Crescimento e sustentabilidade
A imprensa destaca, com unanimidade, o crescimento de 5,4% do Produto Interno Bruto do Brasil em 2007.
Em todos os jornais, o avanço da economia, puxado pelo grande crescimento do consumo e do investimento, é a grande manchete de hoje.
Contrariando os prognósticos de muitos especialistas, que previam um crescimento menor por conta da desvalorização do dólar, que viria a afetar a receita das exportações, o consumo interno se acelerou no último trimestre do ano passado, registrando uma expansão de 6,5%.
Paralelamente, os investimentos cresceram 13,4%, o que indica que tanto o governo como a iniciativa privada estão se movimentando.
Os jornais reconhecem o erro das previsões pessimistas que abrigaram nos últimos meses, e a Folha publica opinião de que o Brasil pode crescer mesmo sem reformas estruturais.
A notícia é boa, mas esconde dois vícios perigosos.
O primeiro se refere à ilusão de que a economia continuará crescendo porque os investimentos produtivos do ano passado garantem o suprimento da forte demanda interna.
Bons momentos da economia têm sido usados, historicamente, para adiar reformas modernizadoras e investimentos em infraestrutura.
Mas o mais preocupante no noticiário de hoje é que os jornais brasileiros seguem considerando o PIB como medida principal do desenvolvimento.
Já faz mais de cinco anos que se discute a validade desse indicador, pois ele mede apenas a produção da riqueza financeira e não leva em conta os custos sociais e ambientais desse crescimento.
Equivale a comemorar o fato de um fazendeiro ter ganho mais dinheiro em determinado ano porque derrubou e vendeu todas as àrvores de sua propriedade.
Comemorar o crescimento do PIB sem considerar os danos que esse crescimento provocou e sem citar uma linha sequer sobre os valores socioambientais que devem respaldar o avanço da economia é um retrato acabado da ignorância da imprensa sobre os paradigmas da sustentabilidade.
Fazer o PIB crescer é tarefa relativamente fácil e já aconteceu no período do ‘milagre econômico’: basta reduzir a fiscalização sobre o trabalho infantil, tolerar o trabalho escravo, esquecer as diferenças de renda e fechar os olhos para a destruição dos recursos naturais.
Se é um Brasil assim que queremos, tudo bem, pode começar o foguetório.
A imprensa não quer a TV pública
A TV pública nasce no Brasil sob a indiferença hostil da imprensa e sem o merecido debate no Congresso.
Alberto Dines:
– A MP que cria a TV Pública foi afinal aprovada no Senado, numa sessão melancólica, alta madrugada de quinta-feira. Os matutinos não tiveram tempo de enfiar a notícia em suas edições de ontem, as rádios que baseiam o seu noticiário nos jornais tiveram que ser discretas — inclusive porque são contra a TV Pública — e os portais de notícias na Internet que não dispõem de um corpo de repórteres próprios, exceto os blogs especializados, também primaram pela ausência. A criação da TV Pública no Brasil merecia uma sessão compatível com a sua importância. Erraram todos: a oposição, porque ignorou que existe outra rede pública, praticamente nos mesmos moldes da TV-Brasil, a Rede Cultura, financiada pelo governo do Estado de S. Paulo. Juntas em determinados projetos e programas poderiam estabelecer um alto padrão de qualidade. Errou o líder do governo no Senado que, por causa dos prazos, deixou de lado outra MP pedida pelo governo sob a alegação de ‘irrelevância’. Permitiu, assim, a votação da MP da TV Pública numa votação simbólica já que, em protesto, a bancada da oposição retirou-se do plenário. A criação de uma TV Publica ou uma TV de Interesse Público está sendo reclamada há pelo menos uma década por todos os que se preocupam com o baixo nível da TV privada. O texto aprovado tem furos, mas alguns deles poderiam ser corrigidos durante a tramitação, desde que a oposição entendesse a importância de uma rede pública de TV e percebesse que um dia ela será governo. O projeto não merecia tanto ressentimento, não merecia, sobretudo, este desfecho tão pouco edificante.