Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A falta que a Varig faz
>>Relação racial

Congresso enfraquecido


Reportagem de Thiago Vitale Jayme no jornal Valor expõe hoje o enfraquecimento do Congresso Nacional, questão estratégica para o país. E Raymundo Costa mostra meticulosamente, em sua coluna, como se formam, em torno da eleição do próximo presidente da Câmara, nuvens carregadas.


A falta que a Varig faz


Alberto Dines lamenta a maneira como governo e mídia encaminharam a crise da Varig.


Dines:


– Este 2006 ainda não acabou, mas já se pode dizer que o ano do centenário do vôo do 14-Bis foi catastrófico para a aviação comercial brasileira. E não apenas por causa da tragédia com o Boeing da Gol, em 29 de setembro, e os sucessivos apagões, mas pela forma irresponsável com que foi conduzida a crise da Varig. É evidente que o governo tem uma grande responsabilidade no encolhimento da empresa pioneira. Mas a quota de culpas da mídia não é menor. Receoso de ser acusado de estatista e intervencionista, o Executivo entregou o destino da empresa às “forças do mercado”. Acontece que o mercado é uma abstração, e, no caso, evidentemente não estava preparado para absorver a demanda nem substituir os serviços oferecidos pela Varig. A prova do erro vem sendo oferecida há dias e culminou ontem com a inédita auditoria determinada pela Anac, a ser feita na TAM. É preciso reconhecer que a nossa mídia não é diversificada. Em algumas questões de caráter econômico ou ideológico age de forma monolítica e paroquial. Se a imprensa não tivesse criado um clima antiintervencionista, o governo, ou parte dele, teria encontrado caminhos para uma intervenção breve e incisiva para salvar a Varig. E hoje, seis meses depois, não teríamos uma TAM desproporcionalmente grande e uma Varig injustamente amputada, que, mesmo assim, saiu-se muito bem na crise. Ainda há tempo para corrigir o erro. Mas convém não prestar muita atenção aos instintos privatistas da mídia.


Erosão de imagem


Na seqüência de oito comunicados publicados desde o dia 14 no site da TAM está um retrato da erosão acelerada da imagem da empresa, construída em décadas. Resta saber se companhias aéreas e autoridades conseguirão evitar no Ano Novo a repetição dos dissabores aeronáuticos natalinos.



Relação racial


O professor Muniz Sodré, presidente da Biblioteca Nacional, colaborador deste Observatório, exorta a imprensa a encarar de frente a realidade das questões raciais no Brasil.


Muniz Sodré:


– Se não há raça, existe a relação racial. É uma relação social construída por aqueles que vivem no imaginário de que as raças existem e de que podem ser superiores, umas às outras. Essa relação racial atravessa também a sociedade brasileira. E ela não pode ser tocada com argumentos econômicos, nem com argumentos puramente sociológicos, porque ela envolve a totalidade do existir. Ela é psicológica, é psíquica, portanto, é inconsciente, e também é, claro, econômica, social.


São os afro-descendentes que carregam, além da condição de cidadania de segunda classe, essa dificuldade inerente à própria cor, que só pode saber, às vezes, ou quem tem empatia, simpatia, ou então quem tem aquela cor.


Esse problema tem que ser enfrentado não com partido político. Nem com radicalismos, nem com guerra, nem enfrentamento de ódios, isso não adianta, isso realmente é uma divisão pela raça que nós devemos afastar da sociedade brasileira. Mas devemos olhar de frente a questão. Reconhecer que ela existe, que ela é real.


Quando a questão racial é levantada, imediatamente se forma uma reação, em jornais, que não é aberta, mas consiste em dizer “Meu Deus, que conversa é essa, é um papo racista dizer que tem separação entre negros e brancos no Brasil”. Não tem segregação. Não tem, como tinha o apartheid africano, ou a segregação como houve nos Estados Unidos, mas existe uma separação dominadora em que aquele que tem o patrimônio da pele clara considera a pele clara como se fosse o paradigma por excelência do ser humano. Isso só pode ser vencido, só pode ser ultrapassado culturalmente. Por cultura, e cultura, eu digo, visceralmente, fundo, incluindo o trabalho psíquico, o trabalho psicológico, e o trabalho educacional.


Clique aqui para ler a entrevista completa de Muniz Sodré.



Explosões em trens


Das páginas de polícia: no Dia, do Rio, a manchete é investigação da Polícia Federal sobre imóveis de luxo comprados por policiais acusados de ligação com o jogo do bicho. No Estadão, preocupação do governo paulista com duas explosões sucessivas em metrô e trem metropolitano. Na segunda explosão, um adolescente ficou muito queimado.