O candidato no espremedor da Globo
A segunda das entrevistas de candidatos à Presidência da República ao Jornal Nacional, desta vez com o ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), indica que a TV Globo pode estar definindo um novo patamar na cobertura da campanha eleitoral.
Assim como na primeira entrevista, que teve na bancada o senador Aécio Neves, do PSDB, a dupla de entrevistadores William Bonner e Patrícia Poeta não aceitou evasivas como respostas.
A diferença no resultado se deveu basicamente ao desempenho dos dois candidatos: se Aécio Neves titubeou diante da assertividade dos jornalistas, Eduardo Campos mostrou um tom de voz sereno e firme e uma postura corporal que aparentava segurança.
Ao olhar o tempo todo para os entrevistadores, evitando dirigir-se à câmera que o focalizava durante o questionamento, Campos fugiu de uma armadilha muito comum na comunicação televisiva e procurou se mostrar envolvido no debate; quando virou o rosto para falar diretamente ao telespectador, no final da entrevista, fez um movimento natural e adotou um tom de voz adequado ao colóquio.
Um novo padrão parece estar se definindo nessa série de encontros entre os candidatos e os ocupantes da bancada de maior audiência na televisão brasileira.
Basicamente, o que se viu até aqui foi a escolha de uma pauta crítica que é levada pelos entrevistadores ao limite do tempo, com alguma flexibilidade para testar a capacidade do entrevistado de se adequar ao nível de resposta exigido.
No caso de Eduardo Campos, os três pontos focais foram a acusação de nepotismo no caso da nomeação de sua mãe e dois primos para o Tribunal de Contas de Pernambuco, o rompimento de sua aliança com o PT e supostas contradições em seu programa de governo.
Ao perguntar com insistência sobre a atuação do ex-governador na escolha da mãe e outros parentes para o cargo público e vitalício, Bonner obrigou o candidato a fazer uma afirmação que muitos eleitores haverão de questionar.
Com todos os argumentos que apresentou, não há como escapar à ideia de que ele favoreceu a própria mãe, mesmo que ela tenha todos os predicados que ele enalteceu.
Oportunidade perdida
Além dessa questão ética, a dupla do Jornal Nacional procurou encurralar o candidato, ao expor o que consideram inconsistências em suas promessas de oferecer escola em tempo integral, garantir passe livre nos transportes para alunos de escolas públicas, aumentar os investimentos em saúde para 10% das receitas da União, multiplicar por dez o orçamento da segurança e manter o poder de compra do salário mínimo – tudo isso combinado com um corte severo nos gastos públicos.
Eduardo Campos também foi confrontado com o fato de ter se mantido fiel ao governo do PT desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula da Silva, mesmo durante o período mais crítico do escândalo conhecido como "mensalão", rompendo a aliança apenas quando se apresentou a chance de sair candidato à Presidência.
Da mesma forma, teve que explicar supostas incoerências entre seu discurso e as posições defendidas por sua candidata a vice-presidente, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva.
O candidato do PSB se saiu melhor que Aécio Neves pela qualidade de sua expressão oral e corporal, e analistas do seu partido, citados pelos jornais nesta quarta-feira (13/8), consideram que ele ganhou pontos ao caprichar no sotaque nordestino.
No entanto, o próprio estilo e o ritmo proposto pelo telejornal impõem um valor negativo às respostas evasivas.
E Eduardo Campos foi evasivo na maior parte da entrevista, ao se ver confrontado com supostas contradições.
Embora sua voz, analisada no computador, passe uma impressão de serena firmeza, o conteúdo de suas respostas deixou penduradas várias perguntas e produziu um vazio no que se refere ao compromisso de mudança proposto pela aliança com Marina Silva.
A entrevista era uma oportunidade para apresentar didaticamente ao eleitor um esclarecimento sobre a proposta de sua candidatura, como opção para a bipolaridade na política nacional.
Ao se desviar do valor simbólico representado pelo apoio da ex-ministra do Meio Ambiente, ele se iguala ao padrão que afirma combater.
Com voz firme e olhar sereno, Eduardo Campos falou bem, mas disse pouco.
Um erro grave foi a tentativa de associar o atual governo à derrota da seleção brasileira para a Alemanha, por 7 a 1.
Fazer graça com esse episódio vexaminoso do esporte nacional pode lhe custar caro.