Panorama em 30 de outubro
Ninguém pode adivinhar se alguma nova revelação tirará dos trilhos uma vitória que as pesquisas indicam ser hoje do presidente Lula. Mas, seja qual for o resultado, o panorama em 30 de outubro será preocupante. Quando um deputado com a qualificação de Antonio Carlos Biscaia diz que o dinheiro apreendido com petistas tem origem criminosa, tem-se uma bomba com pavio aceso. Cedo ou tarde, se não for desmontada, explode.
Crônica da truculência carlista
Alberto Dines anuncia que o Observatório da Imprensa na televisão tratará hoje de um dos episódios mais truculentos da trajetória do senador Antônio Carlos Magalhães, a perseguição contra o Jornal da Bahia.
Dines:
– O fim do carlismo na Bahia não foi muito destacado pela mídia na semana passada quando foram divulgados os resultados do primeiro turno. O PT, evidentemente, comemorou a vitória de Jacques Wagner, mas preferiu passar uma borracha no apoio que ACM deu a Lula em 2002 por causa da sua birra com José Serra. A maioria das grandes empresas de comunicação tem alguma dívida de gratidão com o senador baiano e muitos jornalistas, até dos mais importantes, têm um pacto de sangue com o caudilho baiano. É preciso não esquecer que ACM foi ministro das Comunicações no governo Sarney e generoso distribuidor de concessões de rádios e tevês para empresas amigas, além de outros favores. Não se falou também a respeito da mão de ferro de ACM sobre a imprensa baiana e ninguém lembrou a longa cruzada que ele moveu contra o Jornal da Bahia até a sua capitulação. Pois é exatamente esta história que o Observatório da Imprensa vai contar na noite de hoje com a presença de João Falcão, diretor do Jornal da Bahia, nos estúdios em Salvador. Às onze e quarenta na Rede Cultura e ao vivo, às dez e meia, na Rede da TV-E.
Espertezas contra a lógica
José Roberto Guzzo argumenta na revista Exame desta quinzena que o governo Lula e o PT promoveram uma curiosa inversão de valores. Em condições normais, o crime interessa a quem o pratica. Mas “a visão Lula-PT é outra: o crime só interessa aos adversários do criminoso. É daí que vem a posição sistemática do Planalto todas as vezes que acontece alguma coisa ruim: se alguém se beneficia com a divulgação de um crime praticado no governo – e nesses casos é inevitável que a oposição se beneficie –, condena-se o beneficiário”. E, adiante: “Nunca se admite que um delito cometido no governo esteja sendo divulgado porque aconteceu; seja qual for o caso, o atual governo diz que só se divulga o fato porque ele interessa à oposição, à mídia ou às elites em geral”.
Um ato falho
O ex-ministro Delfim Netto aparece saltitante em entrevista à IstoÉ Dinheiro desta semana. Aos 79 anos de idade, sem mandato pela primeira vez desde 1987 – trocou a velha companhia de Paulo Maluf pela de Orestes Quércia, e não deu certo –, Delfim faz uma espécie de hino ao governo Lula. Por puro entusiasmo, claro. A revista menciona a hipótese de Delfim ganhar um cargo no governo. “Nem me faça essa pergunta”, reage o ex-ministro.
Para quem gosta de combinações paradoxais, não ficaria mal um Delfim num segundo governo Lula, em companhia de outro derrotado nas urnas, Newton Cardoso, com o apoio de Fernando Collor no Senado e de Jáder Barbalho numa hipotética presidência da Câmara dos Deputados.
Mas isso tudo é especulação. Fato é uma frase que Delfim deixa escapar no final da entrevista. Um ato falho.
O repórter diz, no estilo “conspiração da mídia”: “O governo tem sido massacrado no campo da ética…”
Delfim responde:
“Com alguma razão, porque houve mesmo comportamentos éticos condenáveis [sic: se são “éticos”, por que seriam condenáveis?]. Mas”, prossegue Delfim, “isso não é muita surpresa para mim. A mistura de sindicato com política nunca deu certo”.
Delfim, certamente, não quis ofender Lula, ex-presidente de sindicato que disputa a quinta eleição presidencial.
O preço da prepotência
O repórter Raymundo Costa escreve hoje no jornal Valor que o debate sobre as estatais foi truncado no governo passado entre outras coisas “pela prepotência dos tucanos no governo, que empurraram seus projetos goela abaixo do país”. E lembra que quem falava contra era chamado por Fernando Henrique de “dinossauro”. A História sempre cobra.
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