Candidata a qualquer coisa
A imprensa brasileira se encantou com a prostituta que derrubou o governador de Nova York.
Andreia Schwartz, que fez carreira como prostituta e também atuou como traficante de cocaína, colaborou com a polícia americana na investigação que conduziu à renúncia do governador Eliot Spitzer.
Em troca da colaboração, teve suspensa uma sentença de 18 meses por exploração de prostituição e lavagem de dinheiro, e ainda se livrou da possibilidade da prisão perpétua que lhe custaria a acusação de tráfico de drogas.
A boa moça deve estar de volta ao Brasil ainda neste fim de semana.
O Estado e a Folha de S.Paulo fizeram longos perfis da jovem.
Apenas o Globo se deteve um pouco para refletir com os leitores sobre o puritanismo americano.
Um dos textos, na página inteira dedicada pelo Globo ao escândalo, observa que se trata de mais um capítulo a revelar o puritanismo de um país ‘que é capaz de destituir um governador por ter utilizado os serviços de uma prostituta, mas que não cogita a destituição de um presidente por conta do erro de uma guerra que já resultou em quatro mil americanos mortos’.
Na mesma seção em que falam do caso, os jornais informam que o Pentágono publicou sem alarde um estudo no qual se confirma a inexistência de qualquer vínculo direto entre o ex-ditador iraquiano Sadam Hussein e a rede terrorista Al-Qaeda.
Os jornais adoraram o perfil empreendedor da brasileira, que saiu de Vila Velha, no Espírito Santo, para viver no Rio. Andreia trabalhou como vendedora de carros até decidir tentar a sorte em Nova York.
Atuou como dançarina de boate e prostituta até abrir seu próprio negócio, num apartamento avaliado em mais de um milhão de dólares.
O acordo feito com a promotoria americana fez com que perdesse o apartamento, próximo ao Central Park, e mais 300 mil dólares de sua conta bancária.
Andreia Schwartz chega ao Brasil com apenas 150 mil dólares do que ganhou em sua aventura.
Vai precisar de uma fonte de renda, mas não deve ter grandes preocupações.
Certamente haverá à sua espera no aeroporto um batalhão de repórteres.
A imprensa adora celebridades e aquela edificante revista da Editora Abril deve estar preparando o contrato para tê-la em sua capa.
Mais adiante, com as relações corretas, ela acaba virando apresentadora de televisão.
Com sorte, ganha um programa para adolescentes.
Depois disso, claro, o caminho estará pavimentado para Andreia chegar ao Congresso Nacional.
O Conselho sumiu
O Conselho de Comunicação Social, criado como órgão auxiliar do Congresso para garantir a participação da sociedade na elaboração de políticas para o setor, não foi consultado para a criação da nova TV pública.
Ele está simplesmente desaparecido.
Alberto Dines:
– Não bastasse o vexame oferecido pelo Senado ao votar a criação da TV Brasil, agora da Câmara Federal chega uma notícia igualmente estarrecedora. A deputada Luíza Erundina (do PSB paulista) apresentou um requerimento para saber por que razão o Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso, não conseguiu se reunir uma única vez ao longo do ano passado. E não apenas isso: o Conselho sequer conseguiu indicar os seus nove integrantes. Previsto na Constituição de 1988, o Conselho de Comunicação só conseguiu se materializar 14 anos depois. Funcionou plenamente apenas ao longo de dois anos, de 2002 a 2004, sob a presidência do jurista José Paulo Cavalcanti Filho.
No biênio seguinte foi colocado na geladeira por seu novo presidente, o acadêmico Arnaldo Niskier (escolhido expressamente para funcionar como seu coveiro) e em 2007 simplesmente evaporou-se. Isso significa que a tramitação da MP que criou a TV Pública nas duas casas do Congresso não contou com qualquer suporte de um conselho técnico criado pelos constituintes com a finalidade de promover a participação da sociedade nas questões relativas à comunicação social. Governo e a oposição, apesar das diferenças fisionômicas, parecem tomados pelo mesmo descaso.