A guerra nos jornais
O jornal brasileiro que chegou mais perto do conflito no norte da América do Sul foi a Folha de S.Paulo.
E o relato do repórter que chegou ontem à fronteira da Colômbia com a Venezuela não dá conta de grandes movimentações militares na região.
Ele ouviu queixas de comerciantes, consumidores e taxistas, prejudicados com o fechamento da passagem, mas não registrou a presença de militares e carros de combate.
Os entrevistados criticaram os governantes da região por prejudicarem os negócios.
O Estadão, que descreve a situação nas fronteiras a partir de Bogotá, viu coisa diferente. Afirma que ‘tanques e batalhões enviados por Hugo Chávez’ (…) ‘foram se enfileirando no lado venezuelano’.
Ou seja: para os leitores da Folha, é como um dia de fiscalização mais rigorosa na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu.
Ja os leitores do Estadão vão imaginar que o cenário está mais para a Faixa de Gaza.
Essa é a diferença básica entre o jornalismo testemunhal e o jornalismo das fontes e declarações.
Mérito da Folha.
Mas também é a Folha de S.Paulo o único jornal a dar repercussão à tentativa do PSDB de transferir o conflito para o Congresso Nacional, com uma ‘denúncia’ de que o Brasil teria enviado 31 toneladas de armas para a Venezuela.
A afirmação chegou a provocar a ida do ministro da Defesa ao Congresso, para desmentir a notícia, que foi apanhada por um assessor do senador Arthur Virgílio na internet.
A fonte da denúncia é o estelionatário internacional Keneth Rijock, malandro de baixo quilate que se tornou ‘consultor de empresas’ depois de haver sido condenado por fraudes e lavagem de dinheiro.
Os outros jornais simplesmente ignoraram o fato, provavelmente para preservar o senador amazonense de um vexame maior.
O Globo segue cobrindo a crise a partir de Brasília, Bogotá, Quito e Caracas.
O Estadão enviou repórter ao hospital do Equador onde estão internadas algumas guerrilheiras feridas no ataque, e por aí ficamos sabendo que o acampamento das Farc em território equatoriano tinha três hectares, com infraestrutura para longas permanências, como criação de galinhas e sistema de telecomunicações.
Na soma do noticiário de hoje, o leitor pode tirar algumas conclusões:
Primeira: o Equador e a Venezuela nunca se preocuparam em limitar a liberdade dos terroristas em seu território.
O comandante Manoel Marulana, líder maior das Farc, hoje em dia está mais para Lampião do que para Che Guevara.
A terceira conclusão é que os governantes fazem o conflito, os comerciantes fazem a paz.
Ou, como dizem os gaúchos: ‘Quem mercadeja não quer peleja’.
O governo é bom no caixa
Os jornais comemoram o crescimento da publicidade em 2007.
Mas não há sinais de volta aos anos dourados.
A internet ainda tem uma fatia pequena do bolo, mas segue em firme crescimento.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– O mercado publicitário brasileiro cresceu 9% em 2007 em comparação com o ano anterior, somando receitas próximas a 20 bilhões de reais. Os números são da Pesquisa Inter-Meios, produzida pelo veículo especializado Meio & Mensagem.
Três pontos chamam a atenção nessa pesquisa:
1) Os jornais impressos, que vinham perdendo verbas publicitárias desde 2000, reagiram em 2007 e aumentaram sua participação no mercado de 15,5% para 16,3%, com receitas de 3,1 bilhões de reais.
2) Embora com peso pequeno no bolo, com ingressos de 526 milhões de reais a internet foi o meio a apresentar o maior crescimento relativo em 2007, com 45,76% de aumento em relação a 2006. A líder em faturamento é a televisão, com quase 60% de participação.
3) O maior anunciante é o governo, que investiu 965 milhões de reais em publicidade em 2007. Durante os cinco primeiros anos de gestão do presidente Lula, a publicidade oficial dirigida às redes Record e Bandeirantes aumentou, respectivamente, 150% e 128%. A da Globo cresceu 58,7%.
O governo nega critérios políticos na distribuição das verbas, mas, o que seria desse mercado sem o governo?