A guerra de Hugo Chávez
Os jornais brasileiros demonstraram agilidade diante da crise militar e diplomática entre a Colômbia e o Equador, na qual tem papel importante o presidente venezuelano Hugo Chávez.
Mas a agilidade da imprensa nacional é como a força militar colombiana: depende basicamente de ajuda externa.
Sem as agências internacionais de notícias, o leitor brasileiro ficaria no escuro, assim como ficam cegas as tropas da Colômbia sem os satélites dos Estados Unidos.
Como o ataque colombiano aos terroristas das Farc aconteceu no domingo, o dia de ontem foi naturalmente dedicado à recuperação da cronologia dos acontecimentos e à definição do espaço geográfico onde ocorrem os fatos.
A partir de hoje ficaremos sabendo se a imprensa nacional tem recursos e agilidade para uma cobertura diferenciada.
O leitor deve imaginar que os jornais estão neste momento numa maratona para ver quem chega primeiro ao local do conflito.
Mesmo com informações limitadas às agências de notícias que dão o tom de todo noticiário global pelo mundo afora, os jornais brasileiros saíram hoje com posições claramente tomadas.
A Folha de S.Paulo preferiu se limitar à reação oficial do Brasil, anunciando que o governo brasileiro condenou a invasão do território equatoriano e exigiu desculpas formais da Colômbia.
O Estado de S.Paulo abre a manchete com a condenação internacional ao ataque da Colômbia, mas adianta o que deve ser o tom daqui para a frente: o possível envolvimento de Hugo Chávez com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
O Globo foi mais explícito, apostando na veracidade da acusação colombiana de que Chávez financia o terrorismo.
É possível que o futuro venha a comprovar que o presidente da Venezuela tem compromissos com a guerrilha, mas no momento trata-se de aposta arriscada.
Até mesmo as agências americanas e européias foram mais leves, apesar das evidentes afinidades entre o discurso bolivariano de Hugo Chávez e a suposta orientação ideológica das Farc.
Acontece que todos os editores sabem que, depois de 40 anos isolados na selva amazônica e distantes da evolução política no continente, os guerrilheiros colombianos são hoje apenas um conjunto de grupos bandoleiros que vivem do narcotráfico e do seqüestro com motivações financeiras.
O comandante Raúl Reyes, morto no ataque de domingo, era uma das raras conexões das Farc com o mundo exterior.
A concessão de motivações políticas aos terroristas abre espaço para justificativas às suas ações criminosas.
E não ajuda o leitor a entender a crise.
Para entender a Lei de Imprensa
A ação coordenada de fiéis da organização chamada Igreja Universal do Reino de Deus contra jornais e jornalistas teve o mérito de acordar a imprensa e as autoridades para a necessidade de rever a fundo a legislação que supostamente deveria assegurar a liberdade de expressão.
Mas as discussões sobre os direitos e deveres da imprensa estão longe de chegar a um ponto comum.
Hoje à noite, o Observatório da Imprensa vai lançar mais luz sobre o tema.
Alberto Dines:
– A Lei de Imprensa caducou. Caducou em parte porque ela é o resto do ‘entulho autoritário’ que sobrou da ditadura. Em parte porque nesta nossa democracia surgiram formas mais sutis para intimidar ou controlar os meios de comunicação. Basta ver o estratagema empregado pelos seguidores do bispo-empresário Edir Macedo para calar aqueles que não aceitam as irregularidades com as quais construiu o seu império mediático. A Lei de Imprensa sofreu nas últimas semanas dois grandes abalos com as decisões da nossa suprema corte. Alguns políticos querem agora um novo código regulador no lugar da Lei de Imprensa, já os donos da mídia rejeitam qualquer idéia de regulação e juristas acham que os instrumentos legais existentes bastam para evitar abusos. A verdade é que o pedido de liminar apresentado ao STF pelo deputado carioca Miro Teixeira do PDT veio em boa hora. Você entenderá porque hoje à noite no Observatório da Imprensa pela TV-Brasil, às 22:40. Pela internet ao vivo no site www.tvbrasil.org.br.
A partir da próxima semana o Observatório volta a ser exibido ao vivo pela TV-Cultura.