Depois de Lula
Tem esse título a reportagem de capa da revista Época desta semana, que foi para as bancas e as mãos dos assinantes na véspera do primeiro turno das eleições.
Trata-se de um ambicioso levantamento das causas que, segundo a revista, sustentam a impressionante popularidade do presidente da República que encerra seu segundo mandato no dia 31 de dezembro.
A revista tenta analisar a personalidade de Lula da Silva, localiza cidadãos que veneram sua imagem, principalmente no Nordeste, e conclui que o ex-metalúrgico está entronizado entre os mitos da história política do Brasil, ao lado de Getúlio Vargas.
Época dá grande ênfase ao estilo Lula de governar e de negociar, mas concentra sua análise nas comparações entre indicadores econômicos dos dois governos petistas com relação aos dois governos anteriores, do PSDB.
A revista reconhece que as escolhas dos termos para comparação têm uma certa arbitrariedade, porque alguns dos indicadores apresentam diferentes graus de importância e de percepção por parte da opinião pública, e também porque muitos desses dados estão associados entre si, o que faz com que a melhora de um deles provoque automaticamente um melhor desempenho em outros.
A revista do grupo Globo também comete alguns erros na abordagem do assunto, por exemplo, quando afirma que Lula “soube surfar nas reformas feitas por seu antecessor – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – e teve a sabedoria de manter a política macroeconômica instituída no governo anterior”.
Em primeiro lugar, o verbo “surfar” induz a um entendimento errado e impreciso do tema tratado.
Em segundo lugar, ficou faltando detalhar a segunda afirmação, uma vez que muitos economistas têm destacado diferenças significativas entre as políticas macroeconômicas dos governos FHC e Lula.
De qualquer maneira, é preciso registrar que a reportagem de Época representa o primeiro reconhecimento, por parte da imprensa brasileira tradicional, de que a popularidade do presidente Lula da Silva tem raízes no amplo espectro de resultados do seu governo, e não apenas nos programas sociais de transferência de renda, como vem sendo repetido há quase oito anos.
A leitura cuidadosa da centena de indicadores publicados por Época revela que o legado de Lula, que será disputado a ferro e fogo neste segundo turno, com a imprensa tradicional toda de um lado só, é muito mais do que aquilo que vinha sendo repetido por jornais e revistas até agora
Observatório da Imprensa na TV
Jornais e revistas exaltam a realização do primeiro turno em plena estabilidade política e praticamente sem conflitos, observando que a democracia brasileira completa sua restauração em plena maioridade democrática.
São 21 anos de regime democrático e seis eleições para presidente depois da ditadura militar.
Segundo a unanimidade impressa e transmitida por rádio e televisão e pela internet, o País vive um fortalecimento das instituições como nunca antes em nossa história.
Mas deve-se celebrar como plenitude da democracia uma eleição sem debates programáticos, influenciada por preconceitos religiosos e turbinada por boatos?
O Observatório da Imprensa na TV vai examinar, nesta terça-feira, o papel da mídia na reta final destas eleições: a confiança exagerada nas pesquisas e a incapacidade de lê-las corretamente, o papel da internet e a leniência com relação ao Supremo Tribunal Federal, que deixou sub-judice alguns milhões de votos.
O Observatório vai discutir também a campanha em si, e o fato de a imprensa ter simplesmente, na maior parte do tempo, reproduzido declarações e factóides fabricados pelos marqueteiros, deixando de estimular o debate essencial sobre temas realmente relevantes.
Se os candidatos fugiram de compromissos e programas de governo, também cabe à imprensa a culpa por não haver colocado esses temas nas entrevistas e debates?
Sob o comando de Alberto Dines, os participantes serão convidados a falar também sobre a postura do STF, principalmente no caso da falta de decisão sobre a impugnação de candidatos enquadrados na Lei da Ficha Limpa, o que deixa em suspenso a votação para o Legislativo.
Nesta terça, a partir das 22 horas, ao vivo pela TV-Brasil em rede nacional. Em S. Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.