Contradições nas pesquisas
Na véspera do último debate antes do primeiro turno, a maré de escândalos parece recuar alguns quilômetros, como acontece antes do tsunami.
Na primeira página da edição desta quarta-feira, o Globo afirma em manchete que a candidata governista, em queda nas pesquisas, convoca os militantes do PT para a campanha nas ruas e informa que “tucanos já comemoram possível segundo turno”.
O Estado de S.Paulo também noticia a convocação dos militantes petistas mas afirma que a média das últimas pesquisas feitas pelo Datafolha, Ibope e Vox Populi ainda aponta uma provável vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno.
Há uma evidente contradição nas análises feitas pelo Estadão e pela Folha de S.Paulo quanto à tendência das intenções de voto.
Segundo a Folha, o Datafolha indica que Dilma Rousseff perdeu 6 milhões de votos na nova classe C, justamente a camada da população mais beneficiada pela política econômica do atual governo.
Os textos da Folha tendem a reforçar a tese de que vai haver segundo turno.
Para o Estadão, no entanto, a pesquisa do Ibope revela que a candidata governista sofreu um refluxo apenas nas áreas mais ricas do País, e que segue com vantagem suficiente para decidir a eleição já neste domingo.
Qual dos dois está certo?
Independentemente dessas contradições, os jornais voltam a destacar outros assuntos que não os escândalos na área federal.
A Folha, que já havia noticiado, na edição de domingo passado, que o governo Serra em São Paulo havia sofrido ressalvas no Tribunal de Contas, traz nesta quarta-feira números negativos sobre o governo anterior, do também tucano Geraldo Alckmin.
Segundo o jornal paulista, durante a gestão de Alckmin houve aumento das reprovações e queda no número de matrículas nas escolas públicas de ensino médio.
Embora possa parecer errática, a edição de um jornal sempre obedece a uma estratégia.
Não se deve esquecer que, mesmo tendo suas preferências políticas, declaradas ou dissimuladas, a imprensa precisa de vez em quando cuidar de sua reputação e tem que evitar a debandada de assinantes que não concordam com exageros da linha editorial.
Alguns leitores podem estranhar os recentes ataques da Folha, por exemplo, a políticos que na maior parte do tempo são claramente favorecidos pelo jornal.
Mas dificilmente essas reportagens negativas aparecem em manchete.
Manchete escandalosa, só para os desafetos.
Onde viceja a censura
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Está se tornando perigosamente comum a intervenção do Poder Judiciário sobre o que a imprensa pode ou não pode fazer.
Claro, há que se respeitar a legislação em vigor e os limites do Código Penal, mas o caldo entorna quando juízes optam pela qualificação de intenções e descambam para a censura prévia pura e simples.
O último episódio deu-se no Tocantins, onde, na sexta-feira passada, o desembargador Liberato Póvoa, do Tribunal Regional Eleitoral do estado, determinou, em caráter liminar, que 84 veículos de comunicação estavam impedidos de noticiar fatos relativos ao envolvimento do governador Carlos Gaguim em procedimento aberto pelo Ministério Público para apurar fraudes, calculadas em torno de 600 milhões de reais, em licitações supostamente dirigidas em onze prefeituras de Tocantins e de São Paulo. O caso já provocou oito prisões.
O governador Gaguim é candidato à reeleição pelo PMDB, e o pedido de censura prévia foi feito por seu comitê de campanha. O argumento usado pelo desembargador Póvoa foi o de que as informações sobre o caso foram obtidas de maneira ilícita, mediante o roubo de um computador no Ministério Público, ocorrido na quinta-feira passada. Mas de acordo com reportagem publicada ontem pelo jornal Estado de S.Paulo, a notícia já havia sido veiculada pelo diário cinco dias antes. A matéria ainda informa que a mulher e a sogra do desembargador são funcionárias do governo do estado.
A decisão do desembargador Póvoa não foi seguida pelos seus pares no TRE tocantinense. Por quatro votos a dois, tribunal derrubou anteontem a liminar, inclusive com o voto do seu presidente, que fez questão de se manifestar contra a medida mesmo depois de decidida a questão. Um ato simbólico, sem dúvida, mas insuficiente para apagar a gravidade do ato que o suscitou.