A crise não arrefece
Antecipação das eleições de 2006, CPIs e Ministério Público disputam espaço no noticiário político. A notícia mais importante que saiu do fim de semana é a que liga a empresa Coteminas, do vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, aos esquemas de financiamento do PT.
Com a perda da imunidade parlamentar, anuncia-se que José Dirceu será ouvido por promotores que investigam o assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André.
Influência da Opus Dei
O Alberto Dines sugere que Diogo Mainardi, da Veja, poderia dar atenção à influência da prelazia católica Opus Dei sobre alguns meios de comunicação.
Dines:
– José Dirceu foi cassado, mas comporta-se como se ainda tivesse o mandato de deputado. E isso é bom. Pode desgastá-lo a médio prazo, mas vai esquentar a crise. Sobretudo, vai agilizar os procedimentos na CPI dos Correios e aumentar a pressão para que sejam rapidamente concluídos os demais processos de cassação de deputados. Com Dirceu na arena, a imprensa ganha um crítico muito combativo. Não propriamente um observador isento e equilibrado, mas um antagonista que não pode ser rifado nem escondido. Quanto mais críticos da imprensa aparecerem melhor para a imprensa. Repare, Mauro, no artigo de Diogo Mainardi na última Veja. O título é uma homenagem escancarada a este Observatório da Imprensa, muito obrigado, mas o texto – conforme ele próprio confessa – é um exercício explícito de macartismo e delação. O pitoresco caçador de bruxas tem horror às esquerdas. Mas já que pretende denunciar o comprometimento político dos jornalistas conviria que não perdesse de vista o avanço da Opus Dei na imprensa. Inclusive onde ele próprio atua. Seria muito instrutivo.
Requião assusta
Luiz Geraldo Mazza é um veterano jornalista do Paraná. Ele explica por que o governador Roberto Requião assusta grande parte da imprensa local, historicamente inclinada, segundo Mazza, ao oficialismo.
Mazza:
– A imprensa do Paraná nasceu oficial, com o jornal 19 de Dezembro, em 1° de abril de 1854, e assim continua. Aquele jornal se obrigava a publicar os atos oficiais. É claro que há uma distância histórica muito grande, mas que mostra aquilo que marca uma condicionante muito forte na nossa História. Tivemos alguns momentos de imprensa livre aqui no Paraná, mas desde o Nei Braga (1961-65) nós temos uma situação de praticamente culto a quem está na chefia de plantão. E isso dificulta o andamento de uma imprensa investigativa, de uma mídia que faça ponderações sobre a realidade, que dê um testemunho mais isento. E hoje, com o governo Requião, isso se acentua porque o Requião tem essa forte personalidade, provocativa, até com algum talento, e as pessoas temem as suas respostas, as suas palestras sobre a imprensa. E isso também serve de fator de intimidação. Aquelas pessoas que procuram, nesse quadro de servidão, agir de uma forma mais aberta, mais independente, são visadas pelas diatribes, pelas piadas ácidas do governador.
Mauro:
– Esse foi Luiz Geraldo Mazza, da CBN Curitiba e da Folha de Londrina. Nei Braga governou o Paraná entre 1961 e 1965. Depois foi duas vezes ministro, durante a ditadura militar.
Imprensa beija-for
A imprensa recebeu duras críticas em encontro internacional na Malásia que discutiu sua relação com o meio ambiente. Um cientista canadense, David Suzuki, disse que a imprensa é parte do problema devido ao excesso de superficialidade e imediatismo. “A mídia consegue prestar atenção às coisas pelo mesmo tempo que um beija-flor”, ironizou Suzuki. A imprensa também foi acusada de trabalhar com falsas certezas absolutas num território em que há tanta incerteza.
Ver também, de Luiz Weis, Ambiente: mídia apanha com razão e sem.
Estado e barbárie
É impossível separar a atuação da polícia e da imprensa na crise de violência do Rio de Janeiro. Uma alimenta a outra para produzir uma visão distorcida dos problemas, que resulta em práticas ineficazes.
Cada vez mais distante da realidade de favelas e bairros pobres, desde o assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, há pouco mais de três anos, a mídia faz uma cobertura superficial e sensacionalista. Embarca a maior parte do tempo na retórica da polícia.