A volta da reportagem
A Folha de S. Paulo surpreendeu seus leitores no domingo com uma edição vibrante e destacada das coberturas de rotina.
A diferença, basicamente, está em duas reportagens sobre temas que andaram ocupando os jornais durante a semana anterior.
A primeira, mais óbvia, foi o envio de repórteres às fronteiras da Colômbia com a Venezuela e o Equador.
A segunda, que traz uma abordagem nova para o debate em torno das pesquisas com células-tronco, conta a história de um bebê gerado a partir de um embrião que ficou congelado por oito anos.
Nos dois casos, o jornal paulista simplesmente se desviou do curso comum do jornalismo contemporâneo e decidiu apresentar aos leitores uma visão diferente de dois temas que vinham se tornando repetitivos.
No caso das reportagens sobre o conflito que vem agitando a diplomacia na América Latina, nada de inovador em mandar repórteres ao local dos fatos.
Mas a simples prática do relato direto, que anda ausente dos jornais há muito tempo, surpreende e agrada o leitor, pois demonstra que o diário está disposto em investir naquilo que o cidadão espera quando o adquire: mais informação e menos opinião.
A história de Vinícius, nascido há seis meses de um embrião que permaneceu congelado por oito anos, revela a preocupação do jornal de tirar um pouco o foco de cientistas, religiosos e curiosos em geral que vinham dominando o debate sobre as pesquisas com células-tronco.
Vinícius é um bebê saudável, gerado a partir de um embrião que seria descartado em pouco tempo, e nascido prematuro.
Sua mãe é católica praticante mas favorável ao prosseguimento das pesquisas.
A reportagem coloca um pouco de humanidade num debate que vinha sendo minado, de um lado, por preconceitos religiosos, e de outro pela frieza da ciência e da Justiça.
Nada extremamente ousado ou inovador. Apenas a velha e boa reportagem.
A guerra unilateral das revistas
As revistas semanais de informação se afobaram e entraram numa guerra que não existia mais.
Veja, Época e Carta Capital não esperavam que os governantes da Colômbia, Venezuela e Equador fossem capazes de superar rapidamente a crise diplomática que se iniciou com a morte do subcomandante das Farc, Raul Reyes.
Alberto Dines:
– Nossos semanários continuam tropeçando, principalmente os que abandonaram o jornalismo e se engajaram na política. Veja e CartaCapital saíram neste fim-de-semana com uniforme de campanha, prontas para entrar na guerra por causa das FARC. Veja foi em cima das ‘feras radicais’ (Chávez, Correa, o líder das FARC, Tirofijo e ainda pegou Evo Morales que esteve fora desta). CartaCapital partiu na direção contrária: foi em cima do colombiano Álvaro Uribe, que segundo a revista só tem o apoio de George Bush. Não contavam com a vocação conciliatória latino-americana: enquanto preparavam suas aguerridas edições do fim de semana Colômbia, Equador e Venezuela estavam mergulhados numa batalha diplomática e retórica, mas na sexta à tardinha, em Santo Domingo, República Dominicana, na reunião do Grupo do Rio os combatentes mudaram de opinião. Chávez, Correa e Uribe apertaram as mãos, exibiram sorrisos, trocaram tapinhas nas costas e, depois de uma semana de insultos e ameaças, mostraram-se muy amigos. Enquanto nos jornais de sábado, as manchetes comemoravam o fim da guerrilha verbal, Veja e CartaCapital estavam nas bancas ainda engajadas em suas guerrilhas particulares e enganosas.