Tudo acaba na arquibancada
Os jornais desta terça-feira, dia 5, apostam claramente que a proposta de fusão entre o grupo Pão de Açúcar e a filial brasileira da francesa Carrefour não vai seguir adiante.
O Estado de S.Pauloe o Globo reproduzem declaração do presidente do grupo francês Casino, de que vai fazer valer o acordo de acionisas e asumir no ano que vem o controle da empresa fundada pela família Diniz.
Já a Folha de S.Paulo afirma que o próprio governo brasileiro prevê o fracasso da fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour.
Assim, em pouco menos de uma sema aquilo que foi anunciado como uma das maiores operações comerciais dos últimos tempos pode acabar em chabu.
Há muitas lições a tirar do episódio, principalmente no que se refere ao comportamento da imprensa.
Quando o empresário Abilio Diniz comunicou ao mercado que havia obtido crédito do BNDES e do banco BTG Pactual para adquirir participação nas lojas Carrefour do Brasil, desatou-se uma enxurrada de palpites, que não levavam em conta muitos aspectos do negócio.
Um desses aspectos, como diria o falecido craque Garrincha: ninguém havia perguntado a opinião dos russos – no caso, os franceses do grupo Casino.
Mas a imprensa seguiu sua rotina, acumulando opiniões onde não havia informação suficiente: até mesmo parlamentares da oposição foram ouvidos, e aquilo que seria um negócio privado com apoio do banco público de fomento virou uma questão político-partidária.
Logo alguém sacou da gaveta a proposta de convocar ao Congresso o presidente do BNDES.
No rolo das precipitações, o mercado deu os sinais que Abilio Diniz queria: mesmo com o grupo Casino declarando que a negociação entre o Pão de Açúcar e o Carrefour havia sido feita sem consentimento dos acionistas majoritários, o mercado reagiu favoravelmente, com uma alta no valor das ações.
Mas os franceses contra-atacaram, adquiriram em Bolsa R$ 1 bilhão em papéis do Pão de Açúcar e foram levar ao BNDES sua posição contrária ao negócio.
Oficialmente, o BNDES, que considera a proposta de Abilio Diniz um bom negócio, afirma que só manterá o apoio prometido se houver um entendimento entre os sócios.
Antes, o Cade já havia assegurado que não permitiria o fim da concorrência entre as grandes redes de varejo.
Mas o clima de arquibancada estava instalado e os brasileiros já berram nas redes sociais seus slogans contra e a favor do governo.
Um jornalista ilegal
Há pouco mais de uma semana, o jornalista filipino José Antonio Vargas virou polêmica na imprensa internacional. Não com uma reportagem, mas como pauta.
O repórter, que ganhou o prêmio Pulitzer em 2008, revelou que vive nos EUA como imigrante ilegal, em uma reportagem no site do New York Times intitulada “Minha vida como imigrante sem documentos". Vargas havia escondido essa informação de seus ex-empregadores e, por quase 20 anos, conta ter sofrido com sua condição.
Reconhecer publicamente seu estatuto significa para Vargas colocar em risco sua permanência no país, mas também faz parte de uma estratégia para pressionar pela aprovação de uma lei que apoie imigrantes ilegais que chegam antes da maioridade aos EUA – como foi o caso de Vargas.
A reportagem, cuja publicação foi negociada com o New York Times, havia sido pautada primeiramente no Washington Post, jornal em que Vargas trabalhou, mas não foi publicada, segundo o ombudsman do Post, Patrick Pexton, porque jornalista não pode mentir.
O episódio traz importantes questões sobre o papel do jornalista e o funcionamento da própria imprensa.
Os fins justificam os meios? Um repórter que mente sobre sua condição de imigrante ilegal pode ser considerado confiável? A coragem de escrever o artigo e delatar sua própria condição não seria a maior prova da honestidade do profissional?
E a postura do New York Times, foi correta ou oportunista? O Post deveria ter sustentado a pauta de seu funcionário?
O Observatório da Imprensa na TV desta terça-feira traz essa e outras questões a campo.
O presidente da Associação de Correspondentes Estrangeiros, Roberto Cattani, e o jornalista e professor Rosental Calmon discutem o caso no estúdio, com Alberto Dines. De Londres, participa Silio Boccanera, e, de Nova York, Lúcia Guimarães.
O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV-Brasil, ao vivo em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.
(Com Tatiane Klein)