Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Revisando a História

Deu na Folha de S.Paulo, nesta terça-feira, dia 29: o ex-presidente Fernando Collor de Mello nega ter recebido ajuda do principal executivo da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, durante a campanha eleitoral de 1989.

Boni, como é conhecido, declarou em entrevista à Globo News, no sábado passado, que teria feito recomendações ao então candidato à Presidência antes do debate com seu oponente na época, o líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o ex-dirigente da Globo, Collor foi aconselhado a tirar a gravata, passar glicerina no rosto para simular transpiração e colocar sobre a bancada do debate uma pilha de pastas com papéis vazios, para simular dossiês que poderiam ser usados durante o confronto.

Segundo Collor, nada disso aconteceu.

Ele negou também que sua assessoria tivesse pedido ajuda ao então chefão da emissora.

“Nunca pedi a ninguém para falar com o Boni, meu contato era direto com o doutor Roberto”, afirma o ex-presidente, referindo-se a sua relação com o falecido controlador do grupo Globo.

Collor nega que tenha havido uma “produção” da Globo favorável a si no debate e afirma que as pastas foram levadas por ele mesmo e continham números da economia, que não chegou a usar no confronto com Lula.

Também é citado na reportagem da Folha o atual diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, que não se diz surpreso com a declaração de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho.

De fato, segundo Kamel, Roberto Marinho orientou Boni a auxiliar Fernando Collor para o debate antes do segundo turno das eleições, e que o episódio, se era factível no contexto histórico da época, hoje seria impossível na Globo.

O executivo da emissora não explica se o histórico de interferências da emissora em fatos políticos importantes era prática pessoal de seu fundador, Roberto Marinho, rejeitada pela atual direção do grupo.

O caso mais rumoroso refere-se exatamente à campanha de 1989, vencida por Fernando Collor no segundo turno, mas a lista é grande.

O fato é que a divergência pública entre Boni e Collor confere certa verossimilhança à teoria segundo a qual a Rede Globo sempre manipulou informações durante disputas eleitorais para favorecer seus candidatos preferidos.

Ali Kamel também não esclarece por que o contexto histórico impediria, hoje em dia, manipulações ou noticiários tendenciosos. A Globo resolveu abdicar de influenciar a política, ou apenas passou a adotar um estilo mais discreto?

Observatório na TV

Certas práticas da nossa imprensa, e em especial o papel da Rede Globo em episódios importantes da história nacional, ainda não geraram produtos importantes na cinema documentário brasileiro.

O filme mais polêmico sobre o assunto foi feito pelo diretor britânico Simon Hartog há mais de vinte anos e continua oculto para os brasileiros em geral.

O documentário, intitulado “Beyond Citizen Kane” – o título em português seria “Muito além do Cidadão Kane”, é um relato impiedoso do poder de Roberto Marinho e sua emissora.

A Rede Globo tentou de todas as maneiras impedir que fosse exibido em qualquer parte do mundo, e conseguiu retardar seu lançamento por quase três anos.

No Brasil, além das cópias piratas trazidas de Londres, houve uma exibição privada, no centro cultural da Câmara dos Deputados, em junho de 1993, para uma pequena platéia de parlamentares e jornalistas.

Ao contrário da indústria cinematográfica americana, o cinema brasileiro não costuma discutir a imprensa, nem em ficção e muito menos no género documentário.

O Observatório da Imprensa desta terça-feira vai abordar o assunto e tentar desenhar um cenário do documentário nacional.

Pode parecer que esse tipo de produção ficou relegado a um público restrito, porém nos últimos anos, uma boa safra de filmes tem conseguido romper barreiras e chegar ao circuito comercial. Esta possibilidade fez com que o grande público se aproximasse do gênero e demandasse novos títulos.

Para falar sobre o assunto, Alberto Dines recebe no estúdio os cineastas Eduardo Escorel e Vicente Ferraz. O programa ainda ouviu a opinião dos críticos de cinema Carlos Alberto Mattos e Pedro Butcher e dos documentaristas Júlia Bacha e Silvio Da-Rin. Também falam ao programa, através de entrevistas gravadas, diretores com destaque na produção de filmes documentário: Silvio Tendler, Vladimir Carvalho, Evaldo Mocarzel e Eduardo Coutinho.

O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV-Brasil, ao vivo em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.