Reviravolta no caso Strauss-Kahn
Os jornais desta sexta-feira informam que o ex-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, pode ter sido vítima de uma conspiração.
Acusado de agressão sexual e tentativa de estupro por uma camareira do hotel onde se hospedava, em Nova York, ele foi retirado da primeira classe do avião em que havia embarcado, no dia 14 de maio, e levado diretamente à presença de um juiz em Manhattan.
Indiciado, foi algemado e exibido à imprensa como um troféu.
As imagens foram exaustivamente repetidas na televisão e o escândalo o obrigou a se demitir do cargo.
A ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, assumiu seu lugar terça-feira passada, dia 28.
Apesar das circunstâncias controversas relatadas pela camareira, que alegou ter sido atacada quando entrou para limpar o quarto ocupado por Strauss-Khan, a imprensa em peso comprou a tese do estupro.
Histórias sobre a compulsão sexual do economista foram repetidas durante dias, e seus relacionamentos extraconjugais vieram à tona, reforçando a hipótese de que ele havia mesmo atacado a camareira.
Exames feitos por peritos confirmaram que houve contato sexual entre os dois, e ela foi apresentada como uma pobre imigrante africana, muçulmana, que luta sozinha para criar uma filha adolescente.
A imprensa “comprou” a história. Repórteres enviados à África fotografaram a aldeia de Thiakoulle, na Guiné, onde ela nasceu numa casa de barro, sem eletricidade nem água encanada.
Era a caçula de cinco filhos, religiosa. Numa das versões, era mãe solteira, em outra, viuva de um primo com quem fora obrigada a se casar ainda adolescente.
Havia emigrado para os Estados Unidos para fugir da miséria.
Parentes, vizinhos, colegas de trabalho e ex-empregadores foram entrevistados para reforçar o contraste entre a pobre mulher e o todo-poderoso chefe do FMI.
Colunistas despejaram páginas e páginas de indignação feminista.
Agora, os jornais informam que o caso será revisto por iniciativa da própria promotoria de Nova York.
A camareira é suspeita de haver tramado o caso, de ter ligações com traficantes e de envolvimento em lavagem de dinheiro do crime.
Strauss-Khan passa 24 horas por dia vigiado por guardas armados, pelos quais é obrigado a pagar, e monitorado por equipamentos eletrônicos.
As versões de sempre
A partir de uma notícia publicada na quinta-feira pelo site do New York Times, os jornais informam que a promotoria de Manhattan chamou os advogados de Strauss-Khan nesta quinta-feira para dizer que a história pode ter sido diferente.
Segundo as autoridades americanas, na época em que se encontrou com Strauss-Kahn, a camareira conversou por telefone com um traficante que estava preso e discutiu com ele quanto poderia ganhar se acusasse o diretor do FMI de estupro.
A conversa teria sido gravada.
Esse personagem faz parte de um grupo de pessoas que depositaram dinheiro na conta da camareira, num total de US$ 100 mil, duran te os últimos dois anos.
Nesta sexta-feira, era certo que o processo por estupro seria anulado pela Suprema Corte estadual de Nova York e Strauss-Khan liberado em seguida.
No máximo, o ex-diretor do FMI pode ser acusado de “má conduta”, conforme proposta de acordo que já teria sido feita a seus advogados.
Ele teria ainda alguns dias de restrição até seu passaporte ser devolvido.
Pode voltar à vida civil, mas terá perdido o cargo e a imprensa não informava se ele poderá retomar a candidatura a presidente da França.
Quanto à camareira, se for comprovado tudo que agora se diz dela, poderá ser presa ou deportada.
Segundo a nova versão da promotoria, ela mentiu seguidamente desde o dia 14 de maio, quando fez a acusação contra Dominique Strauss-Khan.
Teria mentido também no pedido de asilo.
Nos próximos dias, o mundo será inundado por mais revelações, boatos, especulações e teorias variadas.
Milhões de pessoas vão continuar acreditando que Strauss-Khan foi vítima de uma conspiração armada por seu adversário político, o presidente francês Nicolas Sarkozy.
Outros milhões vão dizer que na verdade trata-se da repetição da velha história: o homem branco, poderoso e europeu, estuprou a pobre mulher africana, muçulmana e trabalhadora, e foi inocentado pela Justiça imperialista.
A verdade?
A verdade vai ficar em algum ponto entre essas duas versões, mas ninguém vai apagar as imagens de Strauss-Khan, algemado e humilhado.