Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Tapajós ameaçado
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Tapajós ameaçado
O jornal Valor publica nesta quinta-feira (26/7) reportagem de André Borges sobre problemas ambientais e sociais criados por garimpos ilegais na bacia do Rio Tapajós, no Pará. Ontem, o repórter mostrou como o plano do governo de construir a última grande hidrelétrica poderá impor um custo ambiental sem precedentes na história do país. André Borges conversou com o Observatório da Imprensa.

André Borges – A reportagem do Valor passou uma semana na região amazônica, percorrendo pela floresta, pela estrada, no caso, a Transamazônica. Fomos com o fotógrafo Ruy Baron, que acompanhou a reportagem, para entender um pouco desse projeto que se pretende no Rio Tapajós. O Rio Tapajós, em volume de água, é um dos maiores que existem ali na região e até o momento não existe hidrelétrica. Nesse momento são duas usinas na região do Médio Tapajós. Nós estivemos na cidade de Itaituba, passamos por ali, conversamos com a população local, fomos até aldeias indígenas, fomos até comunidades ribeirinhas, para sentir um pouco do que as pessoas que vivem nessa área pensam, recebem a ideia de se construir usinas nessa parte do Tapajós. O resultado é bastante delicado. A leitura que se faz da impressão dessas pessoas é uma leitura bastante crítica e de um sentimento de apreensão por parte da população. O governo quer fazer o que no Tapajós? Existe uma usina, que é a de São Luiz do Tapajós, que leva o nome do rio, que seria a última grande usina hidrelétrica do Brasil. Nós olhamos o que existe planejado para os próximos 10 anos para construir usinas no país inteiro: nenhuma se equipara à potência desta usina especificamente, que teria 6130 mW de potência. É energia para 15 milhões de residências no país – para dar ideia do que isso representa. Mais para cima, no mesmo Tapajós, o governo pretende construir a Usina de Jatobá e esta usina adicionaria em torno de 2500 mW. A gente teria uma população atendida próximo de 21 milhões de lares no país. Isso, fazendo a conta, equivale a 38% das casas que o Brasil tem.

Do lado do governo, pensando do ponto de vista estratégico, do que estas usinas significam para a garantia de geração nos próximos anos, para que o país não tenha problemas de fornecimento, e que não fique no escuro, de fato um peso relevante. Agora, é preciso analisar o que é que isso significa também do ponto de vista ambiental.

O.I. – André Borges faz uma comparação.

André – Enquanto Belo Monte alaga 516 km², você no Tapajós está está alagando 1300 km². É duas vezes e meia Belo Monte. Em Belo Monte você já teve boa parte daquela mata de alguma maneira utilizada. Uma boa parte da área que vai ser alagada era utilizada como pasto, por exemplo. A estimativa, mais ou menos, é de que 60% da mata inundada pela barragem de Belo Monte já tinha algum tipo de ocupação. No caso do Tapajós, 99% do que existe ali é conservado. Por quê? Porque a gente está falando de uma área que, antes de o governo por meio de uma medida provisória reduzir essas unidades, eram unidades protegidas. Por um lado, a gente te uma lei [que diz] que não pode ter usina dentro de serva, mas para isso tem uma medida provisória que vai lá e corta um pedaço da reserva, e está tudo certo.

O.I. – Nesta quinta-feira, noticia-se no Estado de S. Paulo que engenheiros foram feitos reféns por índios em Belo Monte. Na vila de Pimental, que segundo o repórter do Valor virou símbolo da resistência ao projeto de erguer usinas no Tapajós, moradores proibiram a entrada de pesquisadores de empresas de licenciamento ambiental contratadas pela Eletronorte. Borges mostra na reportagem de hoje como o garimpo invade áreas de preservação ambiental no Pará.  As duas reportagens do Valor foram publicadas num momento muito oportuno para ampliar a discussão, porque o Ibama ainda não deu as licenças indispensáveis à realização da licitação das obras.

Pará violento
Uma repórter e um fotógrafo do Globo tiveram que fugir na segunda-feira (23/7) da cidade de Redenção, perto da fronteira do Tocantins. Foram ameaçados pelo prefeito da cidade. Wagner Fontes, do PTB, investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, disse à repórter Carolina Benevides: “Se alguém falar mal a fim de difamar, pode ser que amanhã ou depois esteja morto”. Ela e o fotógrafo Marcelo Piu precisaram ser escoltados pela PF até o estado vizinho, porque a PM paraense parecia disposta a transformar em crime a ameaça do prefeito.