Crise varou o torpor
O torpor carnavalesco começou a acabar ainda antes da festa, no fim de semana de 25 de fevereiro, quando os jornais retomaram a publicação de reportagens de peso sobre a crise de corrupção e outros assuntos nacionais relevantes.
Nos últimos dias adicionam-se novos ingredientes. A semana promete. Haverá votação de pedidos de cassação e novos lances da batalha da verticalização. E o ministro Antonio Palocci voltou a ficar encrencado.
Ratinho e jabá
É gravíssima a denúncia da Veja sobre o suposto esquema de corrupção do apresentador Ratinho a favor do presidente Lula e do PT. Confirmada ou não a acusação, bem que se poderia inaugurar uma temporada de apuração de favores desse tipo que ocorrem em anos eleitorais, nos mais diferentes veículos de comunicação.
Denúncias sem eco
Por sinal, as denúncias da Veja tiveram muito pouca repercussão. Só a TV Globo no sábado, e a Folha de domingo trataram delas. Ou os veículos não as consideram consistentes, ou não têm nada a acrescentar, ou não querem se limitar a repercutir reportagens de concorrente.
Espírito reativo
O Alberto Dines diz que a imprensa tem dificuldade para antecipar a pauta política.
Dines:
– Está todo mundo desnorteado. A decisão do TSE na última sexta que manteve a verticalização das coligações no próximo pleito deu um tremendo susto em todos os partidos, facções, diretórios, candidatos ostensivos e pré-candidatos. Surpresa geral, até mesmo para a imprensa. Mas a imprensa não deveria surpreender-se com uma reunião aberta, previamente anunciada, com pauta conhecida e assuntos no mínimo explosivos. O que aconteceu? O de sempre: nossa imprensa não tem disposição para antecipar, sabe apenas correr atrás. É muito mais fácil, já que o próprio TSE tem uma assessoria de comunicação destinada a divulgar as suas decisões. O placar de 5 a 2 no TSE foi expressivo demais para parecer inesperado. Os ministros da mais alta corte eleitoral manifestavam há algum tempo a opinião de que uma alteração nas regras do jogo só vale quando adotada no ano anterior. Só isso já indicava uma tendência para rejeitar a emenda constitucional que acabou com a verticalização. Mais um flagrante do jornalismo “reativo”. Um dia o leitor descobrirá que os jornais não são mais necessários.
Dinamarca vista da Suécia
O jornalista sueco Mikael Löfgren informa de Estocolmo que a Dinamarca enfrenta problemas sérios de racismo. Opina que o editor do Jylland Posten “navegou em ondas racistas ao publicar as charges de Maomé”.
O jornalista sueco diz que as reações violentas em países de maioria islâmica são inaceitáveis, “mais uma prova de como determinados acontecimentos podem ser usados com finalidade política em nosso mundo midiatizado”.
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Carnaval visto de Caracas
Veja, leitor, como a Telesur, emissora sediada em Caracas que pretende desenvolver uma nova estratégia de comunicação para a América Latina, noticiou em seu sistema de rádio a vitória da Vila Isabel, sem dizer que o desfile da escola foi financiado pela estatal venezuelana de petróleo:
Locutora da Telesur:
– Brasil. La escuela de samba Vila Isabel, por decisión unánime del jurado, obtuvo em primer lugar em los carnavales de Brasil. El jurado calificador evaluó la mejor batería, harmonía, tema, evolución de las carrozas, comissión de frente, fantasía e conjunto, entre otros aspectos. La escuela de samba Vila Isabel, que desarrolló el tema de la integración latino-americana em los carnavales de Rio de Janeiro, obtuvo 397,6 puntos. El segundo lugar fué ocupado por la escuela Grande Rio.
Policiais candidatos
O Globo publicou ontem reportagem sobre policiais civis e militares candidatos. Nem arranha dois dos principais aspectos da questão. Primeiro, como são financiadas essas campanhas. Segundo, a colaboração dos meios de comunicação, televisão e rádio à frente, para tornar conhecidos os candidatos. Se a TV Globo, por exemplo, quer ser isenta no processo eleitoral, deveria pôr a mão na consciência toda vez que entrevista o secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba, e o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembléia Legislativa. Pôr a mão na consciência significa: parar de favorecê-los.
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