Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Brancaleone contra-ataca
>>Existe o hacker do bem?

Brancaleone contra-ataca

Começam a se inverter as posições no conflito entre o governo dos Estados Unidos e a organização WikiLeaks, fundada pelo australiano Julian Assange.


Do jornalista americano Jay Rosen, professor da Universidade de Nova York e crítico de mídia, ao presidente do Brasil, Lula da Silva, passando pelo jornal britânico The Guardian, cresce o movimento de apoio ao WikiLeaks, ao mesmo tempo em que surgem as primeiras análises sobre o papel da imprensa na fiscalização do poder.
 
A manifestação de Lula, convocando explicitamente a sociedade e principalmente a imprensa a defenderem Julian Assange em nome da liberdade de informação, ganhou destaque na imprensa internacional e citações nas primeiras páginas do Globo e do Estado de S.Paulo nesta sexta-feira.

A Folha de S.Paulo preferiu chamar atenção para a declaração da comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, que condenou a perseguição de empresas e governos ao líder do WikiLeaks.
 
Jay Rosen, conhecido por estimular o jornalismo cidadão e por denunciar conchavos na grande imprensa, distribuiu um video de 14 minutos (veja em) no qual afirma que a imprensa tradicional fracassou na tarefa de fiscalizar o poder e defender os valores democráticos.

Referindo-se diretamente à imprensa americana, Rosen observa que funcionários, militares e outras pessoas que têm acesso a informações sensíveis e importantes preferem entregá-las ao WikiLeaks porque não confiam nos meios tradicionais.
 
Os jornais brasileiros ainda não entraram no assunto.

Nesta sexta-feira, o que fazem alguns colunistas é defender o direito de Julian Assange de tocar seu negócio e, no máximo, discutir o uso do poder do Estado para perseguir e calar o criador do WikiLeaks.

As críticas de Jay Rosen podem claramente ser aplicadas no Brasil, onde a chamada grande imprensa há muito escolheu atuar como partido político, fazendo uma “fiscalização” tendenciosa e distorcida do poder e se omitindo diante de questões fundamentais.

Como já se afirmou neste Observatório, o fenômeno WikiLeaks pode estar inaugurando um novo tempo.

Contra todos os prognósticos, o exército de Brancaleone pode ganhar essa guerra.
 
Wikileaks
Existe o hacker do bem?

Alberto Dines:

– A ciber-guerra em torno do Wikileaks, como todas as guerras, está produzindo velozmente uma série de violentas contradições. A mais recente relaciona-se com a represália do grupo de ciber-ativistas denominado Anonymous contra as empresas que participam do cerco econômico ao site de Julian Assange, entre elas os cartões de crédito Visa e Mastercard.


Como reagirão os cinco jornalões globais associados ao Wikileaks (na verdade, quatro diários e um semanário, Der Spieguel) diante das represálias destes ativistas que durante algumas horas na quarta-feira prejudicaram milhares de usuários dos cartões que nada têm a ver com a história? Estes veículos serão solidários com uma ação ilegal, claramente ciber-terrorista?

A reação ontem dos dois jornais brasileiros que pegaram carona no trem do Wikileaks – a Folha de S. Paulo e O Globo –  denominando os ativistas pró-Julian Assenge de hackers, dá uma idéia do potencial de litígios e incoerências contidos nesta questão. O hacker é um ciberpirata, mas os defensores de Assange são cidadãos que defendem intransigentemente a liberdade de expressão tal como todos os veículos que participam da rede do Wikileaks.

No entanto, a própria façanha de Assange não teria alguma semelhança com as técnicas dos hackers? Seria ele um hacker do bem?

Este novelo de contradições também coloca em situação extremamente desconfortável as feministas impedidas de defender o novo paladino da liberdade de expressão que, ao mesmo tempo, está sendo acusado de abuso sexual na Suécia. Mas não apenas elas: o anarquismo de Assange, como já aconteceu outras vezes desde meados do século XIX quando Proudhon, Bakunin e Kropotkin puseram-se a questionar o conceito de Estado, colocou tudo de pernas para o ar.

Inclusive o formidável avanço propiciado pela Internet agora comprometido pelo perigoso coquetel composto de voluntarismo, narcisismo e oportunismo.

O presidente Lula conclamou seus assessores a manifestar-se contra a prisão de Julian Assange no Blog do Planalto. Não precisa ir tão longe: basta liberar os documentos secretos do governo sobre os desaparecidos durante o regime militar.