A volta do “mensalão”
Passados os efeitos do afastamento de Severino Cavalcanti e da eleição de seu sucessor, que permitiram ao governo respirar, a semana começa com farto material para o trabalho de investigação do escândalo do “mensalão”. O ex-dirigente petista Silvio Pereira resolveu falar. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, diz na Folha desta segunda-feira, 3 de outubro, que o Caixa 2 do PT pode ter vindo do exterior. A reportagem se esqueceu de informar que a comprovação dessa hipótese levaria à cassação do registro do partido. As outras CPIs vão promover acareações importantes e divulgar relatórios parciais.
Pecado original
O Alberto Dines convida a imprensa a abordar com mais ênfase o lamentável estado atual da política partidária.
Dines:
– Mauro, a mídia continua mais assanhada com relação às CPI’s do que com o resto. É óbvio, escândalos rendem mais emoções e mais desdobramentos. Mas a mídia não deveria descurar do caos partidário. Ele é o pecado original. A sucessão de escândalos começou por causa das bandalheiras do PTB e cresceu quando o presidente do PTB resolveu desvendar as bandalheiras do partido do governo e dos demais aliados. A eleição de Severino Cavalcanti e do seu sucessor Aldo Rebelo são exemplos de um vale-tudo que começa e acaba na fragilidade do nosso sistema partidário. A recente criação de um novo partido, PMR, financiado pela Igreja Universal do Reino de Deus ao qual já filiou-se o vice-presidente José Alencar com as bençãos do presidente Lula, é o retrato da devassidão política. E isso acontece dias depois da eleição de Aldo Rebelo, que havia prometido lutar por uma reforma eleitoral capaz de evitar abusos já nas eleições de 2006. Não adianta cassar deputados por falta de decoro se os partidos continuarem a funcionar desta forma indecorosa.
Armas e violência
A Veja desta semana publicou panfletária reportagem de capa contra a proibição da venda de armas e munição. A revista omite sem qualquer escrúpulo argumentos dos defensores do sim. Mas sua argumentação contra a própria idéia do referendo é reforçada por pesquisa do Instituto Ipsos publicada hoje pelo Estado de S. Paulo. A maioria pretende votar sim, mas acha outras medidas mais importantes.
Emissoras de rádio e televisão estão proibidas pelo Tribunal Superior Eleitoral de opinar.
Lobo em pele de cordeiro
Como se previa, começou a apelação. A campanha do não cometeu estelionato político ao vincular sua luta com a história da luta contra a ditadura militar. O presidente da Frente Parlamentar pelo Direito da Legítima Defesa, deputado federal Alberto Fraga, do PFL do Distrito Federal, coronel PM da reserva, é um nostálgico do golpe de 1964, que ele chama de contra-revolução.
Presente de gravadora
A Veja faz uma denúncia grave em artigo mal humorado contra o novo CD da cantora Maria Rita. Afirma que a gravadora Warner presenteou trinta jornalistas com mini iPods, aparelhos que tocam música no formato MP3. E que obteve com isso uma atitude mais simpática da imprensa.
NOTA inserida às 11h30: um leitor adverte que a Carta Capital deu o assunto dos iPods antes da Veja. Tem razão. Só que não foi uma semana antes, e sim três semanas antes (edição de 21 de setembro, com João Pedro Stedile na capa). Eis o texto, um box destacado dentro da reportagem A pressão e o alívio, de Pedro Alexandre Sanches:
“RELAÇÕES PERIGOSAS
A gravadora Warner dá iPods para jornalistas que entrevistam a cantora
Sob o pretexto de permitir a 30 profissionais brasileiros as melhores condições possíveis de audição do novo trabalho de Maria Rita, a Warner Music Brasil montou um kit de imprensa em que constavam, além do CD e do DVD com o making of da gravação, um aparelho iPod Shuffle, com as músicas do disco Segundo previamente carregadas.
O iPod, que armazena grande quantidade de música num aparelho minúsculo, custa US$ 130 na loja oficial da Apple. Como não é fabricado no Brasil, só pode ser comprado no País em versão importada, cujo preço oscila, em sites de busca, entre R$ 562 (na loja virtual Gravit) e R$ 1.190 (no site Submarino).
O diretor de marketing da gravadora, Marcelo Maia, assim explica a promoção: A Warner entrou em contato com a Apple para propor uma parceria num iPod customizado de Maria Rita. Não houve tempo operacional hábil para essa proposta se realizar. Cada uma foi então para o seu lado e a Warner optou por preparar um kit com a forma mais profissional para se escutar um disco com tão pouco tempo disponível antes das entrevistas entrou em contato com Apple propor parceria num iPod customizado de Maria Rita. Não houve tempo operacional hábil essa proposta se realizar. Cada uma foi então para o seu lado e a Warner optou por preparar um kit. Segundo Maia, a gravadora optou então por comprar os iPods, o que teria sido feito aqui no Brasil mesmo, por preços que ele disse não saber precisar.
Tem mais. Acaba de chegar a seguinte informação: um jornalista da Veja sabia que Pedro Alexandre Sanchez, da Carta Capital, havia devolvido o iPod, mas no texto “O mensalinho da filha de Elis” a revista não mencionou o fato.
Está no blog de Pedro Alexandre Sanchez
“Eu sei quem NÃO recebeu um IPod. Eu nem vi a cor. Como era, Pedro? Cinza ou branco como a cor da capa do disco da Maria Rita. E meu disco (abre aspas) devido a problemas com o correio(fecha aspas) chegou apenas às 14h30 de quinta-feira…
Sérgio Martins | 09.19.05 – 3:11 pm | # ‘
Ver em
http://pedroalexandresanches.blogspot.com/
2005/09/relaes-perigosas.html
Exército no São Francisco
É sintomático que nenhuma das grandes revistas desta semana tenha abordado a polêmica sobre a transposição das águas do Rio São Francisco. Na sexta-feira o Jornal Nacional apresentou uma reportagem francamente favorável ao projeto do governo, embora tivesse anunciado que adotaria isenção jornalística. [Nota: o texto da reportagem, diferentemente do que ocorre com os dos outros quatro capítulos da série, ainda não estava disponível às 14 horas de segunda-feira, 3 de outubro.]
A repórter Carla Ferreira, do jornal A Tarde, de Salvador, acompanha desde o primeiro dia em Cabrobó, Pernambuco, a greve de fome do bispo Dom Luiz Flávio Cappio contra o projeto . Em reportagem publicada hoje, ela narra as providências que o governo toma, com a ajuda do Exército, para tocar a obra. Ontem ela falou para o Observatório.
Carla:
– Aqui tem uma área que é chamada de Fazenda Tucuru. As terras dessa área, que fica na caatinga, já estão todas demarcadas. Você já vê trilhos marcados e caminhos definidos onde vai passar o canal, piquetes, rotas bem claras. Todas elas dentro de propriedades de agricultores daqui. E esses agricultores inclusive já foram procurados por uma equipe de engenheiros, que pegam o nome deles, fazem o cadastramento. Pegam o RG, a criação que têm, as plantações, e fazem eles assinar. E eles estão na esperança de que essas obras vão trazer água para eles. Lá nessa região eles têm que andar oito quilômetros para conseguir água.
O Exército está com um escritório aqui. É o Primeiro Grupamento. Vieram aqui com uma equipe de 50 pessoas. E vieram justamente com esta missão: de fazer os estudos preliminares. Estudar o terreno, o relevo, para saber como é que vão executar as obras futuramente. Eu estive com um capitão chamado capitão da Costa, que é o responsável por essa fase do projeto aqui, e ele deixou claro isto: que é o Exército, no caso o Ministério da Defesa, que vai ser responsável pelas duas etapas iniciais da obra.