Conspiração imaginária
Se houvesse conspiração das elites com a mídia para derrubar o governo do presidente Lula, a Rede Globo, não teria deixado de destacar, no Jornal Nacional de ontem, que o renunciante Valdemar Costa Neto é do partido do vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar. Será que foi esquecimento? O Globo desta terça-feira, 2 de agosto, informa que Costa Neto se reuniu com José Alencar em Belo Horizonte antes de se decidir pela manobra da renúncia.
Serra à vontade na Folha
O jornalista Janio de Freitas cobra hoje em sua coluna na Folha um dos questionamentos que deixaram de ser feitos pelo jornal ao prefeito José Serra, em entrevista publicada no domingo. Serra ficou à vontade para dizer que pode ter mudado de opinião quanto a deixar a prefeitura em 2006 para concorrer à presidência da República. Ele prometeu publicamente que não sairia.
Mídia encabrestada
O Observatório da Imprensa na televisão desta terça-feira trata da posse irregular de meios de comunicação por parlamentares. É um assunto grave que a mídia prefere abafar, como explica o Alberto Dines.
Dines:
− Veja como o pessoal das mãos sujas começou a debandar. Tudo indica que as sessões da Câmara passarão a ficar novamente movimentadas – mas não pelos debates. O quente agora é ver quem é que entrega o mandato antes de ser cassado. O Congresso, desmoralizado, começou o processo de autodepuração. Esta é a hora de atacar uma das maiores aberrações do nosso parlamento e que poucos têm a coragem de denunciar. São os congressistas que autorizam ou renovam concessões de rádio ou TV para eles mesmos ou seus parentes ou apaniguados. O sistema foi introduzido pelo então Ministro das Comunicações ACM quando Sarney era presidente e nunca mais foi interrompido. Ao contrário: hoje calcula-se em 30 ou 40% de parlamentares, sobretudo deputados que beneficiam-se do privilégio. É inconstitucional, é imoral. Não pode haver melhor momento para que a mídia verdadeiramente independente, de mãos limpas, comece este saneamento capaz de revolucionar o processo político deste país. É exatamente isto que vamos tratar logo mais à noite na edição do Observatório da Imprensa pela TV. Na rede da TVE às 10 e meia, na rede Cultura às 11.
Acordo, mas não conchavo
A cada dia aparecem no noticiário sinais da tentativa de se produzir um acordo político. De algum modo, em algum momento, ele será indispensável. O que se deve temer é um “conchavão”, mesmo tácito, que faça o povo de bobo. É o que pretende Valdemar Costa Neto, aplaudido por Severino Cavalcanti. A mídia não pode se deixar enganar.
Se a mídia falhar, o preço será alto. Um fator positivo é que hoje os cidadãos têm uma visão mais crítica da mídia.
A crise e o tempo de cada um
Os principais jornais caminham para dar um caderno inteiro só com as notícias da crise. A Folha de S. Paulo e o Estadão de hoje, por exemplo, estão perto disso. A crise não pára de se desdobrar e requer cada vez mais espaço. É um problema para os jornais e também para o leitor. À velocidade média de seis minutos por página, a leitura do noticiário da crise do mensalão na Folha consome nesta terça-feira entre 50 e 60 minutos. O mesmo se aplica ao Estadão. É para começar o dia. E fica sobrando todo o noticiário sobre os outros fatos do país e do mundo. Já se sabendo que a tarde será dedicada ao imperdível depoimento de José Dirceu no Congresso.
Assim a produtividade da economia é capaz de cair. Mas a consciência dos cidadãos vai aumentar, e com ela, a médio e longo prazo, a produtividade se elevará, porque a corrupção e a incompetência política e administrativa vão diminuir.
População paulista
O noticiário sobre as estimativas que apontaram o nascimento, no sábado passado, do quadragésimo milionésimo habitante do estado de São Paulo restringiu-se a comparações com outros estados brasileiros. Mas São Paulo é o maior estado do mundo fora da China, da Índia e do Paquistão. Excluídos esses países, chegam mais perto de São Paulo Jawa Barat, na Indonésia, 38 milhões de habitantes, e a Califórnia, 36 milhões. Os dados são do site world-gazetteer.com. O crescimento populacional de São Paulo foi um fenômeno de dimensões planetárias.