitantes, tem quase 80 milhões de internautas, dos quais uma proporção ainda minoritária mas crescente usa cada vez mais os aparelhos móveis para se informar sobre tudo.

O que a mídia tradicional oferece não combina com as conveniências desses suportes, nem no formato e muito menos na linguagem e no discurso.

Será curioso acompanhar a 68a. Assembleia Geral da SIP, assim como foi observar o 9o. Congresso Brasileiro de Jornais, realizado em agosto passado.

Quem viu o primeiro, viu todos.