Em busca de um tema
A imprensa brasileira abriu a semana com o radar ligado, em busca de um novo assunto.
Praticamente esgotado o caso Isabella Nardoni, não por falta de interesse, mas por falta de novas informações, restou o escândalo que envolve o jogador Ronaldo, devidamente explorado no final de semana, e tema do comentário de hoje de Alberto Dines.
De modo geral, a semana começa sem manchetes vibrantes na economia e na política.
Sem estrutura para realizar pesquisas de fôlego, os jornais parecem nadar na superfîcie dos fatos.
A exceção de hoje é a Folha de S.Paulo, que publica uma nova reportagem sobre o problema potencial da falta de energia para um esperado surto de desenvolvimento do Brasil.
Ao lembrar que o plano brasileiro de energia está atrasado em cerca de 20% do total do consumo nacional, que é o que fornece a hidrelétrica de Itaipu, a Folha mantém acesa a luz amarela em meio à euforia de agentes do mercado e representantes do governo.
Sem energia, o Brasil não poderá ir muito longe.
E, segundo o jornal, metade da capacidade contratada em todas as concessões para todos os tipos de geração, inclusive termoelétricas e usinas de energia eólica, ainda não tem prazo para entrar em operação.
Mas a imprensa só sabe falar de produção. Ignora completamente a eficiência energética, questão central nos países desenvolvidos.
O Estado de S.Paulo deixou a economia de lado e retomou o tema predileto da imprensa na política neste ano: o chamado dossiê dos cartões corporativos.
A ministra Dilma Rousseff será ouvida quarta-feira na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura do Senado, e espera-se o comparecimento em massa de senadores oposicionistas e representantes da imprensa.
Depois dessa aparição, a ministra ainda terá de enfrentar uma audiência pública convocada especificamente para tratar da questão dos gastos com cartões corporativos, mas a expectativa dos jornais poderá ser frustrada.
Durante as últimas semanas, o governo tratou de descriminalizar o vazamento de informações por meio do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix, que mandou ofício ao Senado afirmando que os dados contidos no chamado dossiê publicado pela imprensa não eram sigilosos.
Não havendo crime a ser investigado, a tendência é que o noticiário volte a ser inflado com declarações de todos os lados da política.
Até que um novo escândalo, ou mais uma tragédia, venha a movimentar as redações.
O fenômeno da imprensa
A imprensa brasileira agiu de formas muito distintas diante do episódio em que se envolveu o jogador de futebol Ronaldo, conhecido como o fenômeno.
De modo geral, os jornais trataram o tema com cuidado, evitando avançar sobre a reputação do jogador.
A exceção é a revista Veja.
Alberto Dines:
– Não foi só a imprensa popular que se interessou pelas confusões noturnas em que se envolveu Ronaldo, o fenômeno. O New York Times publicou ontem uma matéria e na semana passada, jornais europeus de qualidade como o espanhol El País e o italiano La República, também entraram no assunto procurando, como é óbvio, mantê-lo dentro dos seus paradigmas de decência e respeito. Com sua matéria de capa no último fim de semana, Veja seguiu uma linha diferente: preferiu liquidar a carreira do esportista ao comparar o penoso episódio com o triste fim de Maradona. Vamos com calma: por mais vexatórias que tenham sido as circunstâncias daquela aventura, o jogador continua contratado pelo Milan recuperando-se de uma cirurgia. Até prova em contrário, apesar do seu peso e da idade, Ronaldo ainda é um craque. O semanário da Abril estendeu ao Camisa Nove o mesmo tom raivoso e enfezado que tem adotado em matéria política nos últimos tempos. Não ofereceu o benefício da dúvida, simplesmente cedeu à tentação de derrubar o mito e espezinhá-lo. O ‘Fantástico’ de ontem à noite agiu corretamente e ofereceu ao desastrado uma oportunidade para explicar-se e desculpar-se. Convém não esquecer que uma imprensa linchadora cria um público linchador.