A corrupção investigada
Engana-se quem acha que as apurações no Congresso Nacional, no Ministério Público e na Polícia Federal sobre corrupção estão paradas. Avançam, e o noticiário dos jornais reflete isso todo dia. São fatos que disputam as manchetes com o processo eleitoral, mas que ainda não esgotaram seu potencial de indignar a opinião pública.
Vale-tudo em horário nobre
O Alberto Dines critica o nivelamento por baixo dos jornais televisivos da Globo e da Record.
Dines:
– A competição entre o Jornal Nacional e o Jornal da Record está adquirindo um padrão vale-tudo. Quem sai perdendo é o telejornalismo e o telespectador. Deveria ser o contrário. A competição, em geral, tende a melhorar os serviços e melhorar os produtos. Mas na conquista das audiências a concorrência feroz baixa o nível, nivela pelo pior e estabelece padrões de qualidade inaceitáveis. A quem apelar? Ao cansaço. Não temos nenhum organismo capaz de regular a qualidade. O Conselho de Comunicação Social, que funcionava como órgão auxiliar do Senado, está no estaleiro. E o telespectador brasileiro está entregue à sanha da luta pelo ibope. Esta é a nossa versão da guerra religiosa. Em nome da liberdade de informar, o desprezo pela decência.
Aqui e Agora
Dines, a televisão brasileira teve uma recaída nos padrões do Aqui e Agora, de triste memória, que o SBT criou na década de 1980.
TV digital a conta-gotas
Finalmente diminuiu a letargia da imprensa e no fim de semana se publicou material sobre a iminente escolha dos padrões tecnológicos e o modelo de negócios da TV digital no Brasil. Mas muita coisa ficou de fora, como o trabalho de pesquisadores universitários, o interesse da indústria brasileira e as opções no mercado publicitário.
O jogo das provocações
A mídia brasileira aborda de maneira superficial a questão das charges charges consideradas ofensivas aos muçulmanos publicadas em setembro num jornal da Dinamarca. Há uma semana os desenhos, de cunho racista e preconceituoso, provocam protestos e atos de vandalismo em países de maioria muçulmana. Já se fez editorial, na Folha de S. Paulo de ontem (5/2), em defesa da liberdade de imprensa, mas ignora-se a natureza política da iniciativa do jornal dinarmarquês.
Maria Fabriani, jornalista brasileira que vive na Suécia, diz por que os jornais suecos se recusaram a republicar as charges.
Maria:
– Eles disseram que a questão toda era problemática porque nasceu de um incitamento político na Dinamarca, país que tem um governo essencialmente de direita, e muito reacionário, e muito extremista no sentido de limitar a imigração. Eles têm muito pouca tolerância. A desculpa dos editores suecos, se podemos falar de desculpa, é que eles não querem confirmar uma intolerância que nasceu na Dinamarca, um país evidentemente intolerante se comparado com seus vizinhos nórdicos.
Mauro:
– Como era de se prever, começaram a ser publicadas em meios de divulgação árabes, em resposta à provocação dinamarquesa, charges anti-semitas grotescas. O Estadão desta segunda-feira, 6 de fevereiro, fala do site da Liga Árabe Européia. É lixo. O episódio atiça o pior do reacionarismo em diferentes latitudes.
A imagem de Chávez
Enquanto o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, parece se atolar em problemas de desgoverno e proclama a intenção de armar uma milícia de um milhão de homens e mulheres, cresce em meios mais politizados uma polêmica em torno do tratamento dado nos grandes jornais brasileiros a Chávez e outros líderes ditos de esquerda eleitos na América do Sul. O editor de Internacional da Folha de S. Paulo, Marcos Guterman, diz que onde alguns vêem uma escolha desfavorável o que existe é a recusa de tomar uma posição favorável, partidarizada ou ideologizada.
Guterman:
– Não vou dizer que a imprensa se coloque de maneira imparcial quando se trata do Chávez. No que nos diz respeito aqui, a gente tenta sempre que possível, na maior parte das vezes – embora o jornal já tenha feito vários editoriais contrários ao governo Chávez –, pelo menos no que diz respeito à cobertura diária aqui a gente tenta botar todos os lados da questão. Mas como a coisa toda é muito ideologizada, fora dos jornais, cobra-se muito que os jornais tomem uma posição. E em geral quem cobra, cobra que seja a favor. Então, fica parecendo que os jornais, ao não tomar uma posição a favor do Chávez, são contra o Chávez.
(A entrevista completa do editor de Internacional da Folha de S. Paulo pode ser lida aqui.)
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