Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A pressa que desinforma
>>Afobação e desinformação

A pressa que desinforma


A rapidez com que “envelhecem” as revistas semanais de informação é um dos sintomas de como os novos meios, reestruturados pelas redes sociais virtuais, afetam o jornalismo tradicional.


Observe-se, por exemplo, como, já na segunda-feira desta semana, as reportagens publicadas nas revistas brasileiras sobre a revolução contra a ditadura no Egito pareciam superadas em relação ao que traziam os jornais.


O fenômeno ainda merece estudos mais aprofundados, mas é de se questionar que recursos precisarão inventar as publicações de periodicidade semanal para manter a atenção de seus leitores diante da dinâmica dos fatos.


Já se disse, nos anos 1990, quando começou a era da Internet, que jornais e revistas seriam obrigados a oferecer mais reflexão do que informação,  mas não se pode afirmar que a profusão de colunas, artigos e outros penduricalhos esteja ajudando o leitor a entender melhor o contexto do noticiário.


Persiste ainda, nos meios impressos, certa afobação em definir e explicar os acontecimentos, quando na verdade talvez esteja em curso a valorização gradual e segura do significado em lugar do opiniário puro e simples.


Esse fenômeno, ainda a ser comprovado ou desmentido, pode indicar que o chamado público – que é cada vez mais protagonista – estaria mais disposto a acumular informações antes de interpretar os fatos. 


No caso da revolução do Egito, por exemplo, já na madrugada de sexta-feira – horário brasileiro – as redes sociais divulgavam, a partir da Praça Tahrir, que o ditador Hosni Mubarak havia sido destituido pelo conselho das forças militares.


Este observador chegou a produzir um relato afirmando que Mubarak havia caído.


No entanto, os primeiros informes online da imprensa tradicional afirmavam que o exército egípcio havia dado respaldo a Mubarak, o que autorizava os intérpretes da imprensa ocidental a concluir que o movimento popular havia fracassado.


Temia-se, até, um massacre dos manifestantes, como havia acontecido na praça Tienamem, em Pequim, em 1989.


Afobação e desinformação


As notícias de um retrocesso não combinavam com o relato do “front”, transmitido dos telefones celulares de manifestantes para as redes da Internet, dando conta de que Mubarak havia sido alijado da cúpula do governo.


Só mais tarde, quando o comando militar divulgou o comunicado oficial informando sobre a destituição do ditador, a imprensa ocidental assumiu que o tirano havia caido.


No entanto, desde a manhã as redes sociais refletiam o clima de festa no Cairo, porque os manifestantes haviam entendido que, ao ser deixado de fora da reunião da cúpula de governo, Mubarak estava claramente destituído.


A imprensa tradicional só assumiu esse fato como verdadeiro após a divulgação de uma nota oficial do comando militar.


Quando a pressa em interpretar os fatos se sobrepõe ao cuidado na apuração e análise, corre-se o risco de antepor a opinião do jornalista ao verdadeiro significado do acontecimento.


Observatório na TV


Alberto Dines:


– A crítica da imprensa compreende reflexão, reprovação e também aprovação. Se ao público não se mostra o que é correto, como ensiná-lo a valorizar o que é bom? Sem referências, o leitor, ouvinte ou telespectador se perde e acaba assimilando os erros dos veículos que utiliza para informar-se. O “Observatório da Imprensa” prossegue esta noite na terceira etapa da viagem pelos bastidores de um dos melhores jornais do mundo, o diário espanhol El País editado em Madri. Hoje, teremos Javier Moreno, o diretor da redação, Luis Prados, editor internacional e Winston Sabogal, editor do celebrado caderno de cultura “Babélia”, entre outros. Não esqueça, às 22 horas pela TV-Brasil em rede nacional. Em S. Paulo, pelo canal 4 da Net e 181 da TVA. Os programas anteriores estão disponíveis em nosso site, basta clicar www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/oinatv_anteriores.asp.