Crise anunciada nas polícias
O sociólogo Guaracy Mingardi alertou ontem (13) no Estadão que está em curso um duplo movimento que pode resultar em crise da segurança pública no país. Enquanto os governos estaduais diminuem gastos na área, policiais de diferentes estados se movimentam por aumentos salariais, estimulados pela proposta de emenda constitucional que equipara sua remuneração à da polícia do Distrito Federal, a mais bem paga do Brasil. A mídia dá apenas notícias fragmentadas sobre esse quadro.
Envelhecimento falseado
O jornalista Jorge Félix lança hoje em São Paulo o livro Viver muito: outras ideias sobre envelhecer bem no século XXI [e como isso afeta a economia e o seu futuro]. Desdobramento de uma tese de mestrado em Economia Política, o livro começa com crítica a uma imagem falsa da velhice criada em laboratório “por uma categoria de jornalistas que confunde o jornalismo com o talento da publicidade de transformar qualquer tema em boa notícia”. Jorge Félix falou ao Observatório da Imprensa:
Jorge Félix − Eu critico uma tendência do jornalismo, na busca por audiência, a sempre abordar o lado positivo do envelhecimento. As matérias são sempre sobre o envelhecimento bom. É difícil você ver num jornal ou numa revista uma foto, por exemplo, de um asilo público. Os asilos públicos dificilmente são noticiados.
O.I. − Só quando tem tragédia…
J.F. − Só quando tem tragédia, algum caso bombástico. Eu acho que o envelhecimento precisa ser abordado pela imprensa dos dois lados, não só do lado bom. Mas isso, infelizmente, nem sempre acontece.
Escolhas de Sofia
Tsunamis simultâneos, opções erradas
Alberto Dines:
– A mídia brasileira mal conseguia cobrir um tsunami, a onda de rebeliões no mundo árabe iniciada em meados de janeiro, e agora se afoga num segundo tsunami, este verdadeiro, que se seguiu ao maior terremoto já sofrido pelo Japão e às ameaças de uma calamidade nuclear. O pior é que tudo se juntou na véspera de um fim de semana, quando os nossos principais veículos impressos e televisivos mudam drasticamente o seu ritmo e sistema de trabalho. E, como se não bastasse, esta dramática convergência noticiosa ocorre numa editoria tradicionalmente subequipada em matéria de recursos humanos e espaço, a internacional. O tirano Kadafi está esmagando os rebeldes a ferro e fogo, a Liga Árabe reunida no Cairo declara que ele perdeu a sua legitimidade e pede ao Conselho de Segurança que adote uma zona de exclusão sobre o espaço aéreo da Líbia, o que significa algum tipo de intervenção militar estrangeira. É natural que a catástrofe japonesa absorva todas as atenções, por ter ocorrido há apenas quatro dias, pelo número de vítimas que tende a aumentar exponencialmente, pelos estragos, pela iminência de um pesadelo nuclear e pela presença no arquipélago de quase trezentos mil brasileiros de origem japonesa. O conflito líbio, porém, não pode ser secundarizado. São ainda imprevisíveis as dimensões dos desdobramentos do conflito líbio no plano humanitário, político e, sobretudo, no agravamento da crise econômica mundial. Mas serão inevitáveis. Nosso país está geograficamente longe dos acontecimentos, mas não está imune às suas consequências. É o preço que pagamos pela nossa importância no cenário internacional e, também, por nossa dependência dele. É incompreensível que a decisão da Liga Árabe contra Kadafi não tenha merecido grande destaque nas robustas edições dos jornalões de ontem, domingo. O jornalismo do século XXI produzido pelo mundo globalizado e para os leitores globalizados não pode ser prisioneiro das antigas e excludentes “escolhas de Sofia” e segmentado por critérios de um marketing ultrapassado.