Drogas: não basta mostrar os pequenos falcões
As novidades jornalísticas são de duas categorias. Uma envolve de modo sério problemas profundos e o longo prazo. É o documentário Falcão, meninos do tráfico, de MV Bill e Celso Athayde, exibido ontem pelo Fantástico. Outra se projeta de modo menos consistente. É a estréia do blog da revista Época.
O documentário Falcão é mais importante. Na correria das redações desfalcadas é difícil produzir trabalhos meticulosos assim. O Fantástico marcou pontos, embora tenha sido um tanto raquítico o trabalho jornalístico da própria Rede Globo agregado à exibição do documentário, salvo sua edição.
Mas a grande pergunta é: quem mostrará a realidade dos grandões do tráfico de drogas e de armas, que não moram em favelas; da polícia; dos políticos que manipulam a questão; e, principalmente, de quem consome cocaína, maconha e outras drogas no Brasil?
Blog desastrado
A Época correu para lançar um blog na sexta-feira, véspera da circulação da edição desta semana. A grande informação era o dinheiro na conta do caseiro Francenildo. Pode ser que Nildo tenha sido manipulado pela oposição, ninguém apurou isso direito, a começar da Época, que primou pela irresponsabilidade e lançou a pecha sobre o caseiro.
O blog da Época, que poderia ter sido uma bela novidade, revelou-se um desastre jornalístico. Para começar, é um blog coletivo. Não um coletivo de blogs, como fazem este Observatório e o Globo Online, entre tantos outros sites e portais. O blog da Época publicou apenas três notas na sexta-feira. Parou por aí. O segundo comentário ao segundo tópico, exatamente o que causou toda a celeuma, é uma foto grotesca de um indivíduo virado de costas para a câmara, nu, e mais não digo. Colocada às cinco da manhã desta segunda-feira, 20 de março. Continuava no site às oito e quarenta da manhã de hoje. O blog da Época começou sem pai nem mãe.
Preferência por fofocas
Alberto Dines mostra como as revistas semanais ignoraram a crise institucional provocada pelo governo, por intermédio do senador Tião Viana, com a participação do Supremo Tribunal Federal.
Dines:
– Temos quatro semanários de circulação nacional e estes semanários, supõe-se, devem fazer o sumário dos acontecimentos da semana. Nenhum, no entanto, destacou na capa nem mencionou no miolo a crise institucional produzida na última quinta-feira, um dia antes do fechamento das edições. Foi um brutal choque entre os poderes e como raramente já se viu: o Chefe do Executivo, o Presidente Lula, determinou a um dos Vice-Presidentes do Senado, Tião Viana, que impetrasse um mandado de segurança para impedir que a CPI dos Bingos ouvisse o caseiro Francenildo a respeito do que se passou na embaixada da República de Ribeirão Preto em Brasília. E o STF acolheu o mandado de segurança sem pensar duas vezes. Significa que no Brasil existe uma democracia mas inexiste um dos fundamentos da democracia, o equilíbrio entre os poderes. A mídia impressa do fim de semana preferiu concentrar-se no que Francenildo — Nildo para os íntimos — contou e praticamente passou ao largo do abalo institucional. Acharam que é complicado demais para explicar aos leitores. O depoimento de Nildo seria mais picante. E mais uma vez a fofoca venceu.
A questão da legalidade
A imprensa não se ocupou de um aspecto relevante da ação militar recente no Rio: a legalidade. Segundo o Código de Processo Penal e o Código de Processo Penal Militar, um mandado de busca, como o que respaldou a ação do Exército, deve: “I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem”. A busca não pode, dentro do espírito da lei, ser feita de modo genérico, num bairro inteiro, ou em vários.
A mídia precisa mostrar que ação das Forças Armadas não pode prescindir nem de um trabalho de inteligência, nem da mais estrita legalidade.
Em campanha
No processo eleitoral, a imprensa se revela majoritariamente uma correia de transmissão dos interesses em confronto. Na Folha de hoje, o nome Serra aparece em três manchetes: páginas 1, 4, 5. Na página 7 o nome é Alckmin. Três revistas deram Alckmin na capa. A Veja deu Fernando Henrique. Maior isenção terá de ficar por conta do rádio e da televisão.
Estatais
A Petrobrás chega à manchete de hoje do Estadão. A notícia é calcada num relatório do Tribunal de Contas da União. A imprensa brasileira passa ao largo das atividades de empresas estatais citadas durante as apurações do mensalão. Por exemplo: Correios, Instituto de Resseguros do Brasil, Furnas, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Sebrae – que na prática é uma estatal –, fundos de pensão… A lista é longa.
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