O verdadeiro pai do Real
O noticiário sobre a morte do senador Itamar Franco, destaque nas edições dos jornais de domingo e desta segunda-feira, descreve a concentração, durante o velório, de personagens importantes que representam um resumo da história recente do país.
Nomes como Fernando Collor, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Renan Calheiros, entre outros, foram citados na galeria das personalidades que homenagearam o falecido.
Os costumeiros perfis lembraram o temperamento do ex-presidente, tido como homem metódico e honesto, que cumpriu seu curto tempo de governo sem barganhas com o Congresso.
Itamar costumava se queixar de que era tratado como uma figura menor na história recente da República.
Havia governado por apenas três anos, entre 1992 e 1994, após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, do qual era vice.
Segundo os jornais, já no hospital, onde se tratava de complicações provocadas pela leucemia, queixou-se a um amigo que talvez depois de morto lhe fariam justiça.
Comumente, os jornalistas lhe davam mais destaque por aspectos menos importantes, como o topete que caracterizava sua cabeleira, e os comentários que provocava ao aparecer ao lado de mulheres bonitas.
Depois de morto, Itamar foi reconhecido pela imprensa como o verdadeiro pai do Plano Real, lembrando que foi sua determinação de recompor o poder de compra dos salários que orientou as medidas econômicas que permitiram conter a espiral inflacionária.
Além disso, um ou outro comentarista lembra que ele deu plena liberdade aos técnicos coordenados pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso e não permitiu que os interesses de parlamentares interferissem na aplicação do orçamento e nas mudanças da economia.
Com essa correção da História, a imprensa, ainda que discretamente, acaba por retirar a paternidade do ex-presidente Fernando Henrique, que, para desgosto de Itamar Franco, era sempre louvado como o responsável pelo controle da inflação.
Pirataria política não dá pauta
O tema foi trazido a público pela Folha de S.Paulo na semana passada e movimentou autoridades, conduzindo ao anúncio de que a Polícia Federal vai investigar a suposta ação de “hackers” que teriam copiado mensagens da presidente Dilma Rousseff na internet.
A Folha chegou a publicar fotografia de uma suposta reunião com o invasor, que teria tentado vender arquivos de conversas online a representantes de partidos da oposição e até ao próprio jornal.
Ainda antes disso, ao longo do mês de junho, haviam sido noticiadas invasões a sites de instituições públicas, e durante semanas os contribuintes ficaram impedidos de completar operações eletrônicas junto à Receita Federal, como, por exemplo, agendar consulta com auditores da malha fiscal.
No meio desses distúrbios, o ex-ministro José Dirceu enviou comunicado à direção do UOL, empresa do grupo Folha, informando que também teria havido problemas com seus emails.
Durante o período, registraram-se as manifestações de praxe de autoridades e especialistas procurados pelos jornais e o assunto foi esquecido, até o domingo, dia 3, quando apareceu num editorial da Folha no qual se fazia um alerta sobre o atraso na conclusão do Centro de Defesa Cibernética e a demora do Congresso Nacional em atualizar a legislação sobre crimes eletrônicos.
Mesmo quando a polícia consegue identificar e prender os criminosos, que a imprensa chama de infratores, fica difícil puni-los.
Mas na edição desta semana, que foi distribuida entre sexta-feira e sábado, a revista Época coloca um pouco de pimenta na mistura.
A revista tinha dedicado sua principal reportagem, na semana anterior, à praga da pirataria eletrônica, que vinha atacando o Brasil.
Nesta semana, o colunista Paulo Moreira Leite lembrou, por exemplo, que a senha de José Dirceu fora modificada por um funcionário do UOL e que o ex-ministro estaria convencido de que 25 mil emails teriam sido interceptados.
Além disso, a revista informava que assessores do Planalto, numa investigação preliminar sobre a quebra de sigilo eletrônico da então candidata Dilma Rousseff, haviam concluído que a invasão não teria sido resultado de ação de hackers adolescentes, mas de espionagem política de gente grande.
A afirmação não encontrou repercussão nos jornais do fim de semana nem nas edições desta segunda-feira, dia 4.
Teoricamente, a ocorrência de um esquema de espionagem eletrônica entre políticos seria um assunto muito mais instigante do que a rotineira quebra de segurança de sites por piratas da internet.
Estranhamente, os jornais não demonstram a menor curiosidade a respeito.