Luciano:
O plenário da Câmara dos Deputados foi lavado ontem por uma súbita enxurrada. Mas era apenas um cano estourado.
Os jornais discutem hoje a criação de cargos no serviço público e Renan Calheiros desiste de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para exigir votação secreta no Conselho de Ética do Senado.
Alberto Dines traz uma informação sobre o Observatório da Imprensa na TV.
Alberto Dines:
O interesse público e o interesse do público desta vez são convergentes. A partir de hoje o Observatório da Imprensa volta a ser transmitido simultaneamente pelas duas grandes redes de TV Pública. Gerado e produzido pela TVE no Rio de Janeiro, o Observatório volta a ser oferecido aos telespectadores da TV Cultura em todo pais exatamente no mesmo horário: vinte e duas e quarenta. Ao vivo.
Luciano:
Agora Renan tem pressa
A conversa com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, convenceu o senador Renan Calheiros de que, quanto mais se debate, mais ele afunda.
Renan desistiu de pedir ao Supremo Tribunal um mandado de segurança para obrigar o Conselho de Ética a escolher o voto secreto no julgamento do pedido de processo contra ele. O presidente do Senado resolveu também acelerar os trâmites do processo para que o caso seja logo levado ao plenário.
Agora Renan tem pressa porque no plenário o voto é secreto. Ele percebeu que, quanto mais se arrasta o caso no Conselho de Ética, mais risco ele corre de perder votos no julgamento final.
Os jornais apostam que na votação de amanhã o Conselho de Ética vai aceitar a denúncia contra Renan por quebra do decoro parlamentar, pela contagem de dez a cinco.
Respingos no governo
A chamada ‘tropa de choque’ de Renan Calheiros tem bons motivos para desejar agora que o caso siga rapidamente para o plenário do Senado: as manobras do senador no Conselho de Ética apenas serviram para dar tempo para o surgimento de novas acusações. E pelo menos uma dessas novas acusações começa a respingar em amigos seus.
O último caso, revelado pela Folha de S.Paulo na sexta-feira, acaba de atingir o senador Romero Jucá, ex-ministro da Previdência. Jucá é acusado de ter favorecido o banco BMG no programa de crédito consignado. Jucá é o líder do governo no Senado.
Renan tanto se debateu que acabou ampliando o escândalo do qual era o ator principal. Os jornais só não viram ainda a razão pela qual o ministro da Defesa se empenhou pessoalmente para que ele parasse de obstruir o processo.
Outra vez Congonhas
O Globo fez um balanço do movimento ontem no aeroporto de Congonhas, afirmando que o caos aéreo não acabou, vinte dias depois da posse de Nelson Jobim no Ministério da Defesa. O núcleo da reportagem é um vôo da Gol, que foi transferido de Cumbica para Congonhas e acabou atrasando ainda mais por causa da chuva.
Chama atenção o fato de o jornal ter voltado a usar a palavra ‘caos’ para se referir a um incidente corrriqueiro nos aeroportos. E de relacionar o nome do ministro a um mero problema operacional.
Claramente, o Globo não se afina com Jobim.
Promotor assassino
O Conselho Nacional do Ministério Público decidiu, por unanimidade, suspender os efeitos do da medida do Ministério Público de São Paulo, que havia efetivado o promotor Thales Ferri Shoedl, que assassinou o jovem atleta Diego Mondanez em 2004.
Além de lhe garantir o cargo vitalício, o Ministério Público paulista havia assegurado ao promotor assassino que ele teria direito a foro privilegiado em seu julgamento.
O escândalo não passou em branco. Primeiro foi O Globo que chamou atenção para a decisão corporativista. Depois, as revistas Veja e Época deram repercussão ao caso.
O que a imprensa ainda não conseguiu explicar é a estranha corrente de solidariedade e apoio que o assassino conseguiu desencadear no Ministério Público e no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Assassino confesso
Thales Shoedl não é apenas ‘suspeito’ de assassinato, como dizem os jornais. Ele matou Mondanez e feriu outro jovem, Felipe Siqueira Cunha de Souza, descarregando doze tiros de sua pistola.
O promotor não negou a autoria, mas alegou legítima defesa.
O único jornal que o chama apropriadamente de promotor homicida é a Folha de S.Paulo.
O governo contrata
O Estado de S.Paulo e O Globo dão manchete sobre a proposta de criação de quase 29 mil cargos no serviço público federal, prevista no orçamento de 2008. A Folha ignorou completamente o assunto.
Uma leitura cuidadosa do noticiário mostra que tanto o Globo como o Estadão optaram por grandes números.
A leitura das reportagens revela que não são 56 mil novos servidores, como afirma o Globo no título. Parte desse total se refere à substituição de funcionários terceirizados por efetivos.
Além disso, outra parcela do total de vagas a serem preenchidas fica por conta da subsituição de aposentados.
O governo responde
As relações permanentemente tensas entre o governo e a imprensa levaram o presidente Lula a se antecipar aos jornais, procurando justificar as contratações.
Os jornais até registraram a preocupação do governo em corrigir o excesso de funcionários terceirizados que atuam em áreas estratégicas.
Os textos das reportagens do Globo e do Estado são esclarecedores, ao citar especialistas em adminitração pública que consideram corretas as contratações.
Mas as manchetes passam a impressão de que se trata apenas de mais uma gastança.