O crime, não as fotos
No dia 9 de setembro, o chamado ex-blog do prefeito Cesar Maia previa: “Se a eleição fosse hoje daria: Lula 40%. Demais candidatos, 36% sobre o eleitorado registrado. Diferença fácil de ser tirada!” Maia sempre calculou que as porcentagens sobre votantes são diferentes das porcentagens sobre o eleitorado registrado.
Dias depois veio o dossiegate. E o bombardeio do governo e do PT contra a imprensa. Absurdamente, o presidente-candidato Lula preferiu criticar a divulgação do crime, não o crime. Preferiu falar em “conteúdo do dossiê” e não dar uma palavra sobre a origem do dinheiro.
A exposição das fotos foi, sim, mais ou menos explorada nos diferentes veículos de comunicação, mas, como já disseram várias pessoas nos últimos dias, é preferível ter uma imprensa que comete erros do que ter uma imprensa manietada.
Emergem os grotões
Alberto Dines saúda a entrada na ribalta dos chamados grotões e diz que foi errada a estratégia governista de confrontar a imprensa.
Dines:
– Os grotões entraram para o universo mediático. Finalmente. As primeiras interpretações sugeridas pelo apertadíssimo placar eleitoral de ontem indicam que o Brasil Profundo (que parecia tão distanciado dos debates políticos) passou a fazer parte das audiências. O Brasil Profundo é sensível ao noticiário. Portanto, é possível imaginar que os chamados “grotões” não aprovaram a ausência do candidato Lula no debate da TV-Globo e que os grotões ficaram impressionados com as fotos da dinheirama do dossiê “IstoÉ-Vedoin”. Apesar da miséria, os grotões diminuem de tamanho, não sob o ponto de vista estatístico, mas nas suas percepções sobre o que é certo e o que é errado.
O alto comando petista apostou num conceito reacionário e autoritário de que os pobres não se preocupam com corrupção e que a questão moral se circunscreve às “elites”. Os números de ontem, por enquanto, sugerem o contrário. Foi errada a estratégia de confrontar a imprensa. Os fatos eram gritantes demais para serem descartados ou creditados apenas ao “golpismo” da mídia. A única melação e baixaria partiu de um segmento do PT em conluio com a revista IstoÉ. Agora, ao segundo turno e aos prometidos debates. Os grotões certamente vão adorar.
Agora, debater
Poucas vezes se terá criado na história das eleições brasileiras uma oportunidade tão preciosa para o debate quanto neste segundo turno que começa hoje. A mídia tem o dever de abrir-se para um exame mais produtivo das grandes questões. Foi isso que cobrou, às vésperas da votação, o ombudsman da Folha de S. Paulo. Em sua coluna de ontem, Marcelo Beraba criticou “a dificuldade de avaliar políticas públicas e de discutir programas de governo. [….] Em tese, a grande responsabilidade dos meios nestes momentos é a de fazer balanços conclusivos sobre a capacidade de gestão dos candidatos que ocupam ou ocuparam cargos executivos e abrir espaço à discussão dos grandes temas que afligem as pessoas ou emperram o país. [….] Em todas as eleições nos esforçamos, mas acabamos soterrados pelos dossiês, pelas agendas irrelevantes dos candidatos e pelas grosserias”.
A sedução das pesquisas
Os resultados da pesquisa de boca de urna do Ibope e do Datafolha foram iguais: Lula, 50%; Alckmin, 38%. A boca de urna foi feita dias depois do não comparecimento do presidente ao debate da Rede Globo. Com 100% das urnas apuradas, Lula teve 48,6% dos votos válidos e Alckmin teve 41,6%. Nos estados, houve diferenças colossais e mesmo erros grosseiros. Vide Rio Grande do Sul e Bahia.
Políticos mais experientes, ou mais sensatos, não se cansam de dizer que pesquisa é uma coisa e votação é outra, mas entra ano e sai ano a mídia continua seduzida pelo ritual de divulgação acrítica das pesquisas.
Acompanhantes de placas
Regina Casé conseguiu, numa reportagem para o Fantástico sobre acompanhantes de placas de propaganda eleitoral nas ruas, discutir, com bom humor e seriedade, um dos grandes temas ausentes do debate eleitoral, apesar da ladainha monocórdia de Cristovam Buarque: a tragédia da educação nacional.
Desastres aéreos
Repete-se nos desastres aéreos a incapacidade das empresas de agir à altura da angústia e da dor dos parentes das vítimas. A mídia faz uma crítica esporádica e indireta e depois esquece o assunto.
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