Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Corrupção e sangue
>>Colômbia, marcada pela violência

O PIB nas manchetes e em editoriais


Os jornais mais importantes de São Paulo e do Rio deram manchetes negativas, como se podia prever, sobre o crescimento do PIB em 2006 e nos quatro primeiros anos de governo Lula. Em parte, isso é uma reação à excessiva politização do assunto pelo próprio governo, que fez da comparação com o período de Fernando Henrique uma espécie de obsessão propagandística. Mas é curioso constatar que a Folha de S. Paulo e o Globo, que escreveram editoriais sobre o assunto, adotaram tom equilibrado. Ambos pedem reformas estruturais que são, no fundo, o grande desafio que os governos precisam enfrentar no Brasil.


Corrupção e sangue


Alberto Dines chama a atenção para o motivo do assassinato de três franceses em Copacabana: corrupção.


Dines:


– Há um dado no esfaqueamento do casal de ativistas franceses no Rio que não chamou a atenção dos jornais teoricamente melhor informados do que os demais veículos. O motivo do duplo assassinato foi um desfalque. O mentor do crime não teve nenhum escrúpulo em tirar a vida daqueles que o haviam beneficiado quando era menor de idade e vivia nas ruas. Encaminhado na vida, matriculado numa universidade, preferiu matar os protetores a ver o desfalque descoberto. A verdade é que a sociedade brasileira trata os corruptos com certa leniência, como ficou evidente no caso dos mensaleiros. A infração moral se não é abertamente tolerada não chega a provocar repúdios mais veementes. Desta vez, evidenciou-se que corrupção é crime como outro qualquer. Mãos sujas acabam quase sempre manchadas de sangue, é uma questão de tempo e de oportunidade. Tratar com brandura os crimes de colarinho branco cria padrões favoráveis a uma escalada que inevitavelmente levará a crimes sanguinários. A morte do casal de ativistas franceses não é fato isolado, nem acidental. É o flagrante da corrupção transformada em banho de sangue.


Descontrole do tráfego… nas redações


Existe confusão no aeroportos e bem longe deles, nas redações. O assunto é o mesmo, as fontes idem, mas os jornais não se entendem a respeito do controle aéreo. O Estadão diz que o novo comandante da Aeronáutica “defende controle aéreo militar”. No Valor, o brigadeiro Juniti Saito “aceita negociar desmilitarização do controle aéreo”. Na Folha, é o Ministério da Defesa que quer controle militar do tráfego aéreo. Quer também mais caças, mas esse é outro assunto.


Armas na América do Sul


A Folha dá hoje um panorama factual da corrida armamentista na América do Sul. Tem o mérito de ser o único jornal a apresentar a questão. Mas faltou explicar as motivações políticas e a história dos assuntos militares nos países que têm forças armadas relevantes, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela, não necessariamente nessa ordem cartográfica. Hoje, o país mais armado do continente é proporcionalmente a Colômbia. Ficou fora do quadro da Folha o Peru, que entrou em várias guerras com vizinhos nos séculos XIX e XX, a última delas com o Equador, há nove anos, interrompida com mediação brasileira.


Colômbia, marcada pela violência


O professor Antonio Carlos Peixoto diz em entrevista ao Observatório da Imprensa que a violência política na Colômbia é algo que marca o país desde a independência e entrou em nova espiral não há poucas décadas, com o advento da guerrilha das Farc e das quadrilhas de narcotraficantes, como geralmente supõe a mídia, mas bem antes.


Antonio Carlos:


– É muito pesada a violência na Colômbia. É o país mais violento da América Latina. O México teve lá o diabo da Revolução, mas, terminou a Revolução, as coisas mais ou menos se acertaram. Na Colômbia, não se acertaram nunca. Começou na independência, chegou ao ponto altíssimo no período que vai de 1948 a 1953. Na guerra civil não declarada, essa que vai de 1948 a 53, a estimativa é de 300 mil mortos. Morreu muito mais gente do que na guerra da Coréia.


Leia aqui a primeira parte da entrevista de Antonio Carlos Peixoto sobre a Colômbia.


Rádio Heliópolis


O Estadão noticia que a Rádio Heliópolis, fechada pela Polícia Federal em julho, retomará em breve suas transmissões. A Favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, tem 125 mil habitantes e sua rádio comunitária funcionou 14 anos antes de ser fechada.