A guerra de George Bush
Os jornais brasileiros tiveram todo tempo do mundo para preparar edições memoráveis sobre os cinco anos da guerra particular do presidente dos Estados Unidos contra o Iraque de Sadam Hussein.
Mas a leitura de hoje deixa a desejar.
Basicamente, como sempre que se trata do noticiário internacional, as páginas são preenchidas com material das agências de notícias.
Os contratos com jornais como The New York Times ou Le Monde garantem enormes artigos que ocupam espaço mas oferecem pouco mais do que opiniões.
O Estado de S.Paulo, que tradicionalmente dá mais atenção aos fatos do mundo, dedica mais páginas ao tema, mas não tem um olhar particular nem analistas próprios.
Seu grande valor ainda repousa sobre os ombros do veterano jornalista francês, quase brasileiro, Giles Lapouge.
A Folha tem dois correspondentes nos Estados Unidos, um em Washington, outro em Nova York.
Mas nenhum deles oferece uma contribuição que não esteja disponível nos sites internacionais e nas agências de notícias.
O Globo nem se deu ao trabalho de fazer uma edição mais alentada para a efeméride.
Saiu com meia página, texto do correspondente em Washington que faz um cozidão do material publicado pelo mundo afora.
E ainda usa uma metáfora pobre, em um pequeno texto editorial, ao afirmar que a conta da guerra será um ‘imenso abacaxi’ que vai cair no colo do próximo presidente americano.
Chamar de ‘abacaxi’ as contas de uma guerra que já matou mais de 90 mil pessoas e destruiu um país é fazer pouco caso do leitor.
São cinco anos da guerra da aliança liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque.
Um número redondo, como gosta a imprensa, e que, afinal de contas, faz pouco sentido, porque a tragédia da guerra acontece todos os dias.
Mas é a imprensa que aprecia efemérides.
É uma forma de marcar os acontecimentos perante a História, e de ajudar o leitor a parar para pensar em determinados acontecimentos importantes.
Há alguns anos, reportagens desse tipo eram usadas como material de pesquisa por estudantes.
A cobertura dos cinco anos da invasão do Iraque não serve nem para isso.
Os leitores terão que esperar a edição de domingo e as revistas semanais.
Quem sabem venham a ter, então, uma idéia das conseqüências da aventura de George W. Bush no Iraque.
A dieta da economia
O noticiário econômico desta semana parece aquelas dietas milagrosas, nas quais o paciente emagrece e engorda como uma sanfona.
Depois do pânico da segunda-feira, seguiu-se o alívio da quarta.
Hoje os jornais anunciam o segundo pior dia da Bolsa de Valores do Brasil, com uma queda de pouco mais de 5% no valor das ações negociadas.
Desta vez, a culpa é das matérias-primas, as chamadas commodities.
Investidores internacionais, que definem os humores do mercado ao redor do mundo, ficaram com medo de uma queda brusca no valor dos ativos e mudaram de estratégia.
Como o Brasil é um dos maiores produtores de commodities, o mercado acendeu a luz amarela e os jornais tocaram as trombetas do apocalipse.
O efeito manada se manifestou outra vez, e a imprensa segue junto com a boiada.
Mas o recrudescimento da crise internacional não cortou o fluxo total de investimentos de estrangeiros no Brasil, o que pode indicar que o País está diversificando suas fontes de capitais.
Tanto as aplicações no mercado financeiro continuam elevadas, por causa dos altos juros brasileiros, como os investimentos produtivos seguem em alta, por causa das oportunidades de negócios abertas no Brasil.
Por outro lado, o consumo interno continua crescendo, e tanto a indústria local quanto os importadores dão sinais de que não conseguem acompanhar o ritmo dos consumidores.
Além disso, o ingresso de milhões de brasileiros pobres na roda das compras, possibilitada pelos programas sociais, vem pressionando alguns setores que vinham de uma longa fase de estagnação.
Quando os pobres vão às compras, pode faltar para a classe média.
Se a demanda aumenta e a oferta não acompanha, não dá para todos.
Conta de padeiro.
Citando a Fundação Getulio Vargas, o Globo informa que a indústria já admite a ocorrência de gargalos.
Ora, o cidadão comum não precisa da imprensa nem de especialistas para constatar que o aquecimento da economia provoca a falta de alguns produtos, como materiais de construção.
Dentro de alguns dias, os jornais vão ‘descobrir’ o que o leitor já sabe: que o cimento sumiu e o preço subiu.