O derretimento de Aécio Neves
Os jornais desta quinta-feira (28/8) seguem analisando o desempenho dos três principais candidatos à Presidência da República no debate promovido pela TV Bandeirantes na noite de terça.
Também há reportagens sobre o enfrentamento entre a ex-ministra Marina Silva e a dupla de apresentadores do Jornal Nacional da TV Globo, ocorrida na noite de quarta-feira.
No quadro geral, parece haver uma tendência a considerar que a candidata do PSB deslocou definitivamente para uma posição subalterna o candidato do PSDB, Aécio Neves.
Embora, por dever de ofício e hábito de fidelidade, ainda façam registros dos movimentos do ex-governador de Minas Gerais, os diários de circulação nacional não dissimulam o desânimo que se abateu sobre os tucanos.
Nem mesmo a volta do economista Armínio Fraga, como futuro ministro da Fazenda num eventual governo do PSDB, anunciada por Aécio Neves, foi capaz de animar a imprensa.
Contemplado com um generoso espaço em entrevista no Estado de S. Paulo e com o artigo principal na página de opinião da Folha, Armínio nada acrescenta à disputa: afinal, com ele ou sem ele, o PSDB promete o que o mercado quer.
O rescaldo do debate na Band e da entrevista de Marina Silva no Jornal Nacional é uma profusão de palpites e especulações, porque a imprensa ainda não possui dados para avaliar o efeito dessas primeiras exposições da candidata fora da propaganda eleitoral.
As interpretações do desempenho de Marina Silva no confronto direto com seus oponentes e diante do moedor de carne do telejornal da Globo ainda refletem o desejo de cada analista, sem novos elementos, e o tom geral é o de consternação pelo evidente estrago que sua ascensão está produzindo nas pretensões de Aécio Neves.
Os jornalistas se limitam a considerar apenas as candidaturas do PT, do PSB, e do PSDB, porque representam as principais forças políticas e são as únicas com potencial para vencer a eleição.
O sistema eleitoral é cruel com os minoritários.
Por essa lógica, a imprensa vai aos poucos deixando em segundo plano o candidato Aécio Neves.
As apostas na ex-ministra do Meio Ambiente começam a aparecer.
O desafio de Marina
Já se podem ler, aqui e ali, especulações sobre como seria um governo de Marina Silva.
O próprio candidato do PSDB comete um erro tático ao colocar em questão qual seria a escolha da ex-ministra, caso eleita, uma vez que ela declarou que gostaria de governar com apoio dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva.
Colocado na defensiva, Aécio Neves se apressa em produzir factoides, ação típica de quem percebe o barco a fazer água.
Ao oferecer ao leitor esse cenário, a imprensa reforça a percepção geral de que o jogo será decidido entre as duas mulheres que lideram as pesquisas de intenção de voto.
No entanto, é falsa, ou pelo menos ainda carente de comprovação, a ideia de que Marina Silva avança inexoravelmente para Brasília: a rigor, o total dos eleitores que declaram votar nela não aumentou em cinco meses.
Conforme observa o colunista Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, os 29% com que Marina ultrapassa Aécio Neves na pesquisa mais recente do Ibope são os mesmos indicadores, na margem de erro, que ela exibia em abril, quando não era candidata a presidente.
Ao apresentar Marina como um furacão avassalador, os jornais omitem que, na verdade, ela tinha mais eleitores virtuais quando estava no banco de reservas.
A grande exposição que obteve na mídia com a morte trágica do antigo titular da chapa do PSB, Eduardo Campos, tinha potencial para lhe dar um impulso muito maior.
O que pode inibir sua evolução é exatamente o tipo de contradição exposta pela dupla do Jornal Nacional: sua aliança com inimigos do ambientalismo, as suspeitas de que foi beneficiada por dinheiro de caixa dois ao usar um avião cuja compra está sendo investigada pela Polícia Federal.
Seu desafio está apenas começando: para consolidar as chances de ser eleita, Marina Silva precisará colher mais votos entre os petistas decepcionados e avançar no campo da oposição, porque ela já esgotou o manancial dos indecisos e desanimados que historicamente se omitem ou anulam o voto – e a base de militantes do PSB é exígua.
Mas o discurso que conquista uns espanta os outros.