O bom uso da tecnologia
A revista Época desta semana traz uma novidade interessante que utiliza os recursos da tecnologia multiplataforma para oferecer aos leitores uma visão mais ampla do contexto que em se realizam as atuais eleições municipais.
Em vez de reproduzir as picuinhas de campanha, lugar-comum no resto da imprensa, a revista da Editora Globo vai além da disputa em si, com um esforço de reportagem sobre os grandes problemas das principais cidades brasileiras.
Quase toda a edição é dedicada a discutir os grandes temas urbanos e a apresentar algumas soluções que estão dando certo.
Na edição impressa, os editores escolheram oito cidades brasileiras que receberam capas específicas, com imagem aérea e uma pauta especial contendo seus principais desafios.
Na edição digital, são oferecidas ferramentas avançadas como uma visão aérea a partir do local onde se encontra o leitor, além uma ferramenta que lhe permite comparar o estado de sua cidade em relação aos demais municípios do país em quesitos como segurança, educação e saúde.
Além disso, estão disponíveis as fichas de todos os candidatos a prefeito e vereador registrados na Justiça Eleitoral, com informações sobre sua formação, filiação partidária e evolução de seus patrimônios.
Ainda através de seus aparelhos digitais, o leitor poderá se informar por meio de um jogo de conhecimentos gerais sobre as 27 capitais brasileiras.
O trabalho revela uma estratégia diferenciada entre as publicações da imprensa tradicional no uso dos recursos de edição multiplataforma que a maioria das grandes empresas brasileiras de mídia vem adquirindo.
Embora a leitura possa parecer um pouco complicada para pessoas que não estejam familiarizadas com gráficos dinâmicos, essa dificuldade acaba sendo superada pelo aspecto lúdico da descoberta, como num game.
Mais do que representar um projeto interessante para o momento eleitoral, porém, a edição de Época mostra um caminho possível para as revistas tradicionais diante do impacto das tecnologias digitais e da necessidade de acompanhar a mobilidade do leitor.
Um retrato do crime
Entre os temas que a revista aborda em suas edições destinadas a São Paulo e ao Rio de Janeiro, por exemplo, aparece com destaque o fato de que a criminalidade está mudando para o interior desses estados.
No “mapa da insegurança do Brasil”, oferecido no site da publicação (ver epoca.com.br), é possível analisar os dados da violência em todo o país, comparando as situações das principais cidades.
A constatação é de que o crime migra para o interior seguindo os deslocamentos de grandes contingentes de trabalhadores para obras fora dos principais centros, mas também se observa que o movimento dos criminosos ocorre organizadamente conforme se intensificam as ações da polícia nas capitais.
Essa observação tem um contraponto interessante na reportagem que compõe a manchete principal da Folha de S. Paulo nesta segunda-feira, dia 1o. de outubro.
Segundo o jornal paulista, cerca de 400 documentos apreendidos pela polícia revelam que a organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital funciona como uma rede empresarial, com “filiais” em 123 das 645 cidades paulistas e conta com um exército de 1.343 afiliados.
De acordo com a Folha, os documentos demonstram que os criminosos estão instalados em todas as regiões do estado e seu contingente equivale a dois batalhões da Polícia Militar.
A reportagem fundamenta a tese de que o aumento da violência na capital paulista, constatada nos últimos meses, tem uma relação direta com o combate mais efetivo, por parte da Polícia Militar, às bases do crime organizado.
De posse das informações que identificam os principais chefes do bando, o serviço de inteligência da PM tem podido planejar operações mais eficientes, o que produz mais baixas importantes entre os criminosos.
Por outro lado, essas ações policiais produzem a onda de violência registrada recentemente, e que resultou nos assassinatos de 73 policiais militares somente neste ano.
O material apreendido pela polícia e revelado pela Folha demonstra o grau de complexidade da organização criminosa, cujo poder se cristaliza no interior dos presídios do estado.
Segundo a reportagem, cada delinquente cooptado pelo bando se compromete a pagar uma mensalidade de R$ 600, passando a receber, em troca, assistência jurídica, suporte para sua família e apoio em suas ações criminosas.
A documentação faz um retrato assustador do poderio do crime, revelando um cenário que não aparece no dia-a-dia dos jornais.