O aparato e a substância
A mídia, talvez para se colocar mais próxima do homem comum, destaca a magnitude das operações logísticas que envolvem a visita do presidente George W. Bush. Mais espaço deveria ser dado à discussão de aspectos pouco debatidos da relação bilateral. Por exemplo, a situação dos imigrantes brasileiros clandestinos nos Estados Unidos. Ou a entrada no Brasil de armas pesadas fabricadas ou compradas nos Estados Unidos.
Contra a hipocrisia
Com seu estilo inconfundível, o presidente Lula fez ontem declarações da maior importância sobre a necessidade de prevenir doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.
Segurança não depende só de lei
São importantes as medidas do pacote de segurança aprovado ontem no Congresso, mas elas não devem produzir ilusões. Trata-se, na maior parte dos casos, de corrigir defeitos das leis penais e de processo penal. Ajuda, mas ainda há longo trajeto a percorrer.
Necrológio de um crítico da mídia
Alberto Dines diz que a mídia deu espaço para noticiar a morte de um pensador que a criticava, Jean Baudrillard.
Dines:
– A morte de filósofos não costuma merecer, hoje em dia, grandes espaços na imprensa brasileira. Os editores acham que vale o registro, porém nada além disso: o público não se interessaria por questões muito complicadas. Claro, com Sartre foi diferente não apenas porque ele foi um filósofo, “mediático”, mas porque nossa imprensa, naqueles áureos tempos, era mais sensível às questões de cultura. Por isso chamou a atenção o tamanho e o esmero dos necrológios de Jean Baudrillard publicados ontem no Globo e na Folha. Chamaram mais atenção ainda os preciosos 30 segundos do Jornal Nacional de terça-feira, onde Baudrillard foi apresentado com uma das credenciais maiores: a de implacável crítico da mídia e do consumismo. É evidente que os veículos que publicaram os detalhados necrológios de Baudrillard não endossam as suas críticas, certamente discordam delas com veemência. Mas não puderam eximir-se da obrigação de lembrar o filósofo e, principalmente, a sua filosofia. Foi uma homenagem à inteligência dos seus leitores. Pena que um jornal do porte do Estadão tenha sido tão econômico nesta homenagem à inteligência dos seus leitores.
Colômbia, guerrilha e drogas
Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista do professor Antonio Carlos Peixoto sobre a história política da Colômbia, sob o título “Na Colômbia, a dramática associação entre guerrilha e drogas”.
A volta da Rádio Heliópolis
Geronino Barbosa, Gerô, locutor da Rádio Heliópolis, emissora comunitária da maior favela de São Paulo, diz que ela cresceu e se firmou porque teve apoio dos moradores.
Gerô:
– Quando começou a Rádio Heliópolis, há quinze anos atrás, a gente pensava numa rádio que desse voz ao povo e que trabalhasse as questões de direitos e deveres. Que as pessoas sabem muito que tem dever. Mas direito as pessoas nunca sabiam. Tanto é que a gente falava com as pessoas: você tem direito a educação, saúde, lazer, moradia, e as pessoas não entendiam, falavam: não paguei por isso, não comprei isso… E nós fazíamos diversas campanhas em cima disso. A rádio já nasceu comunitária, só que nós não sabíamos o que era uma rádio comunitária. As pessoas foram tomando posse da rádio, os moradores, e participando, ajudando a divulgá-la. Por exemplo, quando perdia um documento vinha na rádio, pedia para a gente anunciar, quando encontrava um documento vinha entregar na rádio. E aí a Rádio Heliópolis virou o que ela é hoje.
Mauro:
– A Rádio Heliópolis prepara-se para retomar as transmissões. Ela foi fechada em julho passado pela Polícia Federal, por não cumprir exigências legais.
Gerô:
– Ela está fechada na questão, assim, de não estar levando a programação ao ar todo dia. Mas ela está mais no ar do que nunca. Por que eu posso dizer isso? Porque a equipe continua intacta, se reunindo todos os sábados, discutindo a programação. E mais: quando tem um evento na comunidade a gente faz vinhetas para os próprios moradores divulgarem em carros de som, em bicicletas de som, que tem muito na comunidade.
Telefônica terá sua TV
Enquanto a Rádio Heliópolis luta num terreno de tecnologia bem singela, a Telefônica conseguiu ontem autorização da Anatel para lançar sua emissora de televisão por assinatura via satélite. Isso acelera uma mudança que dará nova substância, rapidamente, ao que os especialistas chamam de convergência tecnológica.